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CAPA

EDITORIAL (pág. 2)
Mauro Aranha - Presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág. 3)
Helena Nader


INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 4)
Modernização do Iamspe


PRESCRIÇÃO (pág. 5)
Substâncias antimicrobinos necessitam de receituário específico


BENEFÍCIO (pág. 6)
Bolsas de Bioética


ATIVIDADES DO CREMESP (pág. 7)
Núcleo de Defesa Ética em Remuneração Médica


EXAME DO CREMESP (págs. 8 e 9)
Cresce o número de reprovados em comparação ao ano de 2015


SAÚDE PÚBLICA (pág. 10)
Decisões em políticas sobre drogas devem ser colegiadas


AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág. 11)
Agenda


EU, MÉDICO (pág. 12)
Urologista leva atendimento médico a comunidades ribeirinhas


JOVENS MÉDICOS (pág. 13)
Cartilha do Cremesp orienta residentes sobre assédio moral


EDITAIS (Pág. 14)
Convocações


BIOÉTICA (pág. 15)
Análise ética de pesquisas pode sofrer mudanças com projeto aprovado no Senado


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Edição 345 - 03/2017

ENTREVISTA (pág. 3)

Helena Nader


"Ciência, Tecnologia e Educação devem ser políticas de Estado"

 

 

Os índices da pesquisa no Brasil são positivos e estão bem acima da média mundial. É o que afirma a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Bonciani Nader, doutora em Biologia Molecular pela Unifesp, com pós-doutorado na University of Southern California . “Em 2015, publicamos 61.122 artigos e subimos para a 13 posição global”, revela. Nesta entrevista ao Jornal do Cremesp, ela também fala sobre a questão da destinação de recursos para pesquisas no País e dos desafios da sociedade para que Ciência e Tecnologia (C&T), e Educação, sejam entendidas como políticas de Estado e não simplesmente como políticas de governo.

Helena Nader é professora titular da Unifesp e membro titular da Academia de Ciências de São Paulo, da Academia Brasileira de Ciências e da World Academy of Science (TWAS) for the advancement of science in developing countries. Também é professora visitante da Loyola Medical School (Chicago, EUA), W. Alton Jones Cell Science Center (Nova Iorque, EUA), Instituto Scientifico G. Ronzoni (Milão, Itália) e Opocrin Research Laboratories (Modena, Itália).

Como avalia o estágio da pesquisa hoje no Brasil em relação a outros países em desenvolvimento?

Nossos números são positivos. Temos índices de publicação bem acima da média mundial e ocupamos boa posição entre os emergentes. O SCImago Journal & Country Rank, reconhecido universalmente, mostra que, em 1996, os pesquisadores brasileiros publicaram nas principais revistas científicas do mundo 8.784 artigos, número que dava ao Brasil a 21ª posição no ranking mundial da produção científica. Em 2015, publicamos 61.122 artigos e subimos para a 13ª posição global. Nossa produção científica se multiplicou por sete nesses 20 anos, enquanto a mundial cresceu 2,8 vezes. Dentre os países do BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), perdemos somente para a China, cujo crescimento da produção científica foi 14,5 vezes, entre 1996 e 2015. Na comparação com os demais membros do bloco, o Brasil ficou acima: a produção da Índia cresceu 5,9 vezes; a da África do Sul, 4,0; e da Rússia, 1,8. Quase empatamos com a Coreia do Sul, que multiplicou por 7,2 sua produção de ciência no mesmo período. Para comparar com outras economias emergentes: o México cresceu 4 vezes e a Austrália, 3,5.

Em quais áreas temos destaque?

A atividade científica brasileira é bastante diversificada. Atuamos em um número grande de áreas e subáreas. Por isso, é difícil ou mesmo desaconselhável fazer inferências rápidas sobre áreas com maior ou menor destaque. Podemos destacar as áreas em que o Brasil já constituiu um universo considerável de pesquisadores e que têm uma produção de destaque em termos globais. As principais são: Agronomia, Veterinária, Zoologia, Parasitologia e Medicina Tropical. Focando exclusivamente o Brasil, cabe destacar que a área que mais cresceu em termos de publicação de artigos foi a de Medicina Clínica. Segundo apuração da Thomson Reuters, no quinquênio 1985-1989, foram publicados cerca de 1.500 trabalhos. Já no período 2010-2014, foram aproximadamente 38 mil. Foi a área que mais cresceu.

Quais os principais desafios e limites da atuação da SBPC sobre as questões que determinam os rumos das políticas de C&T e da Educação no Brasil?

O principal desafio da SBPC é contribuir para que Ciência e Tecnologia (C&T) e Educação sejam entendidas como políticas de Estado e não simplesmente como políticas de governo, e que os dispêndios financeiros com essas áreas sejam considerados investimento no futuro do País e não como despesas correntes do dia-a-dia dos orçamentos públicos. A partir dessa matriz de pensamento, vamos para a ação cotidianamente. Posso garantir que nos últimos dez anos a SBPC procurou de alguma maneira contribuir para os rumos dos principais assuntos sobre Educação e C&T que chegaram ao nosso conhecimento.

Em que áreas se concentram mais fortemente os recursos destinados à pesquisa no País? Quais requerem maior atenção?

Em termos de grandes áreas, as que recebem mais recursos públicos para pesquisa são Agropecuária e Saúde, nessa ordem. Quanto às áreas que requerem maior atenção do governo, creio que o ponto inicial da discussão deva ser colocado em dois níveis. O primeiro, quais são os problemas que o Brasil tem e que serão resolvidos pela ciência brasileira. O segundo, que modelo de desenvolvimento o Brasil quer ter e como a ciência deve colaborar. O problema é que, infelizmente, ainda não adquirimos a maturidade cultural e política necessária para formular essas questões. Então, fica difícil dizer qual área da ciência deve merecer mais atenção se o País ainda não definiu o que quer da ciência.

O programa Ciência sem Fronteiras tem apresentado bons resultados? Em que moldes ele deve continuar?

A ideia do Ciência sem Fronteiras é muito boa e não deve ser abandonada. Ciência é um bem universal, as instituições de ciência estão procurando se internacionalizar cada vez mais, então o Brasil e a Ciência só têm a ganhar quando jovens brasileiros vão para o mundo vivenciar diferentes experiências acadêmicas. Creio, sim, que alguns ajustes devem ser feitos, como na definição de instituições que receberão nossos estudantes e a implantação de um sistema de acompanhamento da trajetória deles quando voltam ao Brasil.

Entre os novos médicos registrados no Cremesp, há mais mulheres que homens. A pesquisa brasileira caminha no mesmo sentido?

Caminha. A tomar-se por base o número de bolsas de mestrado e doutorado, no início deste século, a maior quantidade delas, 51,5%, ia para homens. Atualmente, as bolsas para mulheres já superam os 50%. Em algumas áreas o grande predomínio masculino está diminuindo, como nas ciências agrárias e nas engenharias. Já nas Ciências da Saúde como um todo o predomínio das mulheres aumenta cada vez mais. Por outro lado, o número de homens es-

tá aumentando, se bem que mais modestamente, em áreas de predomínio de mulheres, como nas Ciências Humanas e em Letras e Artes.


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