CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Mauro Aranha - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 3)
Wilson Pollara
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 4)
Hospital do Homem é referência na rede pública em doenças do rim e próstata
ALERTAS ÉTICOS (pág. 5)
Serviço que expunha profissionais que atrasavam consultas é retirado do ar
SAÚDE PÚBLICA (pág. 6)
Febre amarela
PERÍCIA (pág. 7)
Cremesp orienta médicos sobre curatela a pacientes com doenças mentais graves
DEMOGRAFIA MÉDICA PAULISTA (págs. 8 e 9)
Número de médicos em SP cresce mais do que o da população em geral
TRABALHO (pág. 10)
Cremesp intensifica fiscalização de hospitais públicos do Interior
EVENTOS (pág. 11)
Agenda
EU, MÉDICO (pág. 12)
Dermatologista é referência no atendimento de pele negra
CÓDIGO DE PROCESSO ÉTICO (pág. 13)
Novas regras darão mais agilidade aos trâmites judicantes
EDITAIS (Pág. 14)
Convocações
BIOÉTICA (pág. 15)
Divulgação de dados de pacientes
GALERIA DE FOTOS
EU, MÉDICO (pág. 12)
Dermatologista é referência no atendimento de pele negra
"Já atendi uma menina de 12 anos que disse para a mãe que, quando crescesse, queria ser igual à ‘tia Kat’. Para mim, isso não tem preço”
Katleen Conceição é, provavelmente, a única dermatologista no Brasil especializada em pele negra, realizando atendimentos em São Paulo e Rio de Janeiro. Mas, para chegar a essa realidade, enfrentou muitas dificuldades e preconceitos.
Interessou-se pela especialização durante um congresso de Dermatologia nos Estados Unidos, quando conheceu uma sociedade de dermatologistas norte-americanos negros. Voltou certa de que gostaria de tratar a pele negra no Brasil.
A dermatologista lembra que a pele negra tem especificidades que a diferem da branca: por ter mais melanina, mancha com mais facilidade; a vitamina D é menos absorvida; a foliculite é uma tendência natural; nem todo tipo de laser para depilação funciona bem; a estria aparece mais, e várias outras intercorrências comuns e particulares desse tipo de pele. A ocorrência mais perigosa está ligada à crença de que as pessoas de pele negra estão mais protegidas dos impactos dos raios solares, o que faz com que essa população muitas vezes descuide do uso do filtro protetor solar. Isso acaba resultando em uma incidência alta de câncer de pele nesse grupo.
Há aproximadamente cinco anos, Katleen começou a ter aulas sobre procedimentos a laser, mas questionava o fato de os cursos só abordarem o tratamento da pele branca. “Eu perguntava como se fazia o procedimento na pele negra e me olhavam como se eu estivesse falando um absurdo. Achavam que negro não tinha poder aquisitivo para pagar o tratamento”, conta a médica.
Realizou diversos cursos no exterior e aprendeu a ajustar o laser para aplicar na pele negra, testando em si mesma e em seus irmãos. “Precisei fazer vários testes. Não tinha como estabelecer um parâmetro, não havia nenhum livro que ensinasse”, diz Katleen.
Trajetória na Medicina
Incentivada pelo pai, o médico dermatologista João Paulo Conceição, escolheu o curso de Medicina. Para a especialidade, também trilhou os passos do pai. Iniciou a carreira na Dermatologia durante estágio de dois anos na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Depois, fez prova para pós-graduação e foi aprovada em primeiro lugar na própria Santa Casa e em oitavo lugar, na Universidade Federal Fluminense (UFF). Como já havia estagiado na Santa Casa, decidiu cursar a UFF para ter uma experiência nova.
Após se formar, trabalhou como dermatologista no Exército por sete anos, tendo adquirido muitos aprendizados, além de atender no consultório do pai. Atualmente atende em clínicas particulares no Pacaembu (SP) e no Leblon (RJ), e supervisiona o Ambulatório da Pele Negra da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.
Para o futuro, sonha em equipar um ônibus com todo o aparato necessário para atender comunidades carentes e ajudar pessoas realmente necessitadas, na tentativa de resgatar a autoestima de quem sofre com doenças de pele e está insatisfeito com sua aparência. Mas, para isso, diz que precisa trabalhar muito para ter condições de manter esse projeto filantrópico.
Representatividade negra
Ela afirma que, pela sua especialização, a maioria de seus pacientes são negros. “Muitas pessoas não entendem o porquê de terem de aguardar tanto por uma consulta com uma médica”, relata Katleen. Mas para os pacientes negros, maioria em seu consultório, há razões de sobra. Em uma foto postada numa rede social, uma seguidora comentou que a médica a representava por ser negra. “Isso é importante. É como eu, que também não me enxergo na maioria das personalidades de destaque da sociedade, mas me vejo em pessoas como a Preta Gil, por exemplo, que não se encaixa nos padrões de beleza. Já atendi uma menina de 12 anos que disse para a mãe que, quando crescesse, queria ser igual à ‘tia Kat’. Para mim, isso não tem preço”, diz ela.
Assim como ela tem referências na Dermatologia – como os norte-americanos Pearl Grimer, Susan Taylor e Eliot Batalha Júnior, todos atuantes em universidades dos Estados Unidos –, Katleen apoia quem quiser seguir a mesma especialização que ela e tiver a intenção de fazer a diferença na vida dos pacientes.
Redes sociais
A dermatologista iniciou um blog em 2010 para difundir informações sobre pele. Katleen diz que não era muito familiarizada com a internet, mas que passou a usar todas as redes sociais, nas quais é acompanhada por muitas pessoas. No Instagram, sua rede de maior audiência, tem mais de 93 mil seguidores.
E foi por meio das redes sociais que a irmã da atriz Taís Araújo lhe enviou uma mensagem para marcar uma consulta para sua mãe. Depois disso, começou a atender a própria atriz e o marido, o também ator Lázaro Ramos, passando a ficar conhecida nas redes sociais de vários artistas que postam fotos com ela.
A médica diz que sempre foi muito espontânea e brincalhona e posta muito em suas páginas no Instagram e Facebook, além de ter feito participações em programas de TV e em outras mídias, falando sobre cuidados com a pele. Ela atribui a receptividade do público ao fato de falar de forma simples e direta, e ser autêntica.