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NOTAS 2
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HISTÓRIA DA MEDICINA
Roberto Geraldo Baruzzi


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Edição 210 - 02/2005

HISTÓRIA DA MEDICINA

Roberto Geraldo Baruzzi


Dedicação à saúde do índio

Um índio disse ao médico Baruzzi que quando ele morrer fará um Quarup – homenagem indígena aos mortos – muito bonito, mas ele agradeceu e disse, brincando, que “não tem pressa”.

Conhecido por sua dedicação ao trabalho com os índios do Xingu, o médico clínico Roberto Geraldo Baruzzi, de 75 anos, relembra que seu interesse pelos índigenas surgiu quando participava das caravanas médicas formadas para atender a população ribeirinha no Araguaia.

O trabalho no Projeto Xingu, contudo, não afastou Baruzzi de outras atividades. Professor titular da Escola Paulista de Medicina (EPM), médico da Caixa Econômica Federal, atendendo consultas particulares, aposentou-se em 1996. Fez curso de Medicina Tropical, em 1962; e de Saúde Pública, na Bélgica, em 1967.

Casado, pai de três filhos, não gosta de falar de sua vida pessoal, mas não esconde o orgulho que tem de suas duas netas: “elas gostam muito de mim e eu delas”, brinca, com os olhos brilhando. Nos momentos de lazer, a leitura e a dedicação à área indígena, o artesanato e as exposições, são seus passatempos prediletos.

Os amigos dentro da universidade e no Parque do Xingu são muitos: “me adaptei muito aos índios; uma vez quando estava no Xingu, durante o Quarup, que é a homenagem que os índios fazem ao morto, um representante da tribo disse que quando eu morresse ia fazer um Quarup muito bonito para mim. Eu agradeci e brinquei com ele dizendo que não tinha pressa”.

Tudo começou com as caravanas

“Em 1963, seis anos depois de formado, li no jornal A Gazeta que caravanas saíam de São Paulo e iam até o Vale do Araguaia atender a população cabocla e indígena que ali habitava. A partir daí me engajei nelas”, conta Baruzzi. Foi quando teve contato com os índios brasileiros: “os primeiros povos que conheci foram os Carajás, os Tapiapé e os Goioti”. Mas, o caminho que o levou até o Projeto Xingu foi marcado por coincidências.

Em uma das viagens que levava a caravana médica de volta a São Paulo, o avião da Força Aérea Brasileira (FAB) pousou no Parque Índigena do Xingu e os funcionários do parque solicitaram atendimento médico: “fui então prestar socorro ao índio que estava doente”, lembra. Interessado no trabalho realizado pelos irmãos Villas Bôas, procurou encontrá-los.

Os irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas, fizeram parte da Expedição Roncador-Xingu, que durou 13 anos para conhecer as povoações ribeirinhas do Rio Xingu. Na primeira tentativa soube que um dos irmãos havia se submetido a uma pequena cirurgia no Hospital Santa Catarina, na cidade de São Paulo e decidiu visitá-lo: “quando cheguei, ele já tinha recebido alta”.

A segunda foi durante uma palestra proferida pelo sertanista Orlando Villas Bôas no Centro Histórico e Geográfico de São Paulo: “fui com o intuito de encontrá-lo, mas não o conhecia. Cruzei com ele no corredor e só o cumprimentei, perdendo de novo a oportunidade”.

O encontro de Baruzzi com os Villas Bôas foi um acaso. Um trabalhador do parque precisou de atendimento médico e Orlando foi levá-lo à EPM e, assim, o médico conseguiu finalmente conversar com ele: “partiu do Orlando o convite para que nós fossemos trabalhar no Xingu, numa época em que havia elevada mortalidade entre os índios, e a malária atacava de forma terrível. Fomos numa equipe, sempre com o avião da FAB, e na volta traçamos um plano organizado de ação médica. Com essa proposta fizemos um convênio muito simples no qual a EPM se comprometia a colaborar na assistência aos índios e o parque, a facilitar o deslocamento e receber as equipes”, explica.

Na ocasião, o parque era independente e o convênio foi assinado por Orlando Villas Bôas, como diretor do Xingu, e por Walter Leser, que foi secretário de Saúde por duas vezes e, na época, era professor de Medicina Preventiva da faculdade. Dois anos depois surgia a Fundação Nacional do Índio (Funai), estabelecendo um acordo formal com a EPM.

Visitas periódicas
No início, as visitas periódicas das equipes médicas despertavam a curiosidade de todos os habitantes do parque. O primeiro passo foi implantar um plano de vacinação e ficha de acompanhamento médico para todos os índios. O convênio previa, além de visitas periódicas, socorro médico de urgência em caso de epidemia e a abertura do Hospital São Paulo como centro de retaguarda para atendimento a casos mais graves.

Baruzzi coordenou o Xingu da EPM até 1996, ano em que se aposentou e assumiu o cargo de consultor científico do programa. Desde então, a coordenação ficou com Douglas Rodrigues “meu discípulo, que vem trabalhando com pleno êxito”, orgulha-se Baruzzi.
Segundo o médico, o sucesso do programa Xingu da escola deve-se a três fatos: “é bem aceito pela população local; nós respeitamos a medicina tradicional dos índios e eles passaram a receber os benefícios de dois sistemas de forma harmoniosa; e a participação de estudantes da EPM que, uma vez formados, dão continuidade ao programa”.

Desde 2004, a EPM atende os índios das regiões Central e Norte do Parque, um total de 2.500 índios, dos 4.500 que habitam o parque. A região Sul passou a ser atendida pela Funasa e é provável que logo o governo assuma o atendimento a toda a população do parque. “Assim, a universidade cumprirá só o seu papel primordial no acordo, que é formar profissionais da própria comunidade”. A escola desenvolve também cursos de formação de agentes indígenas de saúde e atividades de pesquisa, visando conhecer as principais doenças da área.

Em julho de 2005, o convênio entre a EPM e o Parque do Xingu completa 40 anos. Para comemorar a data, Baruzzi, Douglas e os outros médicos do programa estão organizando um ciclo de palestras, exposição e o lançamento do livro que conta a atuação da Escola Paulista de Medicina no atendimento a população indígena do parque.

Situação atual

Para Baruzzi é um equívoco pensar que o Xingu não representa a realidade dos povos indígenas brasileiros. “O tratamento diferenciado se deve ao fato de o primeiro contato ter sido feito por pessoas que tinham uma visão diferenciada, como a dos irmãos Villas Bôas”.

Baruzzi e Douglas apontam o problema dos índios desaldeados. “As pesquisas populacionais consideravam como índios só os que vivem em aldeias, hoje se sabe que mais da metade da população indígena habita até grandes capitais. Por isso, o mais recente senso do IBGE mostrou que 700 mil pessoas se autodenominam índios. Desde 1999, todos os índios aldeados são atendidos por um dos 34 Distritos Sanitários Especiais Índigenas criados pelo Ministério da Saúde. Hoje se investe três vezes mais no atendimento de saúde ao índio do que para os não índios”, ressalta Douglas.

Baruzzi aponta que ainda existem índios não contatados: “informações da Funai mostram que há grupos pequenos na mata, ou índios nômades, que ainda não tiveram qualquer contato com a população não índia. A filosofia da Funai é não intervir, a menos que se torne necessário, se esse grupo for ameaçado de alguma forma. Às vezes eles citam que existem 35 grupos não contatados, mas ao certo não se sabe”.


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