CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Compromisso com a população e a classe médica
ENTREVISTA (pág. 4)
Ian Frazer
CRÔNICA (pág. 10)
Parece Mentira. Só que não...
CONJUNTURA (pág. 12)
"O oposto da paz é fanatismo e morte"
ESPECIAL (pág. 12)
Assistência à saúde atrás das grades
EM FOCO (pág. 22)
Lítio e neuroproteção
SINTONIA (pág. 27)
Pet terapia
GIRAMUNDO (pág. 30)
Arte, genética e ciência
PONTO COM (Pág. 32)
Mundo digital e tecnologia científica
HOBBY (pág. 34)
Adriano Segal
GOURMET (Pág. 38)
Tadeu Franconieri
CULTURA (pág. 42)
Aralquém Alcântara
CARTAS & NOTAS (pág. 47)
Cremesp reivindica mais investimentos na Saúde
FOTOPOESIA (pág. 48)
No circo
GALERIA DE FOTOS
HOBBY (pág. 34)
Adriano Segal
Divertindo-se como Elvis
“Medicina e hobby como cover têm em comum o prazer que a resposta positiva me causa. É muito bom notar que as pessoas se sentem melhor por sua causa”
Com peruca, costeleta, óculos escuros, blazer preto com uma enorme gola, camisa branca de cetim, lenço vermelho, cinto com uma grande fivela e muitos anéis, o médico Adriano Segal está irreconhecível. Mas, em um famoso bar da Lapa paulistana, ninguém está esperando uma consulta médica. As pessoas estão lá para ouvi-lo cantar como cover do Elvis Presley. No pequeno palco, ele e sua banda não frustram ninguém. Os rebolados podem não ser iguais – ele nem tenta imitá-los –, mas a voz soa com força, um timbre que lembra o cantor, e afinação. Para quem gosta de Elvis, é como uma breve viagem ao passado e, para o médico, uma grande diversão.
Tudo começou quando Segal tinha 15 anos e gostava de uma colega de escola que amava Elvis, que morreu nessa época. Para ter assunto nas conversas, o futuro psiquiatra começou a ouvir suas músicas e ler tudo sobre ele. Os papos não resultaram em namoro, mas deram início a uma grande empatia e admiração pelo “rei do rock”.
Ajudou-o, claro, o fato de adorar cantar desde criança. “Minha mãe dizia que eu cantava até no ônibus, desde pequeno”, lembra com bom humor. Ter o timbre parecido e uma extensão vocal que permite um repertório razoável também colaborou, assegura o médico. “Aprendi a cantar sozinho. Até tentei cursar um conservatório, mas acabei saindo”, revela.
A primeira apresentação, cantando a música Blue Suede Shoes, aconteceu quando Segal tinha 17 anos, em um festival do Colégio Bandeirantes, em São Paulo, onde estudava. “Acho que foi consequência de uma fantasia comum em adolescentes de querer ser um rock star. E, como gostava de cantar, foi meio automático”, comenta.
Gostou da experiência e, em 1983, aos 21 anos, formou sua primeira banda, como cover, a Coronel Parker Band, que hoje se chama Os Coronel Parker do Elvis. “Coronel” Tom Parker era o nome do empresário do cantor. Alguns integrantes da banda mudaram desde então, mas o guitarrista, Bruno Carlos Ricardi, e o baterista, Marco Antônio Prado, a compõem desde 1984 e 1985, respectivamente. O tecladista, Eduardo Andrade, e a tecladista, Karina Andrade, entraram em 2016.
“Na verdade, nem percebo que estou ‘fazendo cover’. Canto as músicas que gosto e fico bem feliz de ainda conseguir cantá-las com qualidade aceitável”, confessa. Para o médico, fazer shows é uma terapia. “É muito bom cantar o que você gosta. E notar que as pessoas também gostam é muito divertido”.
Perseverança
A maior dificuldade, no início, era encontrar lugar para tocar, recorda. “Como o repertório é restrito e não é um show do tipo tributo – os arranjos nem sempre são os originais, as roupas nem sempre são de Elvis etc. –, ficava mais complicado, mas a perseverança venceu”, ressalta o psiquiatra.
Desde então, o médico já fez centenas de shows – geralmente em festas, bares e aniversários. “Onde deixarem, a gente faz, até em churrascos”, brinca. “Atualmente, fazemos, em média, um ou dois shows por mês. Já fizemos mais, mas o cantor envelheceu”, ri. Em março último, fez três shows. Já os ensaios com a banda acontecem uma vez por mês, mas Segal diz que canta, enquanto dirige, todos os dias.
Dentre as melhores músicas do Elvis, cita Promised Land, composta por Chuck Berry, e Blue Hawaii, do filme “Feitiço Havaiano”. “As versões dele são incríveis, mas não diria que são as minhas preferidas. Gosto muito delas, mas há uma imensidão de músicas dele que são excepcionais para mim”. John Lennon, Bob Dylan, Jim Morrison e uma infinidade de outros músicos que foram influenciados por Elvis pensavam o mesmo.
A seleção das músicas para os shows obedecem, diz o médico, “à exigência de que ele ou alguém da banda goste e eu alcance o tom original”. A banda toca algumas músicas de outros cantores, “mas não são exatamente covers”. Suas principais influências musicais são “Elvis, Elvis Presley, Presley... Brincadeira. Além dele, blues, rock antigo e um pouquinho de country”.
Embora atue quase profissionalmente como cover, Segal classifica os shows como hobby. “Mas é um hobby do qual cuido bem”, afirma. Muitos de seus figurinos são comprados na loja B & K Alfaiates, de um alfaiate que costurou para o próprio cantor, na pequena cidade de Charlestown, no Estado de Indiana, nos Estados Unidos. Ele vai até lá uma vez por ano. “É muito interessante. Ele conta histórias de quando fazia as roupas do Elvis”. Os figurinos são caros, diz, “mas é bom porque ajuda a manter a forma, pois se eu engordar e perdê-los, o prejuízo vai ser grande”, diverte-se. Define como engraçada a maneira como se sente quando coloca as roupas do ‘Elvis dos anos 70’. “É muito icônico”, comenta, mas ressalva que quando se veste com jeans, camisa, blazer e botas, sente-se mais à vontade.
Além de cantar, Segal gosta de jogar tênis. “Jogo mal, mas jogo”, confessa. Em média, pratica quatro vezes por semana em uma academia no Butantã. “Também é muito desestressante”, observa.
Paixão pela Psiquiatria
A Medicina surgiu, inicialmente, como influência do tio paterno, o médico Solomon Segal, “e, depois, me apaixonei pela Psiquiatria”. Formou-se pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em 1990, e fez residência no Hospital das Clínicas e doutorado pelo Departamento de Psiquiatria, ambos também vinculados à FMUSP. Atualmente, trabalha no Serviço de Endocrinologia do ambulatório de Obesidade e Síndrome Metabólica, no HC da FMUSP; no Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Osvaldo Cruz; no Hospital Albert Einstein; e em consultório particular.
Casado, com filhos, ele brinca dizendo que a família, os amigos e os colegas curtem seu hobby “bem tranquilamente, desde que eu não os obrigue a ir em todas as apresentações”. Os pacientes também. “Eles acham pitoresco, são condescendentes e bonzinhos”, comenta, sempre com bom humor.
Embora sejam áreas diferentes, a prática da Medicina e os shows de música são, na opinião de Segal, distintas, mas conciliáveis. Em comum, assegura, “sinto o prazer que a resposta positiva me causa; é excelente notar que as pessoas se sentem melhor por sua causa”.
Colaborou: Ana Clara Scarabelli