CAPA
EDITORIAL
O Encontro de Esperanças - Editorial de Isac Jorge Filho
ENTREVISTA
O convidado desta edição foi Jorge Machado Curi, presidente da APM
GERAL 1
A obrigatoriedade da revalidação de títulos de novos especialistas
AVALIAÇÃO DO ENSINO
Acertada data para a segunda fase da avaliação formandos em Medicina: 21/12
HONORÁRIOS MÉDICOS
Em foco o atual sistema de pagamento das entidades filantrópicas
FÓRUM
Acompanhe uma sinopse do I Fórum Regulamentador de Publicidade Médica
ATUALIZAÇÃO
A presença de corpos estranhos na cavidade abdominal
ENCONTRO DOS CONSELHOS
Destaques do encontro dos CRMs do Sul/Sudeste: formação médica e mercado de trabalho
EM DEFESA DO SUS
Em discussão, o orçamento da Saúde para o próximo ano, 2006
ARTIGOS
José Marques Filho escreve sobre "Novos desafios éticos"
AGENDA
Destaque: Krikor Boyaciyan é o novo presidente da Sogesp
NOTAS
Alerta Ético sobre a atuação do Perito Médico
GERAL 2
Parecer: cirurgião do aparelho digestivo pode realizar endoscopia cirúrgia?
ALERTA AOS MÉDICOS
Informe Técnico do CVE alerta os médicos sobre a febre maculosa
GALERIA DE FOTOS
ENTREVISTA
O convidado desta edição foi Jorge Machado Curi, presidente da APM
“Precisamos democratizar o acesso ao conhecimento médico”
O presidente da APM fala também da valorização dos honorários médicos
e da avaliação do ensino da Medicina no Estado
O novo presidente da Associação Paulista de Medicina (APM ), o médico cirurgião geral e intensivista Jorge Machado Curi (foto), formado pela Unicamp em 1979, tem uma longa trajetória em defesa da categoria médica. Curi, que também é conselheiro do Cremesp, ocupava o cargo de primeiro vice-presidente da APM, antes de ser indicado por consenso como candidato à presidência da entidade para o triênio 2005/2008. Em entrevista ao Jornal do Cremesp, fala do trabalho conjunto das entidades médicas, da necessidade de avaliação do ensino e dos projetos da APM para a defesa profissional e a educação continuada.
Como o senhor avalia o trabalho conjunto realizado até agora pelas entidades médicas paulistas? Defende a proposta de entidade médica única?
Guardadas as características e missões de cada entidade, avançamos em várias áreas, sobretudo na defesa profissional, pois muitas das reivindicações da APM, do CRM e dos sindicatos são consensuais. Em alguns momentos, as entidades adotam posições ou estratégias diferentes para atingir os mesmos resultados, mas essa diversidade de idéias é positiva. Estamos juntos, por exemplo, na defesa do médico em relação aos planos de saúde e na luta por melhores honorários médicos, assim como na defesa de melhor financiamento para o Sistema Único de Saúde, por meio da regulamentação da Emenda Constitucional 29. As entidades podem até ter pontos de vista diferentes diante do exame de avaliação dos recém-formados ou da recertificação de títulos de especialistas, mas temos o mesmo diagnóstico de que é preciso melhorar a formação do médico, seja na graduação ou do profissional já no mercado de trabalho. Ou seja, a entidade única, que tem dificuldades de se viabilizar no plano legal, na atuação prática já existe, devido a essa proximidade construtiva e ao nosso projeto coletivo em defesa do médico e da saúde da população.
São satisfatórios os resultados da mobilização permanente das entidades pela valorização dos honorários médicos?
Estamos parcialmente satisfeitos com o que foi alcançado, mas o médico ainda está distante de uma remuneração digna. Mas é fato também que não estamos descolados do contexto brasileiro, das dificuldades socioeconômicas, da péssima distribuição de renda. A multiplicação de profissionais liberais sem a devida qualidade e, portanto, que se sujeitam a precárias condições de trabalho e remuneração, não é problema exclusivo da categoria médica. O país tem que passar a discutir a formação e a valorização das profissões, pois hoje prevalece a quantidade, sem nenhum compromisso com a qualidade.
E quanto à Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM)? Por que tanta dificuldade em implantá-la?
A CBHPM é, sem dúvida, uma conquista. Precisávamos de uma Classificação com credibilidade técnica e, ao mesmo tempo, transparente, aberta a críticas e ao constante aperfeiçoamento. O médico e suas entidades não estão acostumados a discutir os custos da Medicina, a valorização econômica da profissão e dos seus procedimentos. O cálculo da unidade de custo operacional e sua variação na CBHPM não tem sido tarefa simples, pois tivemos que nos apropriar de informações sobre tecnologias, equipamentos, recursos humanos etc. Mas o fato é que tanto a saúde suplementar como o sistema público têm necessidade de uma ordenação como a proposta pela CBHPM. A prática, pelos planos de saúde, de valores incompatíveis com a CBHPM e a demora deles e dos gestores públicos em incorporar os procedimentos e inovações que constam da Classificação são nossos maiores obstáculos.
Neste sentido, a contratualização atualmente em curso é fundamental. Temos que avançar no estabelecimento de padrões éticos na relação dos planos de saúde com o médico. Ainda há contratos inaceitáveis propostos pelas operadoras, que deixam os médicos completamente vulneráveis, sem nenhuma garantia ou proteção. Queremos que o órgão regulador – a ANS – e a sociedade entendam que este mercado de planos de saúde não pode se regular sozinho. Se não houver uma regulação adequada entre operadoras e prestadores médicos, os pacientes é que serão prejudicados. Mesmo com tantas campanhas e ações das entidades, continua a abertura indiscriminada de escolas médicas no Estado...
Existem grandes interesses políticos e econômicos por trás da abertura de novas escolas, apesar do consenso, não só das entidades médicas, de que o Estado de São Paulo não comporta mais cursos de Medicina. Temos que manter nossa posição firme, apontando o equívoco desta política do MEC de abertura de escolas sem necessidade. E ao mesmo tempo devemos discutir abertamente a adoção de medidas concretas da avaliação do ensino médico. Não sou favorável à implantação imediata de “exame de ordem” de Medicina. Mas uma avaliação externa bem feita é necessária e inadiável. As escolas nunca promoveram avaliação de forma adequada, os alunos nunca são reprovados pelas escolas, que lançam no mercado de trabalho médicos sem condições de atender adequadamente a população. E mesmo as avaliações do MEC, o Provão e o Enade, não se mostraram eficazes. Por isso as entidades médicas devem sinalizar para esta necessidade, ou mesmo implementar a avaliação, como tem feito o Cremesp. Isso demonstra compromisso com a sociedade, não é interesse corporativo. Mas todos sabemos que só a avaliação no final do curso não basta. É preciso uma avaliação periódica contínua, pelas faculdades de Medicina, que monitore se o aluno está recebendo e incorporando conhecimentos suficientes para exercer a Medicina. Avaliar os profissionais que estão sendo colocados no mercado é uma tendência mundial, mas é salutar que o assunto gere polêmica e discussão, pois só assim vamos avançar.
Na sua gestão, como a APM irá tratar a educação continuada dirigida aos médicos?
Ao lado da defesa profissional, a educação continuada é nossa prioridade e temos que democratizar o acesso ao conhecimento e à informação, que devem chegar a todos os médicos. Temos uma grande preocupação, pois o médico não pode ser pautado e receber educação continuada exclusivamente patrocinada pelos laboratórios farmacêuticos. Hoje a APM e suas regionais já realizam um número imenso de reuniões científicas. Quem está em grandes centros tem uma multiplicidade de cursos e oportunidades de atualização. Nossa meta é estender essas possibilidades a todos os médicos do Interior. Agora, com a recertificação do título de especialista, nossa responsabilidade é ainda maior, para que esse processo seja justo e democrático. As sociedades de especialidades terão que se abrir cada vez mais para atingir não só seus associados mas todos os médicos interessados. E, nesse sentido, iniciativas como o programa de educação continuada do Cremesp, que objetiva levar o conhecimento de especialidades para o não-especialista, podem somar esforços. A APM também irá reforçar a importância das diretrizes médicas baseadas em evidências científicas, pois esta é uma importante contribuição com a racionalidade terapêutica e com a correta utilização dos recursos, que são limitados.