CAPA
EDITORIAL
O Cremesp e o ensino médico
ATIVIDADES DO CREMESP
Exame de Habilitação para recém-formados em Medicina
GERAL 1
Plantão de disponibilidade - artigo de Henrique Liberato Salvador
RESOLUÇÃO 1
Novas regras p/atualização do Título de Especialista
UTILIDADE PÚBLICA 1
O preenchimento, correto, das declarações de óbito
UTILIDADE PÚBLICA 2
Material informativo sobre a Declaração de Óbito
ESPECIAL 1
Centro de Dados do Cremesp é inaugurado na sede
ESPECIAL 2
Alta concentração de médicos em São Paulo
ATUALIZAÇÃO
Conferência Internacional de Aids e Congresso Internacional de Psicanálise
HOMENAGEM
Destaque especial para o cirurgião Fares Rahal
GERAL 2
Movimento médico pela CBHPM
AGENDA
Congresso Médico do Oeste Paulista
ALERTA ÉTICO
Texto produzido pelo Centro de Bioética do Cremesp, avalia ausência em plantão
RESOLUÇÃO 2
Perícia Médica: resolução Cremesp disciplina trabalho de peritos médicos
GALERIA DE FOTOS
HOMENAGEM
Destaque especial para o cirurgião Fares Rahal
Ciência e cirurgia
Renomado cirurgião geral paulista, Fares Rahal é conhecido por seus trabalhos científicos como, por exemplo, um estudo sobre as contusões abdominais em crianças, decorrentes da queda de tanques de lavar roupa soltos, comuns antigamente. Foi também pioneiro no Brasil na utilização do açúcar na cicatrização de feridas cirúrgicas. Hoje, aos 75 anos, continua em atividade como professor titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, um dos líderes da área V (estômago, duodeno e obesidade) e presidente da Comissão Científica do Departamento de Cirurgia.
Seus olhos brilham quando fala, com muito respeito, de ambas instituições. “Minha vida toda de cirurgião devo a elas. A Santa Casa de São Paulo e a Faculdade de Ciências Médicas têm um corpo clínico e acadêmico de destacada atividade no meio médico nacional, principalmente pela postura ética e científica”.
Para Fares, tiveram sempre lugar de destaque na sua existência: “em primeiro lugar, minha família e, logo em seguida, minha vida profissional”. Casado há 45 anos com Samira, tem quatro filhas e um filho – dois engenheiros, duas advogadas e uma fonoaudióloga – e oito netos. “Devo muito do que sou à minha mulher, de quem sou eterno devedor pelo desvelo e carinho que dedica a mim e aos nossos filhos”, agradece.
Em plena forma física, além de “caminhar muito”, joga tênis cerca de três vezes por semana. Outros hobbies são: ler e viajar. E, desde 1996, acrescentou a seus afazeres mais uma atividade: gerenciar uma fazenda no interior de São Paulo, que herdou do pai – “me traz grande satisfação, principalmente a pecuária”, comenta.
“Considero-me um indivíduo privilegiado. Em primeiro lugar, por causa de meus pais, cuja imagem é inesquecível; pela minha mulher e meus filhos, que sempre me apoiaram; pelos colegas com quem convivi e sempre me dedicaram apreço, e pela Santa Casa e sua Faculdade, que me proporcionaram os meios de crescer cientificamente”, ressalta.
Tanque e açúcar
A história começou quando, em um plantão, atendeu uma garota que havia tido uma contusão abdominal por causa da queda de um tanque de lavar roupas. Em seguida, observou que os tanques soltos eram bastante comuns na época, principalmente entre a população de baixa renda. Elaborou o estudo “Contusão Abdominal – O Tanque como Agente Causal”. O trabalho teve grande repercussão e influenciou um vereador a apresentar um projeto de lei na Câmara Municipal de São Paulo – aprovado – obrigando a fixação dos tanques (veja, ao final do texto, ilustração do alerta, divulgado na época).
Fares escutou, pela primeira vez, que o açúcar comum, comprado nos supermercados, poderia ser utilizado nas feridas cirúrgicas em um congresso na Argentina. De volta ao Brasil, fez estudos com seus colegas Emílio Athié, Victor Pereira e análise bacteriológica sob a responsabilidade de Igor Mímica, que comprovaram a ação bactericida e bacteriostática da substância. “Até hoje o açúcar é utilizado com este fim”, assegura.
“Profissão vencedora”
Para Fares, sua escolha pela Medicina foi, talvez, sonhada por seu pai, imigrante libanês naturalizado brasileiro. “Na época, só havia três profissões gabaritadas: Medicina, Advocacia e Engenharia e meu pai admirava especialmente os médicos, os quais considerava pessoas de muito padrão, ou seja, íntegras, socialmente diferenciadas e vencedoras na profissão”.
A formatura aconteceu em 1956, na Escola Paulista de Medicina. Mas em 1953, ainda como acadêmico, já freqüentava a Santa Casa, convidado por Pedro Jabur e Oscar Monteiro de Barros, então chefe da primeira Clínica de Medicina de Homens. “Aprendíamos ouvindo o debate dos casos”, conta. Ao mesmo tempo, freqüentava a enfermaria do professor Jairo de Almeida Ramos, na EPM. Em 1956 conheceu “o brilhante cirurgião Emílio Athié”, com quem trabalhou na Santa Casa e no Hospital Regina Coeli. “E, assim, fui me formando cirurgião”. Operou também no Instituto de Aposentadora e Pensão dos Industriários (IAPI), na Santa Casa e no Hospital 9 de Julho onde formou dupla famosa com João Fava.
A partir de 1958, começou a trabalhar na Santa Casa, no primeiro Departamento de Cirurgia de Homens, chefiada por Sebastião Hermeto Jr. Graças à extraordinária visão e empenho do professor Emílio Athié e do provedor da instituição na época, Christíano Altenfelder Silva, surgiu, em 1963, a Faculdade de Ciências Médicas. Foi criado, também por Athié, o Departamento de Cirurgia da Santa Casa, onde Fares começou a trabalhar. “Foi uma época maravilhosa. Os cirurgiões eram brilhantes e o prestígio da Santa Casa de São Paulo cresceu no Estado e em todo o país, pois dava oportunidade para quem quisesse progredir baseado na ética e no conhecimento”, destaca. Fez livre docência em 1974 e tornou-se professor titular (1978) e chefe do Departamento de Cirurgia, culminando uma carreira acadêmica e científica – até hoje com intensa participação em congressos e artigos em publicações científicas nacionais e estrangeiras. Participou, também, de 160 bancas examinadoras de mestrado, doutorado, livre docência, professores titular e adjunto, entre outras.
Diferenças
Fares lamenta que a Medicina tenha mudado desde quando se formou e a exerceu ativamente, para os dias de hoje. Dois fatores, na sua opinião, colaboraram para isso: “em primeiro lugar, a pletóra de escolas médicas – o que, aliás, o Cremesp combate seriamente – deu motivo para a formação de profissionais sem o necessário substrato para exercer uma medicina de padrão”. Em segundo, acrescenta, “a mudança substancial do tipo de clínica que o médico tem que atender atualmente. No passado, aquela era, predominantemente, privada, com o fator confiança presente em ambos os lados”. Era, “tácito, um relacionamento no qual o médico participava como especialista e coadjuvante da vida do doente. Hoje, infelizmente, a medicina é plenamente socializada e os médicos, na sua maioria, estão submetidos às imposições dos convênios médicos, com todos os percalços e deficiências existentes”.
Acredita que apenas a diferenciação profissional, o respeito absoluto ao bem estar do paciente e a melhoria necessária no relacionamento entre os convênios e os médicos farão subsistir a profissão médica em nível adequado. “A medicina continua sendo uma profissão fascinante que, se exercida com princípios éticos e científicos, e atualização permanente, continua vencedora porque tem como meta fazer bem ao próximo”, resume.