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Uma história exemplar - Isac Jorge Filho


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Entrevista com Aldo Rebelo, presidente da Câmara dos Deputados


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Cremesp tem novo organograma funcional


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Segunda etapa da avaliação do Ensino Médico no Estado


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Selado termo de cooperação com a Secretaria de Saúde


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Planos faturam cerca de R$ 31 bilhões por ano


PROPAGANDA SEM BEBIDA
Campanha terá um crescimento expressivo em 2006


ATUALIZAÇÃO 1
José Henrique Vila alerta sobre a combinação álcool e coração


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Câncer de Mama, por Fausto Farah Baracat


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Franca: a posse do diretor clínico eleito


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Cremesp promove debate sobre pedofilia e sigilo médico


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Edição 220 - 12/2005

EDITORIAL

Uma história exemplar - Isac Jorge Filho



Uma história exemplar
Isac Jorge Filho*

A origem da Medicina se perde na vastidão dos tempos. A luta contra as doenças sempre esteve na mente do homem, como manifestação de amor ao próximo. Os médicos de hoje são herdeiros e sucessores nesta linda história que passa por Hipócrates, Galeno, Avicena, Ambroise Paré, Fleming, Billroth e tantos outros.
Mas a Medicina e os médicos passaram por muitas crises ao longo da história. Certamente, uma das mais importantes ocorreu na Idade Média, a “Idade das Trevas” do mundo ocidental, quando a intolerância entre os homens determinou um enorme retrocesso em todas as atividades culturais. Bibliotecas foram destruídas, pessoas perseguidas, torturadas e mortas. Estabeleceu-se o caos.

Quis, no entanto, a Divina Providência, o Grande Arquiteto do Universo que, ao mesmo tempo, florescesse na península arábica uma cultura que, além de conservar os avanços da Medicina do Ocidente, desenvolvesse ainda mais diversas áreas do saber humano. Esta cultura tinha como uma de suas características básicas o extremo respeito às diferentes crenças.

Conviviam respeitosamente muçulmanos, cristãos e judeus. É ironia da história que essa cultura se irradiasse a partir de Bagdá, que hoje presencia o retrocesso, o desrespeito às culturas diferentes e o desamor ao próximo. Foi a partir de Bagdá, hoje parcialmente destruída pelos bombardeios da intolerância, que foi se propagando a reação iluminista às trevas ocidentais.

Hoje, no Brasil, a Medicina passa mais uma vez por grave crise. Vivemos um período difícil. Sucessivos governos têm dado as costas aos médicos, como se não existíssemos. Mais recentemente temos presenciado manifestações que, veladamente, já que falta coragem para verbalizar, preconizam o exercício da Medicina sem médicos. O escudo para essa campanha sorrateira é a busca de uma pretensa “humanização”, como se os médicos fossem desumanos. Quem defende esse absurdo não conhece o trabalho humanitário feito pela grande maioria dos médicos, durante plantões e plantões, sábados, domingos e feriados.  Para quem tem trabalho com horários bem definidos, quem não é solicitado de madrugada, no aniversário dos filhos ou durante uma atividade de lazer talvez seja fácil defender essa posição. É fácil falar quando não se tem a responsabilidade de tudo o que possa acontecer em um hospital ou unidade de saúde, mesmo que o problema seja administrativo. Se algo de errado acontece, a “culpa” é sempre do médico que, muitas vezes, acaba sendo agredido. São os “desumanos” médicos que fazem todos os procedimentos dos “mutirões” organizados pelas administrações e governos, mas nunca são citados e não recebem uma palavra de reconhecimento. São “desumanos” os únicos profissionais de saúde que acabam trabalhando de graça em plantões de demanda ou em ambulatórios, garantindo assim a sobrevivência de muitos hospitais? É preciso dizer um basta a esta covarde campanha contra os médicos. A própria busca da regulamentação da profissão tem encontrado uma agressividade raivosa que só pode ser explicada por desconhecimento ou por má-intenção. Não obstante toda essa intolerância, os médicos são reconhecidos, em recente pesquisa do Ibope/Opinião, como os profissionais mais respeitados pelos brasileiros, com um índice de 81%. Isso, apesar das difíceis condições de trabalho enfrentadas pela maioria. O que dirão os que querem a Medicina sem médicos? O que dirão os que falam em “humanização” sem médicos? Ou será que os 81% preferem cuidados desumanos?

O médico brasileiro assiste o paradoxo da convivência da Medicina da pobreza, das parasitoses, da desnutrição, com a Medicina do mundo “desenvolvido”, dos transplantes, das células-tronco. Vive o paradoxo dos grandes hospitais, com uma das melhores medicinas do mundo, com a tristeza dos hospitais e unidades de “saúde” de periferia e pequenas comunidades, onde falta tudo o que deveria ser oferecido pelo poder público. Mesmo com todas as dificuldades vamos continuar trabalhando honradamente pelo prestígio e bom conceito da profissão.

Nossa carga será mais leve se lembrarmos dos nossos ancestrais e aqui vale a pena citar Maimônides (Mose Bem Maimon), que viveu de 1.135 a 1.204, e fez parte de um período brilhante de tolerância. Judeu que vivia entre cristãos e muçulmanos, respeitado por todos, produziu esta Oração do Médico que cada um de nós, que recebeu a benção de ser médico, deveria conhecer, analisar e repetir:

“Ó Deus, Tu formaste o corpo do homem com infinita bondade; Tu reuniste nele inumeráveis forças que trabalham incessantemente como tantos instrumentos, de modo a preservar em sua integridade esta linda casa que contém sua alma imortal, e estas forças agem com toda a ordem, concordância e harmonia imagináveis. Porém, se a fraqueza ou paixão violenta perturba essa harmonia, estas forças agem umas contra as outras e o corpo retorna ao pó de onde veio.

Tu enviaste ao homem Teus mensageiros, as doenças, que anunciam a aproximação do perigo, e ordenas que ele se prepare para superá-las.
A Eterna Providência designou-me para cuidar da vida e da saúde de Tuas criaturas. Que o amor à minha arte aja em mim o tempo todo, que nunca a avareza, a mesquinhez, nem sede pela glória ou por uma grande reputação estejam em minha mente; pois, inimigos da verdade e da filantropia, eles poderiam facilmente enganar-me e fazer-me esquecer meu elevado objetivo de fazer o bem a Teus filhos.

Concede-me força de coração e de mente, para que ambos possam estar prontos a servir os ricos e os pobres, os bons e os perversos, amigos e inimigos, e que eu jamais enxergue num paciente algo além de um irmão que sofre. Se médicos mais instruídos que eu desejarem me aconselhar, inspira-me com confiança e obediência para reconhecê-los, pois notável é o estudo da ciência. A ninguém é dado ver por si mesmo tudo aquilo que os outros vêem.

Deus, Tu me designaste para cuidar da vida e da morte de Tua criatura; aqui estou, pronto para minha vocação.”

Desejo, a cada colega e familiares, um 2006 pleno de paz, saúde, sucesso e tolerância, mesmo tendo que enfrentar intolerâncias e injustiças.

Um abraço fraterno!



* Isac Jorge Filho
é presidente do Cremesp



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