CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 3)
Francisco Lotufo Neto
ANUIDADE 2016 (pág. 4)
PF pode obter desconto
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 5)
Centro de Referência DST-Aids
PESQUISA (Pág 6 e 7)
Violência no Trabalho
DEMOGRAFIA MÉDICA - (Pág 8 e 9)
Médicos no Brasil
TRABALHO DO MÉDICO (Pág. 10)
Exame do Cremesp
PLENÁRIA (Pág 11)
Temática - Cannabis
EU MÉDICO (Pág. 12)
Danny Lescher
JOVENS MÉDICOS (Pág. 13)
Greve
CONVOCAÇÕES (pág. 14)
Editais
BIOÉTICA - (pág. 15)
Imigração
GALERIA DE FOTOS
EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho - Presidente do Cremesp
Violência contra médicos: não somos culpados!
Frustrados com a saúde pública, os pacientes acabam
descontando no médico a precariedade dos hospitais
e a demora do atendimento
É extremamente preocupante a frequência com que médicos são agredidos nos locais de trabalho por pacientes, familiares ou acompanhantes. Em pesquisa encomendada pelo Cremesp ao Datafolha, com amostra probabilística de 617 médicos, 64% dos entrevistados já tomaram conhecimento; 17% já vivenciaram e conhecem um colega que vivenciou um episódio de agressão, seja física, verbal ou psicológica; e 5 % foram pessoalmente agredidos no último ano!
O respeito interpessoal é fundamental para que haja uma relação de confiança e boa convivência entre médicos e pacientes. Mas, diante de um cenário hostil, em que seis em cada dez colegas referem que os pacientes os respeitam cada vez menos, os episódios de violência tornam ainda mais difícil o exercício da Medicina. Principalmente se levarmos em conta as condições de infraestrutura, salário e falta de perspectiva de uma carreira que exige longos anos de estudo e dedicação, quase que total, daqueles que a exercem.
Lamentável é que essas agressões não ocorrem raramente. De acordo com os dados da pesquisa, 32% dos entrevistados afirmam que esses episódios acontecem com frequência. Isso é comprovado na parte da pesquisa que aborda a visão da população. Nesta última, 35% dos cidadãos entrevistados presenciaram pessoas agredindo verbalmente os médicos; 14% presenciaram ameaças psicológicas; e 4% até agressões físicas.
Não é surpreendente que apenas 45% dos médicos referem satisfação com a profissão. Ameaças ao próprio bem-estar e à saúde física e mental dos profissionais, além das condições de trabalho precárias, levam muitos a terem decepções com a carreira que idealizaram. Vários estão infelizes, com medo, e inseguros com a rotina de trabalho.
Os entrevistados afirmaram que a maioria dos problemas com pacientes ocorre durante as consultas, o que caracteriza um ambiente de trabalho extremamente desfavorável. A infraestrutura é fator determinante para os momentos de fúria dos pacientes. Frustrados com a saúde pública, acabam descontando no médico aquilo que é decorrente da precariedade dos hospitais e da demora do atendimento.
A maioria dos profissionais concorda que investir nas condições de trabalho (33%), regularizar e fiscalizar hospitais, consultórios e postos de saúde (27%) seriam os primeiros passos para começar a erradicar os casos de violência. As providências imediatas devem ser tomadas pelas autoridades. Se isso não ocorrer, a desmotivação entre os médicos crescerá, e os estragos serão irreparáveis para a saúde dos pacientes. Não podemos permitir essa catástrofe! Não podemos nos omitir!
Opinião
Relação médico-paciente
Carlos Alberto Monte Gobbo
Coordenador do Departamento de Fiscalização do Cremesp
“Antigamente a simples presença do médico irradiava vida. Antigamente os médicos eram também feiticeiros. ‘Mestre, diga uma única palavra, e minha filha será curada...’. A vida circulava nas relações de afeto que ligavam o médico àqueles que o cercavam. Naquele tempo os médicos sabiam dessas coisas. Hoje não sabem mais…”. Esse trecho do livro O Médico, do escritor e filósofo Rubem Alves, contrasta com os resultados da pesquisa do Cremesp, realizada pelo Datafolha (veja nas págs. 8 e 9), que avaliou a relação médico-paciente e a crescente incidência de agressões.
Por parte dos médicos, temos um descontentamento com a profissão, e as causas estão relacionadas ao comportamento dos pacientes (mais beligerantes e desconfiados), falta de profissionais e de estrutura adequada para a boa prática médica, sobrecarga de atendimento e má remuneração. Os médicos com menos de 34 anos de idade são os mais agredidos, talvez por atuarem no atendimento público e de urgência com grandes deficiências estruturais, sem que estejam preparados para tal.
A maior queixa dos pacientes é a falta de atenção e pontualidade e a brevidade na consulta. Não podemos esperar do paciente, que recorre ao médico padecendo de algum sofrimento — muitas vezes agravado por um sistema de saúde de difícil acesso —, que se porte de forma amistosa e confiante. Devemos estar preparados para evitar conflitos e harmonizar o ambiente de atendimento.
A pesquisa nos auxilia a entender melhor as agressões, diagnosticar suas causas e discuti-las, para que possamos reverter a degradação da relação médico-paciente. Conselhos e escolas de Medicina, sociedades de especialidades e entidades públicas e privadas de assistência à saúde precisam agir em conjunto. Mas isso será insuficiente se não sensibilizarmos os médicos de que temos que nos unir em torno de um projeto de saúde que resgate a confiança e a credibilidade na assistência médica.
Estamos perdendo a capacidade de avaliar e perceber essa complexa e maravilhosa integração com os pacientes. Com isso, nos distanciamos da essência da atividade médica, como diz, novamente, Alves: “É. A vida lhes pregou uma peça. E hoje a imagem que eles veem, refletida no espelho, é a de uma unidade biopsicológica móvel, portadora de conhecimentos especializados, e que vende serviços... Os médicos sofrem por saudade de uma imagem que não existe mais”.