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HOMENAGEM
Azarias de Andrade Carvalho, um dos mais importantes pediatras brasileiros


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Edição 214 - 06/2005

HOMENAGEM

Azarias de Andrade Carvalho, um dos mais importantes pediatras brasileiros


Vida dedicada às crianças e aos adolescentes



Conciliar a função acadêmica ao atendimento prestado a crianças e adolescentes, durante toda sua carreira, foi sempre o desafio de um dos mais importantes pediatras brasileiros,
Azarias de Andrade Carvalho, 90 anos. Ele liderou, por exemplo, a criação do Programa de Pós-Graduação em Pediatria e Ciências Aplicadas à Pediatria do Departamento de Pediatria da Unifesp/EPM, em 1979.




Em 1974, Azarias foi responsável pela criação do setor de gastroenterologia pediátrica da EPM. Sua preocupação era dar um atendimento especializado às crianças e  implantar  métodos diagnósticos específicos. O setor cresceu e, a partir de 1982, foi iniciada a formação de mestres e doutores com teses relacionadas à Gastroenterologia Pediátrica. A disciplina de Gastroenterologia só foi criada oficialmente em 1985.

A criação do Setor de Saúde Mental da EPM, inicialmente chamado de Setor de Higiene Mental, também partiu de uma iniciativa de Azarias, no início da década de 60. Ele defendia a necessidade de integrar os aspectos físicos e os emocionais. O objetivo principal era atender crianças até os 12 anos de idade e adolescentes grávidas de 10 a 19 anos.

A preocupação com a saúde do adolescente culminou com a criação, em 1993, do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente (CAAA). Contando com uma equipe multidisciplinar formada por médicos, nutricionistas, educadores físicos, assistentes sociais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, dentistas, psicólogos e pedagogos, o CAAA realiza atendimento gratuito à população na faixa etária de 10 a 19 anos. Atualmente, cerca de 50 pessoas trabalham no Centro, mas por seis anos o atendimento ficou a cargo apenas de Azarias, do médico Antonio da Silva Queiroz e mais dois estagiários.
 
Ensino

Azarias esteve também na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Fmusp), onde defendeu tese de livre-docência e onde, garante, deixou uma enorme quantidade de amigos e bons colegas, mas preferiu dedicar-se à reestruturação da Pediatria na EPM.

Para a construção do Departamento de Pediatria foi necessário esclarecer junto à Congregação a importância da atenção à saúde da criança: “era preciso mostrar que os cuidados eram diferentes, existem peculiaridades especiais, diferentes das do adulto, que devem ser integradas no preparo do médico. “Não foi tranqüila a luta para reestruturar a Pediatria em face do destaque que, na época, era dado aos problemas e às patologias do adulto, menosprezando as das crianças e dos jovens, que alguns resumiam, jocosamente, em mamadeira, diarréia e birras. Esqueciam-se ou não levavam em consideração que, no Brasil, os menores de 15 anos,  os futuros adultos, representavam mais de 45% da população e a mortalidade infantil oscilava   entre 100 e 200 casos a cada mil nascidos, chegando, em muitas regiões a bem mais”, recorda Azarias.

Como fruto de toda a luta e da conscientização progressiva da direção da escola, houve renovação curricular com aumento substancial na carga horária dedicada ao ensino da Pediatria e oportunidade para melhor aproveitamento dos ensinamentos ministrados pelos docentes. “Assim, o ensino da Pediatria iniciou-se na quarta série e o sexto ano transformou-se em Internato”.

Paciência e calma

Após a reestruturação do Departamento de Pediatria, Azarias conseguiu implantar três novas disciplinas no curso: Pediatria Clínica, Puericultura-Pediatria Social e Neonatologia. “Um dos pontos difíceis foi a reconquista do direito dos docentes da Pediatria assistirem aos recém-nascidos. Por desavenças anteriores, não podiam ingressar no berçário, domínio absoluto da cátedra de Obstetrícia. Com paciência e calma, conseguimos autorização para tal”.

A especialidade cresceu e foram implantados o internato, a residência, o mestrado e o doutorado. A pós-graduação sensu-strictu em Pediatria foi a segunda ou terceira a ser implantada na área clínica na escola e a quarta no Brasil.

Com essa extensa experiência, o professor Azarias resume: “a chefia de departamento deve atuar ativamente nos colegiados da instituição para defender as necessidades de seu Departamento no que se refere à assistência aos doentes, ao ensino e à pesquisa e, aos docentes, alunos e funcionários, sabendo compreender e respeitar as possibilidades e dificuldades da instituição como um todo. Foi isso que procurei fazer”.

“Dei chance aos mais jovens”

Azarias de Carvalho nasceu em Araraquara em 19 de julho de 1915 e formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1938. O interesse pela especialidade surgiu durante o curso. No ano de sua formatura estagiou como acadêmico, no Serviço de Pediatria da Policlínica de Botafogo.

De volta a São Paulo, em 1939, ingressou como médico assistente voluntário na cátedra de Pediatria e Puericultura da Escola Paulista de Medicina, passando, no ano seguinte, a ocupar o cargo de assistente efetivo. Nessa época a Pediatria era dirigida pelo professor Pedro Alcântara, auxiliado por Renato Woiski.

Recebeu o título de livre-docente em 1956, pela EPM. Dois anos depois, após o afastamento definitivo de Pedro Alcântara, foi convidado a assumir interinamente a chefia do Departamento de Pediatria. Em 1963,  já como professor catedrático de Pediatria e Puericultura, Azarias foi empossado chefe da disciplina. Ocupou o cargo até 1979, quando deixou de se candidatar ao cargo por considerar que deveria “dar oportunidade aos docentes mais jovens, mais ativos e mais entusiasmados”.

Aposentou-se logo depois: “pedi a aposentadoria antes da idade compulsória, que seria em 1982. Voltei, então, a ocupar a posição confortável e gratificante de docente voluntário desta Escola amiga, posição esta que exerci no início de minha carreira universitária e que até hoje exerço com prazer e satisfação”.


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