CAPA
PÁGINA 1
Nesta edição
PÁGINAS 4 E 5
Cartas e notas
PÁGINAS 6,7,8,9,10 E 11
Entrevista
PÁGINAS 12 E 13
Crônica
PÁGINAS 14, 15, 16 E 17
Dossiê Acupuntura: uma breve história
PÁGINA 18
Dossiê acupuntura relato de caso
PÁGINAS 19,20,21,22,23
Dossiê acupuntura: panorama
PÁGINAS 24, 25, 26 E 27
Dossiê acupuntura em foco
PÁGINAS 28 E 29
Dossie Acupuntura: Vanguarda
PÁGINAS 30 E 31
Tecnologia
PÁGINAS 32 E 33
Medicina no mundo
Páginas 34 e 35
Opinião
páginas 36,37 e 38
Hobby
PÁGINAS 39,40,41 E 42
Gourmet
PÁGINAS 43,44,45 E 46
Agenda Cultural
PÁGINA 47
Resenha
PÁGINA 48
Fotopoesia
GALERIA DE FOTOS
PÁGINA 47
Resenha
As boas mulheres da China
Por Paula Yume Sato Serzedello Corrêa*
O livro As boas mulheres da China foi escrito por Xinran, jornalista nascida em Pequim em 1958, e lançado em 2002, após a autora mudar-se para ensinar na Universidade de Londres. A obra aborda, de maneira biográfica, relatos de mulheres chinesas obtidos durante os oito anos em que apresentou o programa de rádio Palavras na brisa noturna. Em meio ao processo de abertura da China, apesar do controle midiático do Partido, as mulheres encontraram, nas ligações anônimas, a possibilidade de compartilharem suas penosas vivências ocorridas durante o período da Revolução Cultural, antes mantidas em segredo pela vergonha e repressão.
Através dessa abordagem inusitada, o programa acabou por ganhar notoriedade, retirando da ignorância social a opressão e abusos sofridos pelas mulheres e, indiretamente, expondo sua inegável influência pelo contexto político-cultural.
As vidas relatadas, envolvem e chocam o leitor ao mesmo tempo, pela maneira ambiguamente delicada e crua em que são mostradas. Desde a adolescente abusada diariamente pelo pai, e cuja única experiência de carinho foram os gentis toques das patas de uma mosca, passando pela mulher criada como menino, por um pai insatisfeito em ter uma filha, e sua descoberta do prazer sexual no homossexualismo feminino, até os relatos de uma mãe sofrendo diariamente com o suicídio da própria filha, incapaz de lidar com a memória de ter sido abusada sexualmente durante um terremoto, os relatos contados por Xinran são lidos sem respirar. O leitor, conduzido de maneira vívida e delicada através desse mundo até então desconhecido, vivencia, ao final da leitura, a sensação de alívio ao saber que o véu que encobre o sofrimento das chinesas é finalmente retirado.
Apesar de tratar de histórias ocorridas em cenários socioculturais distintos da nossa época, o livro trata, em última instância, de temas tão atuais que nos faz refletir sobre até que ponto evoluímos, assim como acerca da nossa responsabilidade em disseminar conhecimento sobre a submissão, a repressão e os abusos físico e psicológico contra as mulheres, criando uma sociedade de respeito e igualdade.
A força e resiliência das mulheres chinesas em As boas mulheres da China é inspiradora, e a própria autora é um exemplo da força feminina, ao conseguir, de maneira sábia e sutil, encontrar brechas nas rígidas políticas de abertura e controle da mídia e, assim, dar um passo importante na direção da mudança da percepção social feminina. Apesar de a competência e persistência de Xinran levarem ao seu crescimento profissional, a necessidade de digerir suas vivências a levam finalmente a sair da China, após ser impossibilitada de escrever o livro, tornando-se um best-seller mundial.
* Médica especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia e cirurgiã de Mohs
Acesse a versão digital da Ser Médico na íntegra.