CAPA
EDITORIAL
A Saúde no Brasil. Como evitar os constantes "apagões" no setor?
ENTREVISTA
Antonio Carlos Lopes faz um RX da Residência Médica no país
ATIVIDADES DO CREMESP 1
Exame para recém-formados em Medicina: é hora de começar a discussão sobre o ensino médico no país
EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA
Módulos de Educação Médica Continuada agora podem ser acessados pela internet
ATIVIDADES DO CREMESP 2
Acompanhe os temas abordados no Encontro Nacional dos CRMs, realizado em Brasília
MOVIMENTO MÉDICO
Oficinas de trabalho preparam questões para o próximo ENEM
ATIVIDADES DO CREMESP 3
Encontrar respostas... este foi o maior desafio do II Congresso Paulista de Ética Médica
ATUALIZAÇÃO
Hepatite C: 3 a 4 milhões de brasileiros estão infectados
GERAL 1
Moacyr Scliar abrilhanta evento que homenageou as médicas do Estado
GERAL 2
Em destaque, a posse da nova diretoria da Sociedade Brasileira de Radiologia
ACONTECEU
Confira a participação do Cremesp em eventos relevantes para a classe
ALERTA ÉTICO
Dúvidas relacionadas ao plantão? Veja respostas a duas perguntas comuns...
GERAL 3
Financiamento p/o setor da Saúde é pauta de reunião na Câmara
HISTÓRIA
Complexo Hospitalar do Mandaqui: considerado um centro de formação médica
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ENTREVISTA
Antonio Carlos Lopes faz um RX da Residência Médica no país
Entrevista com Antonio Carlos Lopes
“Sem preceptor não há residência médica”
A Residência Médica completou 30 anos de atividades no Brasil e se consolidou como o melhor caminho para a formação de médicos especialistas no país. Agora, é necessário fortalecer os programas de Residência nas regiões brasileiras mais pobres e estimular os jovens profissionais a permanecerem nesses locais. A opinião é de Antonio Carlos Lopes, professor titular da Unifesp, diretor do Departamento de Residência Médica da Secretaria Nacional de Ensino Superior (Sesu) do Ministério da Educação, e secretário-executivo da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM). Nesta entrevista, concedida em São Paulo, Lopes reitera a importância da Residência, explica as ações do Ministério para ampliar a oferta de vagas em outros Estados e critica a multiplicação de escolas médicas sem qualidade no país.
Qual é a importância da Residência para a formação dos médicos brasileiros?
A experiência brasileira mostra que a Residência é a melhor maneira de se formar um médico após a conclusão da graduação. Mas é uma forma de especialização e não um substituto para a escola médica. O principal problema do país, hoje, é que as escolas médicas estão muito ruins. Há um número muito grande de escolas e em muitas delas os professores deveriam estar aprendendo, e não ensinando.
De que maneira o MEC espera desenvolver políticas para definir os números de vagas de Residência que estariam disponíveis em cada especialidade?
Não podemos induzir os jovens médicos a escolher essa ou aquela especialidade, de forma autoritária. Temos trabalhado no sentido de criar oportunidades de especialização em várias regiões do país, de forma a fixar os médicos nos locais carentes de especialistas. Falta estrutura para manter programas de Residência em todo o país. Faltam equipamentos, mas o pior é a falta de médicos competentes para atuarem como preceptores. Sem o professor experiente não há programa de Residência. Por isso os estudantes procuram os grandes centros. Em meados de 2005 publicamos a resolução que criou o intercâmbio interinstitucional e o estágio voluntário. O primeiro permite que um jovem médico de regiões distantes ou fronteiriças possa fazer parte de sua Residência numa instituição local e parte numa instituição mais tradicional, nos grandes centros, possibilitando a melhoria progressiva dos programas de Residência dessas localidades. Com o estágio voluntário pretendemos que os médicos passem de 30 a 90 dias prestando serviços em regiões carentes, para sensibilizá-los em relação aos problemas sociais do local. Achamos que falta essa visão social ao médico formado e avaliamos que esse estágio trará uma influência importante em suas carreiras. Temos de lutar para que a Residência não seja elitizada.
No ano passado os médicos residentes fizeram um movimento para melhorar suas condições de trabalho. Como a CNRM viu essa mobilização?
De fato, os médicos residentes trabalham demais e isso prejudica tanto sua formação como a assistência à população. O residente não pode ser visto como mão-de-obra barata e, sim, como um profissional que está sendo formado. O que vimos no ano passado é que a maior parte dos hospitais não consegue funcionar sem os residentes, o que é um absurdo. E, em geral, a maior parte das solicitações de abertura de programas de Residência recebidas pela CNRM tem o objetivo de usar o residente como mão-de-obra barata.
A ausência do preceptor também prejudica a formação do médico...
É fundamental que se entenda que o ensino médico não é apenas um repasse de conhecimentos. O professor, o preceptor precisa estar ao lado do aluno, porque é a atitude do profissional experiente, sua relação com o paciente, que forma um médico mais humano e capaz de um diagnóstico correto. De nada adianta um recurso tecnológico avançado sem a presença de um médico que ouça o paciente e saiba identificar a doença. Ao contrário, um médico bem formado resolve qualquer crise sem a tecnologia. O residente deve saber tomar decisões, mas sempre sob a supervisão do preceptor, que precisa estar presente. Só se aprende medicina com o testemunho da presença. Claro que é possível fazer bons programas de educação à distância, mas não na Residência Médica. A CNRM luta pela excelência do ensino médico e não apenas pela maior quantidade de médicos formados.
Falando em quantidade, é verdade que o MEC tem cerca de 70 cursos médicos em avaliação para abertura?
No momento existem 78 propostas de novos cursos em avaliação na SESU, a maioria deles apoiada numa “nova visão do ensino médico”, à qual sou frontalmente contrário. Há um grupo de pessoas que quer implantar no Brasil o ensino médico fundamentado na ferramenta PBL (aprendizado baseado em problemas), que é uma técnica já experimentada (e descartada) em outros países. Eles querem implantar o PBL no Brasil simplesmente porque não têm professores e nem hospitais de ensino. Se o modelo tradicional de ensino médico deu certo, por que devemos mudá-lo? A própria Harvard University experimentou o PBL e abandonou o método depois de seis anos. O Ministério da Educação criou uma comissão que está discutindo os critérios para abertura de novas escolas médicas e nosso objetivo é somente aprovar as propostas de escolas que tenham um diferencial importante em seu corpo docente e na relação com hospitais de ensino. Nesse aspecto, o Cremesp, assim como outras entidades médicas, tem sido importante aliado na melhoria da formação médica.
O Programa de Educação Médica Continuada tem cumprido um papel único na atualização dos profissionais e na reflexão sobre as questões éticas da medicina. Acho que o Cremesp tem trabalhado em favor da sociedade e muito além de um simples interesse corporativo.
Como o senhor vê a proposta da Residência Multiprofissional em Saúde? Não haveria o risco de superposição de funções entre médicos e outros profissionais de saúde?
Não existe a menor possibilidade de que isso ocorra. Cada programa de Residência terá o seu perfil próprio, respeitadas as atribuições de cada profissional. A Residência Multiprofissional está sendo criada à luz da ótima experiência com a Residência Médica, que acaba de completar 30 anos de Brasil. O que se espera é que a experiência com a Residência Médica seja levada a outras áreas da saúde, em benefício da população assistida.