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EDITORIAL
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ENTREVISTA
O cientista Luís Hildebrando Pereira da Silva é o convidado especial desta edição


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Pasquale Cipro Neto


POLÍTICA DE SAÚDE
Fátima Dinis Rigato


SINTONIA
Cássio Ruas de Moraes


DEBATE
Informações Médicas à Disposição de Todos


EM FOCO
Cultivando Hipócrates


HISTÓRIA DA MEDICINA
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LIVRO DE CABECEIRA
Trindade, o conflito da Irlanda em romance


CULTURA
Noel Rosa


TURISMO
Conheça Bonito, no extremo sul do Pantanal


CARTAS & NOTAS
Elogios, Agradecimentos e Bibliografia


POESIA
Mário Quintana


GALERIA DE FOTOS


Edição 23 - Abril/Maio/Junho de 2003

TURISMO

Conheça Bonito, no extremo sul do Pantanal

Bonito não, lindo!

Luciano Candisani*

Nascentes de águas transparentes, jardins submersos, cardumes de peixes raros, cavernas ornadas com espeleotemas, centenas de cachoeiras, rios e matas repletas de belos animais silvestres. Os cenários do Planalto da Bodoquena, no extremo Sul do Pantanal, estão entre os maiores espetáculos da natureza no Brasil. E o melhor de tudo, esse paraíso natural tem um turismo bem planejado e com respeito ao meio ambiente, a ponto de se tornar referência mundial em Ecoturismo.

A pequena cidade de Bonito é a porta de entrada para quem deseja conhecer as belezas da região da Bodoquena. Todas as atrações podem ser visitadas de carro a partir da cidade onde há uma rede hoteleira completa, com opções de hospedagem que vão de resorts a pousadas. A maior parte das belezas da região deriva do solo calcário. O mineral, que favoreceu a formação de rochas macias de cavernas e também é responsável pela incrível transparência das águas, pode ser encontrado facilmente em qualquer estrada ou leito de rio da região, sendo, inclusive, explorado por algumas empresas de mineração.

No rio Aquidabã, por exemplo, a quantidade da substância é grande o suficiente para que ela se precipite, formando uma capa sólida sobre galhos e folhas caídas no leito do rio. O calcário dissolvido nos rios provém de rochas formadas há cerca de 550 milhões de anos. Em alguns locais, a visibilidade subaquática chega a 50 ou 60 metros e os peixes parecem flutuar no ar, tal é a transparência do meio.

Um desses locais é a nascente do rio Olho D’água, na fazenda Rio da Prata, a cerca de meia hora do centro de Bonito. A água no local é tão transparente, que observar os volumosos cardumes de peixes a partir da margem já é uma atração. Mas é sob a superfície, com uma máscara de mergulho, que o espetáculo se completa. Sob a luz do sol que penetra através da água límpida, a luxuriante vegetação subaquática revela incríveis tons de verde. Entre esses jardins coloridos nadam cardumes de peixes de diversas formas e tamanhos, desde os minúsculos mato-grossos até os dourados com um metro de comprimento. Todos os peixes já se acostumaram à presença das pessoas. Nadar nessa nascente é como mergulhar em um imenso aquário.

Não é preciso ser expert em mergulho para apreciar os cenários subaquáticos das nascentes do rio Olho D’água. Para observar os peixes e plantas basta flutuar na superfície com um colete e colocar o rosto na água com a máscara de mergulho. Todos os grupos de visitantes são acompanhados por um ou mais guias especializados que fornecem o apoio necessário para os turistas menos familiarizados com o uso da máscara de mergulho. O equipamento é fornecido no local do passeio, que além da nascente ainda inclui a descida do rio. O uso de nadadeiras não é permitido para evitar que elas arranquem as plantas do fundo.

As belezas não estão apenas dentro da água. As matas ciliares que envolvem rios e nascentes abrigam uma diversificada fauna silvestre. Bandos de macacos-prego podem ser vistos com freqüência no alto das árvores em busca de frutos. Até os peixes já aprenderam a tirar proveito da presença desses mamíferos perto das nascentes. Estudos recentes do biólogo José Sabino, um especialista no ecossistema da região, mostraram que as piraputangas, espécie de peixe com um apetite voraz por frutos, aprenderam que, para cada figo silvestre que os desastrados macacos comem, três ou quatro vão parar no fundo do rio e são localizados por causa da incrível transparência da água. Assim, os cardumes de piraputangas passaram a perseguir o deslocamento dos macacos, esperando pela queda dos frutos. “É uma interação inédita entre peixes e mamíferos”, diz Sabino.

A mesmas águas que surgem através da rocha calcária das nascentes ajudaram a esculpir um emaranhado de cavernas e dutos subterrâneos na região. Muitas das cavernas da Bodoquena foram invadidas pela água após a sua formação, o que explica a existência, ali, dos mesmos espeleotemas das cavernas comuns (estalactites e estalagmites). Além de fósseis de animais extintos, as cavernas abrigam uma fauna bastante peculiar e de grande importância científica. O minúsculo crustáceo Poticoara brasiliensis é o mais famoso representante dessa fauna, e não sem motivo. Coletado pela primeira vez na Gruta do Lago Azul, o “camarãozinho”, até então desconhecido pela ciência, foi estudado por especialistas da Universidade de São Paulo. E, para surpresa geral, descobriram que o parente mais próximo do animal só é encontrado em cavernas da África Ocidental.

O curioso é que, do ponto de vista da evolução das espécies, essa peculiar distribuição geográfica só pode ser explicada aceitando-se que Brasil e África já foram ligados um dia. O Poticoara entrou, assim, para a lista de evidências a favor da teoria da deriva continental, tornando-se também um dos motivos para o fechamento da Gruta do Lago Azul para as atividades de mergulho espeleológico. Mas a parte emersa da gruta já é de encher os olhos e pode ser alcançada facilmente. Há trilhas bem demarcadas que levam até pontos no interior da gruta de onde se pode avistar em detalhes o contraste dos espeleotemas brancos com o incrível tom azul das águas da gruta.

Para os mais aventureiros, há passeios radicais como o mergulho em cavernas como a do abismo Anhumas, a da Lagoa Misteriosa ou na Gruta do Mimoso. Para visitar esses locais, é preciso ter certificado de mergulho autônomo (com cilindro de ar comprimido) e curso de especialização em mergulho no interior de cavernas, além de muita experiência.

Até o final do ano, o aeroporto de Bonito de-verá ser inaugurado, facilitando o acesso à região. Com o fluxo crescente de turismo, os ambientalistas estão trabalhando no aprimoramento das regras de visitação para que os delicados ambientes continuem a ser explorados de forma sustentável e para que Bonito se mantenha como uma referência em turismo ecológico e respeito à natureza.

Dicas

Como chegar
Bonito fica a 280 km de Campo Grande, capital que dispõe de aeroporto com vôos diários das principais empresas aéreas. Entre as duas cidades há serviço regular de ônibus ou vans previamente contratadas.
Quando visitar
Entre maio e agosto chove menos e as águas atingem transparência máxima.
O que comer
Os pratos à base de peixes da região, como o pintado na telha, são boas opções. As refeições caseiras servidas nas fazendas, como a Rio da Prata, por exemplo, também são uma boa pedida.

* Luciano Candisani é fotógrafo especializado em meio ambiente, trabalha para as revistas National Geographic, BBC Wild Life e é autor do livro fotográfico “Atol das Rocas”, Editora DBA, 2002, entre outros.


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