CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Mauro Gomes Aranha de Lima
ENTREVISTA (Pág. 3)
Gonzalo Vecina
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág.4)
Hanseníase
SAÚDE PÚBLICA (Pág. 5)
Abelhas africanas
SAÚDE SUPLEMENTAR (Pág. 6)
Honorários médicos
ASSISTÊNCIA À SAÚDE (Pág. 7)
Hospital Universitário
PLATAFORMAS MÉDICAS DIGITAIS (Págs. 8 e 9)
Aplicativos
LITERATURA MÉDICA - (Pág. 10)
Nova publicação
AGENDA DA PRESIDÊNCIA (Pág.11)
Inclusão social
EU MÉDICO (Pág. 12)
Manuel Mindlin Lafer
JOVENS MÉDICOS (Pág. 13)
RM
CONVOCAÇÕES (pág. 14)
Comunicados
BIOÉTICA (pág. 15)
União homoafetiva
GALERIA DE FOTOS
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág.4)
Hanseníase
Instituto Lauro de Souza Lima contribui para
redução da hanseníase em São Paulo
Fachada do Instituto Lauro de Souza Lima, que realiza mais de 23 mil
consultas/ano de dermatologia
O antigo leprosário Asilo Colônia Aymorés, em Bauru (SP), é tristemente lembrado pela sua história de internações forçadas e centenas de doentes isolados. Foi assim desde sua fundação, em 1933, até meados dos anos 1960, quando se iniciou o período de desinternação, também forçada. Atualmente, o Instituto Lauro de Souza Lima – como foi rebatizado – é um centro de ensino e pesquisa para a hanseníase e outras doenças da pele, além de hospital. De colônia fechada para o mundo, da qual todos queriam se afastar, o instituto agora atrai estudantes e profissionais do Brasil e do exterior. “As pessoas tinham medo de passar por aqui. O instituto se tornou referência do Estado de São Paulo, o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde”, diz Wladimir Fiori Delanina, diretor clínico da instituição.
Os números mostram a mudança de perfil da doença e das funções do instituto. Quando o diretor chegou ali, em 1977, havia cerca de 1,7 mil doentes e familiares morando na colônia. Hoje são 26 casas e 56 moradores, entre ex-pacientes e familiares. O hospital tem 60 leitos – no início de junho apenas 28 estavam ocupados –, reservados para casos graves e complexos, geralmente cirurgias. A maior parte da produção do instituto é ambulatorial: em 1977, foram feitas 29.505 consultas médicas, “a grande maioria em pacientes com diagnóstico de hanseníase”, diz o diretor. Em 2002, já com a diminuição do estigma da doença e a popularização do instituto como hospital de dermatologia, foram 22.831 consultas médicas, mas apenas 2.961 de portadores de hanseníase. No ano passado, somaram 23.485 consultas, 2.468 delas de hanseníase. As demais foram por diferentes doenças de pele. O instituto tem 333 funcionários e 23 médicos.
Preconceito
Doença milenar associada ao “pecado” e à pobreza, a “lepra” ganhou novo nome, mas ainda é cercada de estigma e desconhecimento por parte da população, e por profissionais da saúde, o que retarda o diagnóstico.
Esse quadro explica porque o Brasil não atingiu, em 2015, a meta estabelecida pela OMS para que a hanseníase fosse eliminada como problema de saúde pública. Para isso, o País deveria ter um máximo de um caso para cada 10 mil habitantes. A prevalência média, no Brasil, ainda é de 1,42 casos, puxada por Estados das regiões Norte e Centro-Oeste, que concentram 80% dos doentes. No Mato Grosso, a prevalência chega a 9,03 casos por 10 mil habitantes, no Maranhão são cinco casos, no Tocantins e Pará, pouco mais de quatro. Na outra ponta estão o Rio Grande do Sul, com menos de 0,3 caso por 10 mil habitantes; Santa Catarina, com 0,4 caso; seguida de São Paulo, com taxa aproximada de 0,5 caso por 10 mil habitantes.
Em 2014, segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil teve 24.612 novas notificações de hanseníase, 1.793 delas na população com menos de 15 anos, e 31.568 pacientes em tratamento. Na década de 1980, eram cerca de 250 mil doentes em tratamento, número altíssimo, já que os casos eram tratados pela vida toda. A prevalência já caiu bastante porque o tratamento tem um começo e fim de no máximo dois anos.
Aumento da incidência
Na avaliação da equipe do instituto, ainda falta muito para o Brasil atingir a meta proposta pela OMS, já que a incidência de casos novos em crianças e jovens está aumentando. “Isto significa que há adultos contagiantes e sem diagnóstico e tratamento”, afirma Noêmi Garcia de Almeida Galan, pesquisadora científica do instituto.
Doença infectocontagiosa que atinge a pele e o sistema nervoso, sem uma vacina específica, a hanseníase tem longo período de incubação. Mesmo na sua forma mais agressiva, o paciente só se torna transmissor depois de seis a oito anos, e já na primeira dose de polioquimioterapia, deixa de transmitir. “O diagnóstico precoce cortaria a cadeia. E também quando se melhoram as condições imunológicas do hospedeiro, a chance de desenvolver a doença é menor. Alimentação, saneamento e cuidados básicos de higiene, essa é a receita da prevenção”, diz Delanina.
Mas como a redução das desigualdades e da pobreza é um processo longo, o atalho é buscar maneiras de informar e sensibilizar população e profissionais de saúde. Esta é, justamente, uma das frentes de pesquisa que o instituto desenvolve. Em parceria com o Ministério da Saúde, a instituição vem produzindo modelos assistenciais, como os procedimentos para diagnóstico, tratamento e prevenção de incapacidades. “Temos estudos para buscar compreender e intervir na representação social e psicológica que a doença traz ao indivíduo, fazendo-a escondê-la da família e da sociedade, retardando o diagnóstico e tratamento, o que contribui para aumentar as chances de desenvolver incapacidades permanentes”, diz Noêmi.
Produção científica
O instituto está envolvido em várias pesquisas básicas e aplicadas. Na área da imunologia, por exemplo, a instituição estuda imunomarcadores e anticorpos específicos que possam explicar por que algumas pessoas pegam a doença e outras não, ou por que algumas desenvolvem reações enquanto outras não, além de quais testes são úteis para se identificar familiares com o bacilo. Há também estudos na área da genética que buscam compreender a relação bacilo e hospedeiro e entre o bacilo e os medicamentos.
Outra frente de atuação do instituto é o ensino. A Residência Médica foi implantada ali ainda em 1977. O instituto também realiza o treinamento de profissionais de rede pública de saúde do Brasil e do exterior, sobretudo de países da África portuguesa. São 15 cursos regulares ao ano, de 40 horas cada. Também oferece campo de treinamento e estudo para estagiários e pesquisadores. Como centro de referência estadual para atenção em Hanseníase, e como Centro de Referência Nacional para pesquisa e ensino em Hanseníase para o Ministério da Saúde, o Instituto atua também como Centro Colaborador da OPAS/OMS para treinamento de pessoal em controle e pesquisa da doença.