CAPA
EDITORIAL (JC pág. 2)
Escolas médicas: é preciso suspender, temporariamente, a abertura de novas e estruturar as já existentes
ENTREVISTA (JC pág. 3)
Entrevista exclusiva com o ministro da Saúde sobre o PAC da Saúde e outros temas de interesse para a classe médica
ATIVIDADES (JC pág. 4)
Destaque especial para a realização do Seminário Periculosidade e Transtorno de Personalidade, dias 29/03 e 05/04
ATUALIZAÇÃO (JC pág. 5)
Programa de Educação Médica Continuada tem agenda movimentada na capital e no interior
ENSINO MÉDICO (JC pág. 6)
Cursos de Medicina: nova regulamentação deve passar por votação na Câmara dos Deputados
SALÁRIOS (JC pág. 7)
O levantamento do Cremesp sobre a (péssima) remuneração dos médicos no Estado continua...
ESPECIAL (JC pág. 8)
Acompanhe uma síntese das conclusões de pesquisa inédita do Cremesp sobre as especialidades médicas no Estado
ARTIGO (JC pág. 10)
A atenção ao portador de doença grave, aguda ou crônica, na visão de dois experts no tema
GERAL 1 (JC pág. 11)
Pesquisa realizada pela Uniad traz dados estarrecedores sobre embriaguez no trânsito das cidades e nas estradas
INDÚSTRIA (JC pág. 12)
Médicos e Indústria Farmacêutica discutem a relação, que passa por um período de amadurecimento...
GERAL 2 (JC pág. 13)
Conheça as novas resoluções do Conselho Federal de Medicina que beneficiam médicos e a população
ALERTA ÉTICO (JC pág. 14)
Laqueadura: acompanhe e esclareça algumas dúvidas, comuns aos médicos, sobre a realização do procedimento
GERAL 3 (JC pág. 15)
Entre as atividades realizadas pelo Cremesp neste mês, merece destaque a fiscalização do HSPE, em parceria com o Ministério Público Estadual
HISTÓRIA (JC pág. 16)
Hospital São Luiz Gonzaga e Hospital Padre Bento: a evolução histórica e marcante destes leprosários, hoje hospitais gerais
GALERIA DE FOTOS
ESPECIAL (JC pág. 8)
Acompanhe uma síntese das conclusões de pesquisa inédita do Cremesp sobre as especialidades médicas no Estado
CREMESP faz pesquisa inédita sobre
especialidades médicas
Dos 92.580 médicos em atividade no Estado de São Paulo,
53% têm um ou mais títulos de especialista
O levantamento sobre especialidades médicas no Estado de São Paulo foi elaborado pelo Centro de Dados do Cremesp, com base em três fontes: o cadastro dos médicos inscritos no Cremesp, as informações das sociedades de especialidades médicas de São Paulo; e os dados da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), conforme registros enviados ao Conselho Federal de Medicina (CFM).
Cruzando esses três bancos de dados, chegou-se à informação de que 53% dentre 92.580 registrados no Cremesp têm um ou mais títulos de especialista. Os outros 47% – ou quase a metade do contingente de médicos paulistas – não têm título de especialista, apesar de, na prática, muitos deles exercerem uma ou mais especialidades médicas.
São 53 as especialidades médicas oficialmente reconhecidas conjuntamente pela Associação Médica Brasileira (AMB), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM). O banco de dados do Cremesp, construído a partir dos registros no próprio Conselho, de informações das sociedades de especialidades e da Residência Médica, revela que há 49.065 médicos especialistas em 53.899 citações diferentes de especialidades. A diferença de 4.834 entre um número e outro indica que parte dos médicos tem título em mais de uma especialidade. Na média, cada profissional tem 1,1 especialidade.
O levantamento mostra que Ginecologia e Obstetrícia, com 15,6% dos profissionais, é a especialidade com maior número de registros. Segue a Pediatria, com 11,7%; a Cirurgia Geral, 7,1%; a Clínica Médica, com 6,8%; e a Cardiologia, com 6,5% dos especialistas. As duas primeiras especialidades reúnem 27,3%, ou mais de um quarto de todos os especialistas.
Considerando as primeiras cinco especialidades, o total sobe para 47,7%. Na outra ponta, entre as especialidades com menor número de profissionais com título, estão a Cirurgia da Mão, 22 médicos; Genética Médica, 24; Medicina Esportiva, 34; Medicina Legal, com 35 profissionais; Mastologia, 46; e Endoscopia, 72. Há 15 especialidades com menos de 150 profissionais com título em cada uma. E as dez “menores especialidades” reúnem, juntas, 575 profissionais, ou 1,07% de todos os títulos de especialidades registrados.
A Angiologia e a Cirurgia Vascular, embora sejam duas especialidades distintas, oficialmente reconhecidas, foram agrupadas no banco de dados do Cremesp. Juntas, somam 234 especialistas titulados. Por isso, o levantamento do Cremesp conta com 52 especialidades, enquanto a relação oficial do CFM traz 53 especialidades.
Homens são maioria em 39 especialidades
Médicas e médicos praticamente empatam percentualmente quando se trata de ter ou não ter título de especialidade: 52,6% delas são especialistas com registro, contra 53,2% dos homens – são 35.511 mulheres e 57.069 homens titulados. A média de especialidade por profissional é exatamente a mesma entre os dois sexos: 1,1. As diferenças vão aparecer nas especialidades escolhidas. As médicas são maioria na Clínica Médica, na Ginecologia e Obstetrícia, na Pediatria e na Dermatologia. Os homens, por sua vez, predominam na Cardiologia, Cirurgia Geral, Medicina do Trabalho, Ortopedia e Traumatologia, e Urologia.
Das 52 especialidades do Banco de Dados do Cremesp, os homens são maioria em 39 delas e chegam a ser dez vezes mais em Ortopedia e Traumatologia e em Urologia. Há apenas uma mulher especialista em cirurgia da mão, e elas são minoria em todas as oito áreas da cirurgia. No entanto, dominam com larga vantagem em Pediatria e Dermatologia, onde são, proporcionalmente, cerca de quatro vezes mais numerosas que os homens. As mulheres também são absoluta minoria em Medicina Legal e Medicina Esportiva, onde há apenas três médicas com título em cada uma delas. É compreensível que os homens hoje sejam maioria em números absolutos na grande parte das especialidades, pois representam 61,6% dos profissionais no mercado.
O crescimento rápido das mulheres entre os médicos – entre os mais jovens e nos cursos de graduação elas já são maioria – certamente levará as médicas a ocupar espaços em territórios até agora reservados majoritariamente aos homens.
Título de especialista
Há duas formas de obtenção do título de especialista: após a conclusão de um programa de Residência Médica reconhecido pelo MEC ou por meio de concurso de título da respectiva Sociedade de especialidade médica. O concurso de título consiste em prova elaborada pela Sociedade após o profissional ter realizado um curso de especialização, estágio ou outra forma de capacitação.
O médico não necessita ter um título de especialista para exercer a Medicina. Após a conclusão do curso de graduação, que tem duração de seis anos, o profissional recém-formado se registra no CRM e, oficialmente, está apto para exercer diversas áreas da Medicina. Sobretudo na atenção primária (exercida, por exemplo, em postos de saúde, prontos-socorros, serviços de triagem, plantões, ambulatórios, consultórios, programas de saúde da família etc.) é comum o exercício profissional de médicos não-especialistas. Para dar resposta à boa parte dos problemas de saúde da população, a atuação do generalista não só é suficiente como pode ser considerada a mais adequada, desde que haja um sistema organizado de referência e encaminhamento das situações que exigem atendimento especializado.
Auto-regulação do mercado
A pesquisa do Cremesp mostra que embora o título não seja obrigatório, existe uma auto-regulação do mercado de trabalho. Em diversas áreas da Medicina, ser especialista é uma exigência dos empregadores – planos de saúde privados, prefeituras, governos estaduais, hospitais públicos e privados, e demais estabelecimentos de saúde – antes de contratar ou credenciar um profissional médico. Dessa forma, o próprio mercado, os concursos e processos seletivos tornaram obrigatório o título de especialista, por exemplo, para as necessidades de saúde que exigem conhecimentos especializados, intervenções cirúrgicas, procedimentos complexos, invasivos e de grande porte.
Estudo revela falta de vagas
na Residência
“O grande problema é que cresce o número de vagas nas faculdades, mas o da Residência Médica não acompanha esse ritmo”, avaliou o presidente do Cremesp, Henrique Carlos Gonçalves, durante coletiva à imprensa realizada no dia 12 fevereiro, para divulgar a pesquisa realizada pelo Conselho sobre Especialidades Médicas no Estado de São Paulo.
O título de especialista – que não é obrigatório para o exercício da Medicina –, pode ser obtido após a conclusão da Residência Médica – modalidade de ensino de pós-graduação ministrado em instituições de saúde, sob a orientação de profissionais médicos de elevada qualificação ética e profissional – ou por meio de concurso de título de uma sociedade de especialidade. Na prática, porém, a realidade tem se mostrado bem mais difícil para os recém-formados. “Em termos de médicos por habitante, o Brasil se compara ao Canadá e EUA, no entanto, em número de especialistas, estamos muito atrás”, afirmou Henrique Carlos.
Para ele, isso acontece em função das condições do ensino médico brasileiro, que é prejudicado com a abertura indiscriminada de novas escolas de Medicina, e, ao mesmo tempo, apresenta uma grande carência na oferta de vagas para os cursos de Residência, em relação às oferecidas pelas faculdades.
O Ministério da Educação divulgou recentemente que vai oferecer, neste ano, 420 novas bolsas a recém-graduados em medicina em universidades federais, em um investimento de R$ 10 milhões. Com esses novos bolsistas, as instituições públicas de educação superior de todo país, que desenvolvem 889 programas credenciados de residência médica, atenderão a 5.124 futuros profissionais em programas específicos. O valor da bolsa é de R$ 1.916,45. “Essa é uma iniciativa positiva por parte do governo, mas precisamos considerar que essas bolsas são insuficientes para atender a toda a demanda dos egressos das faculdades”.
Henrique Carlos acredita que, para atenuar essa discrepância, é preciso instituir a moratória para novos cursos de medicina. “Apoiamos o projeto de Lei original de autoria do presidente da Câmara dos deputados, Arlindo Chinaglia, que prevê a moratória de 10 anos para a abertura de novas escolas de Medicina e a fiscalização e sanções para as que não apresentem condições mínimas para formar bons profissionais” (confira editorial na página 2 desta edição). Segundo ele, atualmente, “mais de 50% das faculdades não têm hospitais, e, no caso daquelas que mantêm convênios a prefeitura, os médicos atuam em instituições que não oferecem sequer condições adequadas de assistência, quanto mais infra-estrutura de ensino médico”.
Dificuldades
A deficiência na formação dos profissionais médicos pôde ser aferida pelo próprio Conselho, que, pelo terceiro ano consecutivo, promoveu, em 2007, a avaliação dos estudantes do sexto ano de Medicina. O índice de reprovação é crescente e preocupante. De 2005 para 2007, aumentou 25%, e de 2006 para 2007, a reprovação cresceu 18%.
Na avaliação do presidente do Cremesp, a má qualidade de ensino oferecida por muitas escolas de Medicina faz com que as vagas existentes para a Residência em São Paulo sejam em geral ocupadas pelos que freqüentaram as boas faculdades, que são poucas. “Esses alunos têm mais chances de disputar as vagas, o restante não tem acesso a esse tipo de aperfeiçoamento e, conseqüentemente, é barrado também no mercado de trabalho”, acrescentou.
Diante desse quadro de dificuldades para a qualificação dos profissionais médicos, há quase três anos o Cremesp vem desenvolvendo o Programa de Educação Médica Continuada, que visa aperfeiçoar e atualizar os profissionais em diversas especialidades, para que tenham mais chances de disputar vagas no mercado.
Especialidades médicas no Estado de São Paulo
Especialidades Médicos %
Ginecologia e Obstetrícia 8.413 15,6
Pediatria 6.314 11,7
Cirurgia Geral 3.848 7,1
Clínica Médica 3.646 6,8
Cardiologia 3.488 6,5
Ortopedia e Traumatologia 3.440 6,4
Oftalmologia 3.312 6,1
Psiquiatria 2.116 3,9
Medicina do Trabalho 2.047 3,8
Anestesiologia 1.840 3,4
Urologia 1.209 2,2
Radiologia e Diag. Imagem 1.110 2,1
Cirurgia Plástica 937 1,7
Gastroenterologia 912 1,7
Otorrinolaringologia 888 1,6
Dermatologia 872 1,6
Pneumologia 769 1,4
Neurologia 667 1,2
Cirurgia Cardiovascular 666 1,2
D.Infecciosas e Parasitárias 633 1,2
Endocrinologia e Metabologia 606 1,1
Nefrologia 505 0,9
Neurocirurgia 445 0,8
Patologia 430 0,8
Medicina Preventiva e Social 409 0,8
Homeopatia 360 0,7
Cirurgia do Aparelho Digestivo 356 0,7
Reumatologia 351 0,7
Hematologia e Hemoterapia 326 0,6
Cancerologia 289 0,5
Medicina do Tráfego 268 0,5
Patol. Clínica/M.Laboratorial 257 0,5
Angiologia/Cirurgia Vascular 234 0,4
Cirurgia Pediátrica 210 0,4
Medicina Intensiva 195 0,4
Cirurgia da Cabeça e Pescoço 155 0,3
M. da Familia e Comunidade 152 0,3
Acupuntura 149 0,3
Medicina Física e Reabilitação 143 0,3
Coloproctologia 131 0,2
Geriatria e Gerontologia 116 0,2
Alergia e Imunologia 110 0,2
Cirurgia Torácica 98 0,2
Radioterapia 93 0,2
Medicina Nuclear 77 0,1
Nutrologia 74 0,1
Endoscopia 72 0,1
Mastologia 46 0,1
Medicina Legal 35 0,1
Medicina Esportiva 34 0,1
Genética Médica 24 0,0
Cirurgia da Mão 22 0,0
Total 53.899 100,0