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Meningite, a epidemia que a ditadura não conseguiu esconder


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Grafiteiro e fotógrafa criam nova modalidade de arte, a fotografite


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Médica domina técnica de produção de papel japonês feito à mão


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Edição 33 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2005

CULTURA

Grafiteiro e fotógrafa criam nova modalidade de arte, a fotografite

Cultura por trás do lixo

Grafiteiro e fotógrafa criam nova
modalidade de arte, a fotografite

A fotografite é o trabalho mais recente do Projeto Quixote, de acolhimento à criança e adolescente em situação de risco social. Na rua Mauá, área central da capital paulista conhecida como “cracolândia”, funciona a mais nova célula do Quixote, o Moinho Luz, um ateliê de arte inaugurado em agosto de 2004, dirigido a usuários de drogas na região. “O Moinho Luz significa a volta às origens do Quixote, com o princípio de acolher, tratar e dar uma perspectiva de vida digna a crianças e jovens”, afirma o médico psiquiatra Auro Lesher, coordenador do projeto desde seu início, em 1996. “Aproximadamente 20 jovens dividem seu tempo entre as oficinas de cinema e grafite, em vez de fumar crack na rua” declara ele.

O ateliê da rua Mauá faz parte da Agência Quixote Spray Arte, na qual jovens em situação de risco aprendem a fazer e comercializar a arte do grafite. Nele trabalham médicos, psicólogos, enfermeiros, cineastas, fotógrafos, grafiteiros e estudantes de Medicina da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp, parceira e fundadora do Projeto Quixote. O Moinho Luz é desenvolvido também em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Paulo e a ONG norte-americana Brazilian Foundation.

A oficina oferece às crianças o contato com as técnicas de desenho e grafitagem. As aulas são dadas pelo grafiteiro Alê Anjo e a fotógrafa Stela Murgel – criadores dessa nova modalidade artística. Alê diz que procura passar não só a técnica do grafite aos alunos, mas toda a cultura hip-hop que a acompanha, englobando a música e a dança. O trabalho consiste em usar sprays, canetões, tinta e pincéis para grafitar as fotos em preto e branco ampliadas. Além do resultado estético, a fotografite é uma arte engajada. Seus precursorres querem chamar a atenção para um problema social. “É uma forma de alertar a sociedade para a ajuda que precisam essas crianças, que praticamente vivem na lata do lixo de São Paulo. Meu trabalho com Stela é virar essa lata de lixo em cima da sociedade”, avisa o grafiteiro. Já Stela queria mostrar a realidade sem ser agressiva. “Não consigo fazer fotos de um menino de rua usando drogas. O olhar, a forma de vestir diz mais do que a foto dele usando crack”, diz Stela. São fotos assim que ela entrega para as intervenções dos grafiteiros.

Conquista
Uma história real que Auro conta com orgulho é a de uma jovem de 20 anos, viciada em crack e grávida de cinco meses, que vagava pelas ruas da “cracolândia”. Além do uso diário de drogas, ela era ameaçada pela polícia e por traficantes. Desde que foi criado o ateliê da rua Mauá, a jovem vem freqüentando as aulas de cinema e grafite. “O caso me impressionou muito, fico feliz de ver que ela está progredindo. Mostrando coisas belas e simples, estamos conquistando essa jovem pela arte”, revela Auro.

O que é o Quixote?

Prestes a completar uma década, o Projeto Quixote está ligado ao Departamento de Psiquiatria da Unifesp. Propõe-se a resgatar a cidadania de crianças e adolescentes oferecendo oficinas lúdicas, atenção à família, atendimento médico e psicológico, apoio para o trabalho, núcleo pedagógico e jurídico. Coordenado por Auro Danny Lescher e sob a supervisão clínica de Darci Portolense, ganhou vários prêmios para projetos sociais. Desenvolve as atividades em parceria com órgãos como a Petrobrás, Prefeitura de São Paulo e empresas privadas. “O Quixote é completo. Ele dá assistência não só pelo lado clínico como auxilia o emocional das crianças”, destaca Darci.


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