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Entrevista | Frida Plavnik
“Os recém-formados saem das escolas com pouco conhecimento sobre hipertensão arterial”
A Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) se posicionou contrária à nova diretriz do National Heart, Lung and Blood Institute (NIH), que diminuiu o ponto de corte para definir a hipertensão e dar início ao tratamento.
Nesta entrevista ao Jornal do Cremesp, a vice-presidente da SBH, Frida Plavnik, explica por que a diretriz brasileira manteve as atuais recomendações e também fala sobre as deficiências na formação dos alunos para o diagnóstico e tratamento da hipertensão, propondo a realização de cursos sobre o tema.
Qual o cenário epidemiológico da hipertensão no País?
Dados do Ministério da Saúde (MS) apontam que a população brasileira apresenta uma prevalência estimada de 23% a 25% de hipertensos, com base em inquérito domiciliar
(Vigitel – Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico). Mas ele contém um equívoco: a pesquisa não considera como hipertensos aqueles que se declaram como tal e estão sob tratamento, não entrando, portanto, nas estatísticas. Por isso, a SBH estima que esse número atinja em torno de 30%, o que representa cerca de 36 milhões de hipertensos no País. Entre 50% e 60% da população idosa têm a doença. Além disso, crianças e adolescentes têm desenvolvido mais precocemente a hipertensão em função da vida sedentária e hábitos alimentares inadequados, associados à predisposição genética.
A SBH se posicionou contrária à nova diretriz adotada pelo American College of Cardiology sobre as mudanças nos níveis pressóricos para estabelecer se um indivíduo é hipertenso. Por quê?
A grande surpresa da diretriz americana – feita com base no estudo Systolic Blood Pressure Intervention Trial (Sprint) do National Heart, Lung and Blood Institute (NIH) – foi a mudança no ponto de corte para definir o indivíduo como hipertenso. Nele, a pressão arterial sistólica de 120 mmHg ou diastólica de 80 mmHg já é tida como elevada e, acima disso, 130/80 mmHg, o indivíduo já é classificado como hipertenso. Ao baixar os níveis de corte para definir hipertensão, a prevalência da doença aumenta em cerca de 14%. Mas a SBH entende que não existem dados suficientemente fortes que
justifiquem essa mudança, diferente do classicamente conhecido para o valor de corte
de 140/90 mmHg, em relação ao qual a literatura é mais consistente.
No que diferem as diretrizes da SBH?
Na VI diretriz, estabelecemos como pontos de corte para hipertensos estágios 1 e 2, com risco cardiovascular baixo e médio, uma meta < 140/90 mmHg; e para aqueles com hipertensão e comportamento limítrofe com risco cardiovascular alto, muito alto, ou com três ou mais fatores de risco ou doença associada (DM< síndrome metabólica, e lesão em órgão-alvo ou hipertensos com doença renal crônica com proteinúria > 1,0 g/L), a meta de 130/80 mmHg. A 7ª DBHA (2016) manteve essas metas. Assim, a recomendação de tratamento medicamentoso para indivíduos com pressão limítrofe, de acordo com a 7ª diretriz, requer a presença de doença cardiovascular pré-existente ou a presença de risco cardiovascular alto. Do contrário, a orientação para o médico é que o paciente adote mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares.
O Exame do Cremesp tem apontado que grande parte dos participantes não sabe diagnosticar ou tratar hipertensão. Como avalia essa situação?
É bastante preocupante. Os estudantes saem das escolas com pouco conhecimento sobre a abordagem de pacientes com hipertensão arterial. Por isso, em reunião com a diretoria do Cremesp, propusemos a realização de cursos com o objetivo de fortalecer o que recomendamos na diretriz e uniformizar o entendimento da doença e como tratá-la, evitando exames desnecessários que oneram o sistema de saúde e não são decisivos para um tratamento adequado. Queremos mostrar passo a passo como o paciente deve ser avaliado, qual o tratamento mais adequado de acordo com cada caso e quando, de fato, é necessária outra investigação além do exame clínico.
Como serão os cursos sobre hipertensão no Conselho?
Discutiremos, com base em estudo de casos, como classificar hipertensão, estratificar os fatores riscos, abordagem ao paciente, revisão de tratamento, comorbidades etc. Será dirigido aos médicos recém-formados e também àqueles que queiram se atualizar sobre as nossas recomendações.
Outra modalidade de curso será realizada dentro do Programa de Educação Médica Continuada (PEMC). Serão módulos disponibilizados on-line no site do Conselho, focando os principais aspectos no atendimento à hipertensão, presentes no dia a dia do médico que fica na ponta do atendimento, tanto ambulatorial como nos serviços de emergência.