CAPA
EDITORIAL
Medida Provisória 232: novas regras de tributação entram em vigor em abril, sobrecarregando ainda mais de impostos pessoas físicas e jurídicas
ENTREVISTA
Isac Jorge Filho - novo presidente do Cremesp desde 1º de janeiro
POSSE
Conheça a composição da nova diretoria do Cremesp
CREMESP 1
A posse do novo presidente do Cremesp, Isac Jorge Filho, que substitui Clóvis F. Constantino, presidente do primeiro período da gestão
CLASSE MÉDICA EM MOVIMENTO
A meta deste ano é implantar a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos
CONJUNTURA
A questão do aumento da tributação sobre a prestação de serviços
ESPECIAL
Série SUS: o Jornal do Cremesp ouviu diretores de sete hospitais universitários na capital e no interior
ENSINO 1
Prova prática para Residência Médica começa a ser realizada em algumas Faculdades de Medicina do país
ENSINO 2
Acredite: MEC pode autorizar a abertura de mais cursos de Medicina na capital
ATUALIZAÇÃO
O atendimento de casos de infarto agudo do miocárdio em hospitais não-especializados
CREMESP 2
Propaganda Sem Bebida: especialista americano no assunto garante que estamos no caminho certo
NOTAS
Alerta Ético. Tema: o relacionamento entre profissionais de saúde no dia-a-dia de trabalho
ANOTE
Guia do Cremesp. Consulte os vários serviços oferecidos por esta Casa.
HISTÓRIA
Reportagem especial com Luiz Gonzaga Pinto Saraiva, médico e fotógrafo
GALERIA DE FOTOS
HISTÓRIA
Reportagem especial com Luiz Gonzaga Pinto Saraiva, médico e fotógrafo
“Se não posso fazer nada pelo paciente vou dar pelo
menos atenção e carinho”
“Algumas pessoas perguntam em que país da Europa eu fiz as minhas fotos. Ninguém imagina que na Santa Casa exista tanta beleza, mesmo porque em lugar nenhum da Europa existem essas flores; só aqui no Brasil, um país tropical”. Assim o médico citologista Luiz Gonzaga Pinto Saraiva define seu hobby predileto, a fotografia.
Seguindo os passos do avô, o doutor Arlindo de Carvalho Pinto, Saraiva optou pela Medicina como profissão. “Eu sempre gostei da área da saúde. Meu avô era médico clínico e adorava a Medicina, e muitas vezes eu o acompanhei nas visitas aos pacientes. Assim, decidi que profissão queria”, explica Saraiva.
Formado pela Escola Paulista de Medicina, em 1950, e especializado em Citologia, dedicou toda sua vida profissional ao atendimento dos pacientes do Hospital das Clínicas e da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Recorda-se com tristeza da época em que teve de optar por um dos locais de trabalho: “eu gostava muito do HC, mas não tinha tempo para atender nos dois hospitais e acabei escolhendo a Santa Casa”.
Como a fotografia, a Medicina exerce fascínio sobre Saraiva, que considera vital o contato com o paciente. “Não fico só no laboratório, faço as punções e colho o material dos pacientes para só depois analisá-lo. Para mim estar com as pessoas é a parte mais agradável do trabalho”.
Santa Casa
A história de Saraiva se confunde com a da Santa Casa. Durante os 52 anos de trabalho no hospital, percorreu os corredores, observou atentamente a arquitetura e buscou os melhores ângulos para fotografar.
“Esses tijolos vieram da Inglaterra de navio. É uma pena que já não exista arquitetura como essa, construções bonitas e bem feitas”, lamenta o médico. “Mas a riqueza de detalhes que a foto possibilita é fascinante. Por exemplo, podemos observar o contraste, as torres já gastas e corroídas pelo tempo”.
O médico acompanhou de perto a construção do Hospital Santa Isabel, que fez com que o Complexo progredisse. “O atendimento sempre foi muito bom; era o único hospital da cidade, inclusive funcionando como hospital-escola para os alunos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Fmusp) antes da construção do HC”.
A avaliação de Saraiva sobre as mudanças na Medicina é boa: “foram muitos avanços, hoje temos coisas fantásticas, meios magníficos de diagnóstico e tratamento”. E ressalta: “o mais importante é tratar bem o doente. Primeiro porque ele é doente, e depois porque é uma pessoa humilde, que vem procurar a Santa Casa porque não é um hospital pago. Eu acho que a gente deve, ao lado da assistência médica e da técnica, dar uma palavra de carinho, de apoio, transmitir um pouco de amor ao paciente”.
Como professor de Histologia dos alunos do 1º ano da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia e acompanhando os alunos do 4º e 5º anos quando passam pelo laboratório de análises clínicas, Saraiva recebe deles muita dedicação e garante: nunca teve problema com nenhum. “Os estudantes são pessoas boas, atenciosas e respeitosas, enfim, querem muito aprender o que tenho a ensinar. Por isso, gosto tanto de ser professor”. Os amigos de faculdade foram muitos. Recorda-se com saudade: “mais da metade da minha turma já faleceu, sou um remanescente”.
Família de Médicos
Nascido em 1926, na cidade de São Paulo, lembra-se das viagens para o município de Itanhaém, litoral paulista, onde adorava nadar e observar a natureza, e do sítio do avô, em Cotia, no qual auxiliava o Dr. Arlindo no cuidado com as flores.
Casado há 52 anos com dona Carmem, garante que o companheirismo é o principal elemento da relação duradoura: “antes de tudo é preciso ser amigo e eu e minha esposa acompanhamos de perto um ao outro. Ela é professora de inglês e sempre me auxiliou na minha carreira, dando suporte nos momentos difíceis. Ainda hoje participa ativamente da minha vida profissional, comparecendo comigo a festas de confraternização. Conversamos muito a respeito de todos os assuntos”.
Além do avô, um tio e um irmão médico, dois dos seis filhos de Saraiva seguiram a Medicina: “minha filha atua na cidade de Cascavel, no Paraná, e meu filho, José Francisco Saraiva, é diretor da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas”. Oito netos completam a família de Saraiva e um deles pretende ser médico.
Seu lazer preferido era ir à praia e nadar no mar. “Eu atravessava o canal de Itanhaém a nado. São cerca de 30 minutos nadando, ninguém tinha coragem de fazer: todos preferiam ir pela ponte”. Ele continua passando as férias no litoral: “Sempre gostei de praia. Meu pai era engenheiro e fez todo o levantamento topográfico da Serra do Mar. Por isso, moramos muito tempo em Itanhaém, município do qual meu avô foi prefeito sanitário”.
Fotografia
O gosto pela fotografia e a apreciação da natureza vêm desde da infância. “Me recuso a fotografar se não tiver flores, esse é o meu tema. Além das flores, só faço fotos científicas das lâminas vistas ao microscópio”.
As fotos de Saraiva foram expostas no Museu da Santa Casa, em 2003, com o tema “Flores da Misericórdia”. Uma boa exposição, segundo ele, aberta ao público e com grande visitação. No painel inicial, onde constava a introdução ao tema, escreveu:
"a beleza dos jardins e a arquitetura centenária do Hospital Central da Santa Casa fazem rever as cores e espaços onde o rosa das azaléias, o vermelho do flamboyant e da cerejeira, o violeta das quaresmeiras e o exuberante amarelo do ipê, ressaltam o contraste gótico da arquitetura de 1884, propondo uma suspensão do tempo ou a ilusão de uma paisagem antiga pertinente ao continente europeu. Assim, no coração de São Paulo, em meio à selva de concreto, perpetua-se uma clareira de trabalho, paz, amor e fraternidade."