CAPA
EDITORIAL
Destaque desta Edição: debate sobre a pós-graduação em Medicina no Brasil
ENTREVISTA
Dom Eduardo Uchôa, reitor do Colégio e da Faculdade de São Bento, é o convidado especial desta edição
CRÔNICA
José Feliciano Delfino Filho - Zezo - escreveu especialmente para esta edição
CONJUNTURA
Quanto custa a violência urbana para a Saúde?
ESPECIAL
Um RX de Roraima, Estado rico em biodiversidade e... conflitos
DEBATE
Em discussão, a missão da pós-graduação no Brasil
MÉDICO EM FOCO
Sady Ribeiro conta sua jornada nos Estados Unidos
LIVRO DE CABECEIRA
A guerra contra os fracos - Edwin Black
HOBBY DE MÉDICO
Roberto Caffaro apresenta sua invejável coleção de canetas raras
GOURMET
A arte de inventar receitas - Roberto Franco Morgulis
CULTURA
A arte de Belmiro de Almeida nas telas, desenhos e caricaturas
HISTÓRIA DA MEDICINA
120 anos do Serviço de Oftalmologia da Sta. Casa de Misericórdia de São Paulo
ACONTECE
Cow Parade: maior exposição de arte de rua do mundo
CARTAS & NOTAS
Elogios ao novo projeto gráfico da Revista
GALERIA DE FOTOS
ENTREVISTA
Dom Eduardo Uchôa, reitor do Colégio e da Faculdade de São Bento, é o convidado especial desta edição
Mosteiro na paulicéia
Dom Eduardo Uchôa fala do ambicioso projeto dos monges beneditinos para colocar o mosteiro de São Bento no cenário cultural e intelectual de São Paulo
Desde de sua reabertura, em dezembro de 2004, o Teatro do Mosteiro de São Bento, no centro da cidade de São Paulo, vem sediando concertos com os melhores grupos de música de câmara do mundo. Em 2002, já havia sido reaberta a Faculdade de Filosofia de São Bento, com um curso nos moldes clássicos que inclui aulas de grego e latim.
Esta é apenas uma parte de um projeto arrojado que a comunidade de monges beneditinos de São Paulo aos poucos põe em prática para fazer com que o mosteiro volte a ser um centro de cultura, filosofia e espiritualidade. A instituição religiosa abriga também o centenário Colégio de São Bento, de ensino fundamental e médio, em cuja lista de ex-alunos figura o sociólogo e historiador Sérgio Buarque de Holanda. Instalado em São Paulo desde 1598, chegou a funcionar com um único monge, mas até hoje resiste imponente sobre uma linha de metrô no Largo São Bento.
Na Basílica de Nossa Senhora da Assunção, anexa, os 40 monges que vivem no local entoam cantos gregorianos durante as missas diárias. Na ala à esquerda da Basílica, funciona uma delicatessen que vende – a preços que não estão ao alcance de qualquer cristão – pães e bolos feitos pelos monges, além de vinhos e licores. O mosteiro do século XXI “é uma mescla de tradição e inovação”, diz dom Carlos Eduardo Uchôa Fagundes Júnior (foto), 43 anos, reitor do Colégio e da Faculdade de São Bento, monge e artista plástico.
“Nossa presença na cidade de São Paulo é uma experiência contemporânea, aberta ao hoje, mas também deve ser um espaço humanizador que, de certa forma, contrarie a rapidez e a superficialidade das relações humanas”, destaca. Para a entrevista com dom Eduardo Uchôa, a equipe da Ser Médico contou com a colaboração do psiquiatra Mauro Gomes Aranha de Lima, integrante da Câmara Técnica de Saúde Mental do Cremesp e aluno do primeiro ano da Faculdade de Filosofia de São Bento. A presença humanizante dos mosteiros como pólos espirituais, culturais e educacionais é uma realidade antiga”
Ser Médico - Quando o mosteiro foi construído na cidade?
Dom Eduardo Uchôa - O mosteiro surgiu em 1598, neste ponto de São Paulo. O primeiro monge a chegar aqui foi frei Mauro Teixeira, provindo do Mosteiro da Bahia, que é o primeiro do Brasil e das Américas, fundado em 1581. Ele recebeu, da Câmara de São Paulo, essas terras que antes abrigaram a aldeia do cacique Tibiriçá – era um lugar de grande significação desde o começo. Primeiro construiu-se uma pequena ermida – um lugar de retiro –, que em 1635 se tornou uma abadia, um mosteiro independente, com sua comunidade de monges, seu abade e sua igreja. Depois, foi se expandindo aos poucos. Em 1650, a igreja e o mosteiro foram aumentados. Em 1762, a igreja foi reformada e ampliada. Essa construção atual surgiu por volta de 1912, quando o mosteiro foi praticamente reconstruído, com exceção da entrada do Colégio São Bento, construída de 1902 para 1903, quando iniciou a primeira turma de alunos.
Ser Médico - A vocação educacional do mosteiro começou com o Colégio São Bento?
Dom Eduardo - O colégio fazia parte de um grande projeto de dom Miguel Kruse, que assumiu como abade em 1900, quando São Paulo se tornava uma metrópole, tanto pela riqueza do café como pela industrialização. Ele teve a visão de que a cidade precisava de outra presença além da religiosa. Num conjunto de iniciativas de grande vulto, criou o Colégio São Bento para a educação da elite masculina. Simultaneamente, criou cursos à noite para meninos de baixa renda, que trabalhavam durante o dia.
Ser Médico - Até que ano o colégio foi eminentemente masculino?
Dom Eduardo - Até os anos 70 do século passado. Mas, em 1907, dom Miguel Kruse colaborou com as cônegas de Santo Agostinho para criar o Colégio Des Oiseaux, que se tornou de excelência feminino e fazia conjunto com o São Bento, que era masculino. Ele também incentivou as irmãs marcelinas a fundarem o Colégio Santa Marcelina, de educação feminina, e as irmãs de Santa Catarina, da Alemanha, especializadas na enfermagem e na administração de hospitais, no projeto de criação do Hospital Santa Catarina. Até os anos 80 tínhamos no hospital uma ala destinada ao tratamento de monges. Até hoje há uma efígie de dom Miguel Kruse na fachada do hospital. Dentro desse grande projeto, dom Miguel criou também a Faculdade de Filosofia de São Bento, em 1908. A Faculdade não tinha respaldo da legislação educacional brasileira e, a partir de 1911, passou a ser afiliada à Universidade de Louvain, na Bélgica. Todos os títulos, até o doutorado, eram reconhecidos pela universidade belga. Até então, não existia curso de Filosofia no Brasil, a não ser os voltados à preparação de seminaristas. A Faculdade de Filosofia de São Bento, a primeira do Brasil, rapidamente cresceu, transformando-se na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências de São Bento.
Ser Médico - Por que a faculdade foi fechada?
Dom Eduardo - Ela não foi fechada. Na década de 40, decidiu-se pela criação de uma Universidade Católica em São Paulo e, para isso, o pólo inicial foi a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências de São Bento. Em 1946, foi criada a Faculdade Paulista de Direito, especialmente para a nova universidade. Com essas duas unidades, surgiu a Pontifícia Universidade Católica, a PUC. Durante as primeiras décadas da PUC, a Faculdade de Filosofia continuou pertencendo ao mosteiro e sendo dirigida pelos monges. Em 1959, decidiu-se passar a faculdade para a Fundação São Paulo, que é a mantenedora da PUC. Mas aqui no mosteiro continuaram a funcionar cursos de filosofia de dois anos, voltados aos seminaristas e também abertos a leigos. A antiga Lei de Diretrizes e Bases permitia o aproveitamento de créditos desses cursos: o aluno podia cursar dois anos aqui e terminar a faculdade de Filosofia na PUC. Em 1996, isso não foi mais possível.
Ser Médico - Quando surgiu o interesse em reativar a Faculdade de Filosofia?
Dom Eduardo - Tínhamos um curso oficial no âmbito da Igreja, mas não do Ministério da Educação. Nosso curso, sendo aceito por institutos teológicos afiliados a universidades pontifícias de Roma, dava a possibilidade de um diploma reconhecido pelo Vaticano, pelo governo italiano, mas não pelo governo brasileiro. Isso porque é obrigatório, pela Santa Sé, fazer dois anos de filosofia para cumprir os quatro anos de teologia e obter um diploma reconhecido por Roma. Hoje a situação mudou, todos os institutos religiosos de teologia podem ser reconhecidos pelo Estado e eles estão se adequando às normas do MEC para conferir diplomas reconhecidos no Brasil. Nosso processo é um pouco diferente. A comunidade de monges tinha o desejo de transformar nosso instituto novamente numa faculdade de filosofia. Então, fui incumbido disso. Desde 2002 iniciamos os cursos de quatro anos, com um nível muito bom e com professores da PUC, da USP, da Unicamp.
Ser Médico - O processo de instalar a faculdade foi fácil?
Dom Eduardo - Há uma certa facilidade no sentido de que existe simpatia geral e que a seriedade de nosso trabalho é reconhecida. Professores, intelectuais, o meio cultural, todos se engajaram no projeto e vestem a camisa. Às vezes ficamos até surpresos com a solicitude que encontramos nas pessoas. Mesmo assim foi um processo difícil.
Ser Médico - O poder público está ajudando nesse processo?
Dom Eduardo - O poder público não ajuda em nada, só faz exigências. Não existe nenhum tipo de ajuda, ao contrário, temos um prédio tombado, temos de arcar com tudo e cumprir todas as exigências possíveis.
Ser Médico - E a iniciativa privada?
Dom Eduardo - Sim. Recentemente tivemos uma grande crise no colégio – que vinha já de algum tempo. A iniciativa privada se solidarizou com a situação de um colégio histórico, que é um marco referencial na história de São Paulo. Pelo colégio e pela faculdade passaram grandes figuras das artes, da literatura, da política e do Direito. Com isso, conseguimos fazer toda a restauração do prédio, da faculdade e do colégio, pensando nesse grande projeto pedagógico de educação integral da pessoa que passa pela formação intelectual, pela afetividade, sociabilidade, criatividade, liberdade e cidadania.
Ser Médico - A reforma do Teatro São Bento também é parte desse projeto?
Dom Eduardo - Temos esse cruzamento entre a formação intelectual e criativa, na qual o teatro, a poesia, a música e as artes plásticas entram de uma maneira mais forte. Como artista, não poderia deixar de colocar as coisas nesses termos. Dentro disso, o mosteiro sempre teve uma tradição musical e há muitos anos organizamos concertos. Então, seria importante dedicar uma parte dessa contribuição para a restauração e aprimoramento técnico do teatro, tornando-o profissional e aberto à cidade de São Paulo.
Ser Médico - No passado ele não era aberto?
Dom Eduardo - Ele já teve um papel restrito e também já foi um pouco aberto à cidade. No passado era voltado às atividades internas do colégio, mas teve um papel importante no panorama cultural da cidade. Oswald de Andrade, os irmãos Haroldo e Augusto Campos, Sérgio Cardoso, Raul Cortez passaram pelo teatro, em épocas diferentes. Mesmo não sendo mais aluno, Sérgio Cardoso acompanhava peças neste teatro. Nos anos 50 e 60, ele funcionou como uma espécie de cine clube – após a projeção, havia debate sobre filmes. Agora se tornou um teatro totalmente aberto à cidade. Com a restauração, recuperaram-se elementos arquitetônicos perdidos e dotamos o teatro de capacidade técnica. Todos os músicos que passam por aqui ficam impressionados com a acústica perfeita para música de câmara. Temos duas séries de concertos, uma internacional e outra nacional, com grupos de altíssima qualidade. Um dos últimos concertos internacionais foi da Academy of Saint Martin in the Fields, considerada por muitos como a melhor orquestra de câmara do mundo.
Ser Médico: O sr. se envolve na preparação da programação de concertos?
Dom Eduardo: Sim, mas há um grupo de pessoas que nos ajuda. Quem coordena a parte musical, embora com a nossa participação, é o pianista Antonio Ribeiro, com ajuda de sua esposa, a violinista Maria Fernanda Krug. Os dois são músicos de nível internacional. Na parte teatral, que iremos iniciar em breve, contamos com a ajuda de Mário Martini, diretor geral da Cult Empreendimentos – uma empresa que administra vários teatros da cidade, inclusive o nosso. Ela cuida da venda de ingressos, agendamento dos espetáculos e das temporadas. O teatro São Bento terá pelo menos três ou quatro temporadas por ano de peças teatrais, de qualidade e integradas à nossa proposta cultural e educacional.
Ser Médico - Como essa proposta cultural se integra à educacional?
Dom Eduardo - Todo o projeto está ligado à Faculdade, porque fomos criando vários núcleos de estudos com finalidade dupla. Do ponto de vista interno, a finalidade é fomentar a pesquisa. Do ponto de vista externo, é trabalhar para a formação da cidadania. Nesses núcleos atuam grupos de pesquisa, de eventos e de produções, que são ligados à filosofia, história. artes e pedagogia. Nossa intenção é fazer uma ponte com a produção artística, que pode ser por meio de concertos, peças teatrais, exposições, livros etc. Alguns grupos musicais já ensaiaram aqui e têm o teatro como ponto de referência. O produto final não é só o concerto, mas a vivência que se faz com os alunos que freqüentam os ensaios abertos, a discussão com os músicos e os cursos de extensão ligados à estética, à história.
Ser Médico - Dentro da disciplina de Filosofia Grega do curso de Filosofia, há também a idéia de montar grupos para representar os textos gregos?
Dom Eduardo - Isso também. Temos realizado não só o teatro dos alunos, mas o profissional. Estamos fazendo isso em vários níveis. Na música, por exemplo, o Grupo Camena de música antiga, liderado pelo músico Ibaney Chasin, que tem formação em filosofia e história, deu um curso de extensão sobre o humanismo na obra de Monteverdi e Shakespeare. Esse curso culminou num concerto de Monteverdi. Ele tem um grupo que trabalha e ensaia aqui continuamente. Os ensaios são abertos. Já fizemos também masterclasses, nas quais músicos de nível internacional deram cursos, além de se apresentar em concertos. É esse tipo de ponte que estamos construindo, num projeto que integra desde a masterclass com profissionais de alto nível e destinada a um público com especialização musical, até cursos para o público leigo, abertos a grupos de jovens e crianças de periferia. Tivemos uma experiência piloto de ateliê de patrimônio. Preparamos monitores com formação em história e arte que acompanhavam crianças da periferia numa visita ao centro de São Paulo, ao mosteiro, à basílica, ao colégio etc. Depois elas ficavam uma semana refletindo sobre essa experiência, participando de ateliês de arte, trabalhando com várias técnicas, vitrais, pintura, escultura etc. Essa criança – que em geral está desenraizada, que nunca veio ao centro ou teve qualquer contato com a história de sua cidade, provavelmente é filha de migrantes que foram desenraizados – tem uma possibilidade de acesso à cidadania e de identidade cultural. “Oswald de Andrade, os irmãos Haroldo e Augusto Campos, Sérgio Cardoso e Raul Cortez passaram pelo teatro, em épocas diferentes”.
Ser Médico - Quais são as ações que faltam para completar esse projeto?
Dom Eduardo - A partir do próximo ano vamos abrir cursos de pós-graduação e o Instituto Cultural São Bento. A sede do instituto estará localizada em uma casa histórica, de 1878, que temos na rua Florêncio de Abreu. Já fizemos algumas reformas e, agora, conseguimos patrocínio para concluir a restauração. No local vamos ter vários espaços: museológico, para conferência, de arquivo de multimídia, ateliês etc. Aí, então, poderemos fechar esse círculo que vai desde a reflexão mais teórica até a produção cultural em vários níveis.
Ser Médico - De tudo o que já foi feito desse projeto, o sr. teve que abrir mão de algo no caminho?
Dom Eduardo - Existe uma linha de conduta e um objetivo geral, mas temos de ir nos adequando sem querer impor o nosso tempo e estar aberto à ação de Deus, que sempre fecunda nossa história. Então, vão aparecendo pessoas, recursos e possibilidades. As pessoas querem ser generosas e criativas e a gente precisa articular esse potencial individual num projeto coletivo. O que faço nesta sala o tempo todo é receber pessoas, algumas têm propostas, outras não. Então, vou puxando o fiozinho de um lado e de outro, dando um nozinho e a coisa vai acontecendo. Não tenho me prendido ao tempo, algumas coisas andam devagar e outras, depressa. Temos uma linha mestra, mas as coisas vão acontecendo com certa espontaneidade.
Ser Médico - Existe um tempo que permeia a contem-poraneidade e outro mais profundo, que não se vê, mas que deve ser respeitado, no sentido de preservar aquisições da humanidade que levaram séculos para acontecer. O papel desse pólo cultural em que está se constituindo o mosteiro, tem alguma idéia por trás, no sentido de fazer valer determinados valores que têm um tempo mais lento?
Dom Eduardo - Na vida monástica trabalhamos com esses vários tempos, com a temporalidade complexa e espessa, porque a contemplação se abre à presença de Deus, esse absoluto que é tão próximo de nós, habita o nosso coração e que é, ao mesmo tempo, o totalmente outro, que nos escapa completamente. Daí o fato de Deus ser o criador, não o criador do momento inicial, mas o criador donovo, do contínuo. O centro da vida monástica é a experiência de Deus. Os mosteiros lidam com tempos históricos longos. O nosso mosteiro está aqui há mais de 400 anos, a Ordem de São Bento tem mais de 1.500 anos e nosso estilo de vida monástica mais de 1.800 anos na forma cristã, mas já existia muito antes disso. Isso tudo gera uma sabedoria de vida. Essa presença humanizante dos mosteiros como pólos espirirtuais, culturais e educacionais é uma realidade antiga. Por isso, os mosteiros foram responsáveis pela preservação da cultura na Europa, após a queda do Império Romano. A cultura do Ocidente praticamente migrou para os mosteiros, lá sendo conservada e desenvolvida. Nessa atuação, se dá uma ligação muito fecunda entre o eterno e o mutável. Esse exercício se contrapõe ao imediatismo e à fragmentação do saber. Esse mesmo papel eu vejo na minha obra, como artista contemporâneo. Ela se faz contemporânea justamente porque busca recolocar ou fazer um questionamento sobre a nossa posição no mundo e exigir do espectador um olhar lento sobre coisas que vão acontecendo e estão sendo descobertas. Existe um processo existencial que nos faz repensar a nossa colocação no mundo. Nossa proposta é essa integração entre as várias instâncias, num grande espaço de convivência. Mais do qualquer coisa é a qualidade da relação que se coloca.
Ser Médico - Qual é o significado da escolha do nome Bento pelo novo Papa?
Dom Eduardo - São Bento é o patrono da Europa. Os beneditinos foram muito importantes para a manutenção da cultura da Europa, para a integração entre a cultura espiritual e a cultura no sentido mais social do termo. É uma questão de evangelização da cultura e reevangelização da Europa. Então, é uma posição de diálogo e, ao mesmo tempo, de colocação da fé. São Bento é um monge e a teologia monástica é baseada na experiência. O homem contemporâneo exige uma fé baseada na experiência de Deus. Essa experiência é requerida hoje porque não temos mais aquela comunidade cristã por princípios ou definição. A pessoa nascia no lar cristão, já tinha uma vivência socialmente chancelada dentro daqueles padrões e seguia um comportamento quase que por inércia. Hoje não, as pessoas questionam, não existe mais essa força social/cultural que obriga a determinados comportamentos. Então o que se pede é uma experiência genuína. Ele sinaliza a relação entre a fé e a cultura e a fé baseada na experiência.
Dom Carlos Eduardo Uchôa Fagundes Júnior é doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro “O beijo da História: Picasso como emblema da contemporaneidade”, Editora 34, 1996, entre outros.
SALVO PELA REPÚBLICA
Não fosse o advento da Proclamação da República, o Mosteiro de São Bento talvez tivesse deixado de existir. O Brasil Império herdou de Portugal o sistema de padroado, no qual a Coroa tinha ascendência sobre o clero secular da Igreja Católica, que era pago pelo reino e que, por sua vez, indicava vigários, párocos e bispos. Mas ela não tinha a mesma ascendência sobre as ordens religiosas, como a beneditina, jesuíta, carmelita, capuchinha, mercedária etc. A independência das ordens incomodava a Coroa. No século XVII, o reinado de Portugal precisava se reerguer da decadência que se encontrava diante de outras potências européias e nomeou como primeiro-ministro o Marquês de Pombal. Ele executou uma ampla reforma no Reino, que incluiu a expulsão de todos os jesuítas de Portugal e das colônias, além do confisco de suas terras. Também fechou os noviciados das demais ordens – que é a primeira etapa para o ingresso na vida religiosa. No Brasil independente, após várias oscilações dessa política, em 1855 os noviciados foram definitivamente fechados. Com isso, todas as ordens antigas começaram a decrescer e envelhecer. Em 1889, só havia 19 monges no Brasil e apenas um ainda vivia no Mosteiro de São Bento, em São Paulo. Por essa ocasião, o Estado pensava em expropriar e dar outro uso ao conjunto. Com o advento da República, a Congregação Beneditina Brasileira solicitou ao papa Leão XIII que chamasse monges da Alemanha, Áustria e Bélgica para repovoar os mosteiros brasileiros.
PROGRAMAÇÃO 2005
Concertos internacionais de música de câmara
18 de Outubro
Solistas de Câmara de Salzburgo - Áustria
Diretor artístico e Spalla: Lavard Skou - Larsen
08 de Novembro
O trio holandês - Holanda
Rudolf Koelman (violino), Godfried Hoogeveen (violoncelo),
Frédéric Meinders (piano)
20 de Dezembro
Coro de Câmara de Praga – República Tcheca
Preço médio do ingresso: R$ 120 reais