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CAPA

EDITORIAL (JC pág. 2)
A difícil comparação entre os serviços da rede privada de saúde e o SUS. Para médicos e a população


ENTREVISTA (JC pág. 4)
O financiamento público da Saúde na visão de docentes em Políticas de Saúde da USP


ATIVIDADES CRM (JC pág. 4)
Acompanhe as novas datas dos Fóruns de Publicidade Médica do Cremesp e participe!


ATIVIDADES CRM (JC pág. 5)
TISS: operadoras devem fornecer os formulários impressos, avisa a ANS


MOBILIZAÇÃO (JC pág. 6)
A luta dos médicos do Nordeste por melhores condições de trabalho e de atendimento à população


ATIVIDADES CRM (JC pág. 7)
Exame do Cremesp: primeira fase acontece dia 23 de setembro


ESPECIAL (JC págs. 8 e 9)
Especial: mais de 90% dos médicos do Estado aprovam a atuação do Cremesp


ENSINO MÉDICO (pág. 10)
Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP): 10 anos deste método de sucesso na FAMEMA


GERAL 1 (JC pág. 11)
Psicocirurgia: Ministério Público recomenda fiscalização no tratamento de transtornos mentais


HISTÓRIA (JC pág. 12)
Sta. Casa de S. José do Rio Preto - capacidade para receber 700 pacientes/dia


GERAL 2 (JC pág.13)
Em Opinião do Conselheiro, Isac Jorge nos brinda com o texto "O médico como corretor"


ALERTA ÉTICO (JC pág. 14)
Acompanhe questões relacionadas ao treinamento médico, no Alerta Ético desta edição


GERAL 3 (JC pág.15)
Acompanhe Nota da SBPC que repudia o financiamento de procecimentos médicos


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Edição 240 - 08/2007

ENSINO MÉDICO (pág. 10)

Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP): 10 anos deste método de sucesso na FAMEMA


ABP: o método ativo de aprendizagem

Hissachi Tsuji*

Estamos completando dez anos de implementação do método ativo de aprendizagem nos cursos de Medicina e Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília (Famema). A Famema iniciou a mudança curricular antes das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) dos cursos de Medicina, Enfermagem e Nutrição, promulgada em 2001. Em ambos os cursos empregamos a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) e Problematização. Além disso, os currículos dos cursos são integrados, orientados por competência, baseados na comunidade, no modelo de vigilância à saúde, fundamentados na educação de adultos e centrados no estudante.

A ABP é uma estratégia pedagógica em que os conhecimentos necessários para o exercício da profissão são adquiridos no mesmo contexto em que serão utilizados pelos estudantes na vida profissional. Os conteúdos das diferentes disciplinas são estudados de forma articulada baseados nos sinais, sintomas e outros dados presentes nos problemas.

Na área médica, a ABP começou na Universidade MacMaster no Canadá na década 70. Atualmente existem cerca de 250 escolas médicas que utilizam este método ao redor do mundo e aproximadamente no Brasil.

As escolas novas são as que mais adotam as metodologias ativas de aprendizagem ABP e/ou Problematização devido à recomendação das DCN.
Suas principais características são: ciências básicas aprendidas analisando “casos” típicos; a aprendizagem é motivada pela curiosidade do estudante; a ABP conta com a iniciativa do estudante como força motriz; estudante com participação ativa no processo de aprendizagem, bem como  o professor; menos aulas teóricas; professores têm mais contato com os alunos em pequenos grupos (de cinco a oito estudantes/grupo), o que permite ativar/orientar e apoiar a aprendizagem; incentiva a aprendizagem autodirigida; utilização de material clínico para auxiliar a aprendizagem dos estudantes e integra ciências básicas com a clínica.

A ABP é considerada um processo de ensino/aprendizagem centrado no estudante desde que preencha os quatro critérios da taxonomia de Howard Barrows:

1 - estruturar o conhecimento de forma que os conteúdos das ciências básicas e clínicas possam ser aplicados no contexto clínico, facilitando o resgate e aplicação de informação (SCC – Structuring of knowledge for use in Clinical Context)
2 - desenvolver um processo eficaz de raciocínio clínico para as habilidades de resolver problemas, incluindo geração de hipóteses, levantamento de questões de aprendizagem, busca de informações, análise de dados, síntese do problema e tomada de decisões (CRP – Clinical Reasoning Process)
3 - habilidades que permitem ao estudante entender as suas necessidades de aprendizagem e localizar fontes de informações apropriadas (SDL – Self-Directed Learning)
4 - aumentar a motivação para aprendizagem (MOT – Increasing Motivation for Learning)

O processo de ensino/aprendizagem na ABP centrado no estudante é realizado através das sessões de tutorias (duas vezes/semana) na Unidade Educacional Sistematizada (UES). Os estudantes são divididos em pequenos grupos (oito estudantes/grupo) para desenvolvimento das atividades sob a orientação de um professor. O assunto desenvolvido pode ser previamente combinado ou não, porém o que o diferencia dos demais modelos é que o professor não ministra aulas; funciona mais como ativador e catalisador das discussões que os estudantes desenvolvem usando os conhecimentos pesquisados por eles e baseados nas experiências anteriores; é desejável que o professor freie a vontade de ensinar; é recomendável que o professor não fique em destaque e sim diluído no meio dos estudantes.

Nesse modelo os estudantes participam ativamente do processo de ensino/aprendizagem, assim como o professor, porém sem dar aulas; o professor deve adquirir a habilidade e a paciência de escutar os estudantes e possuir a capacidade de “não contar”, não dar a resposta ou forçar o ponto de vista pessoal quando os estudantes estão discutindo. Por conseguinte, o ensino/aprendizagem centrado no estudante torna-o mais ativo, independente, criativo, pensador crítico, cooperativo (não só competitivo), capaz de avaliar os seus  progressos, com desenvolvimento de boa capacidade de comunicação  (expressar-se claramente), relacionamento interpessoal, atitudes, hábitos e técnicas para continuar aprendendo ao longo da vida (responsabilidade pela auto-aprendizagem).

No currículo integrado e orientado por competência, os estudantes são colocados em contato com a comunidade – desde o primeiro ano – na rede de atenção básica, para realizarem tarefas específicas. As tarefas aumentam de complexidade com o passar dos anos, culminando em dois anos de internato.

As outras características da ABP são quanto à avaliação e número de professores envolvidos no desenvolvimento do programa.

A avaliação não é somente dos estudantes. Os professores, os programas, os cenários de aprendizagem são também avaliados. Quanto aos professores necessitamos um para cada grupo (cinco a oito estudantes/grupo) de tutoria e  dois professores/grupo (dez a doze estudantes/grupo) para as atividades práticas na atenção básica (Unidade de Prática Profissional – UPP). Portanto, precisamos muito mais professores que no ensino praticado na maioria das escolas. Ademais, é fundamental uma parceria firme com a Secretaria Municipal de Saúde visando possibilitar as atividades práticas na rede de atenção básica. Os estudantes da Famema participam ativamente como  membros da equipe de saúde da rede, e não como visitantes. Os profissionais de saúde da rede de atenção básica são incentivados a participarem desse processo como professores convidados. Em troca participam do programa de educação permanente e recebem um incentivo financeiro.

Se as atividades da UPP e UES forem realizadas com a integração das dimensões biológica, psicológica e social, contribuirão para despertar o interesse dos estudantes, visando a formação de médicos preocupados em cuidar não somente da  doença, mas sim de pessoas com necessidades de saúde diversas.

Para finalizar, lembramos o que disse o pensador chinês Lao Tsé (600 a.C.): “Aquilo que ouço,  esqueço; aquilo que vejo, lembro e aquilo que faço, entendo (aprendo)”. Na atualidade, a neurociência, neurolobiologia e neuroquímica da memória dão sustentação ao que disse o pensador chinês.



*Tsuji
é diretor e professor da Faculdade de Medicina de Marília



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