CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho, presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 3)
Álvaro Nagib Atallah
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 4)
Hospital Estadual Pérola Byington
FORMAÇÃO MÉDICA (pág. 5)
Medicina para o paciente
EXAME DO CREMESP (pág. 6)
11ª Edição
ENSINO MÉDICO (Pág. 7 a 9)
Escolas de Medicina
EPIDEMIA (pág. 10)
Aedes aegypti
AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág. 11)
Parceria Cremesp
EU, MÉDICO (pág. 12)
Paulo Sérgio Brasil Júnior
VIOLÊNCIA (pág. 13)
Campanha conjunta
CONVOCAÇÕES (pág. 14)
Informações úteis ao profissional de Medicina
BIOÉTICA (pág. 15)
Ernesto Lippman*
GALERIA DE FOTOS
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 4)
Hospital Estadual Pérola Byington
Pérola Byington comemora recorde de fertilizações
no SUS
Além da alta taxa de sucesso nas gravidezes, hospital se destaca
pelo tratamento do câncer de mama e acolhimento
de vítimas de violência sexual
Hospital da capital paulista écentro estadual
de referência da mulher
O médico Mario Cavagna mostra com orgulho as fotos dos “bebês de proveta”, dispostas no mural do quarto andar do Hospital Estadual Pérola Byington, em São Paulo. Ali estão os retratos de Bernardo, Ivan, Sandra, Kauê, Lavínia. O diretor do Setor de Reprodução Humana do hospital comemora o melhor índice obtido pelo serviço: neste ano, foram 41,2% de gravidezes já na primeira transferência de embrião. No ano passado, chegou-se a 34,8%, em 423 ciclos. “Temos índices mais favoráveis que qualquer clínica particular”, compara. O médico tem outro motivo de orgulho: além da alta taxa de sucesso, todo o procedimento é feito pelo SUS, sem custo para o casal.
Centro de referência
Mas há outros diferenciais que marcam o Pérola Byington, centro de referência da mulher fundado em 1994, com seus 12 andares em operação partir de 2000. Enquanto o Setor de Reprodução Humana comemora nascimentos, os outros serviços lutam para que a vida e a dignidade das mulheres sejam respeitadas. Um deles é o tratamento do câncer de mama. O outro é o Núcleo de Atenção Integral à Mulher Vítima de Violência Sexual – Núcleo AVS –, cuja porta nunca fecha. As pacientes chegam abaladas, cheias de culpa, medo e vergonha. Uma equipe multidisciplinar foi treinada para acolhê-las em espaço reservado.
As vítimas, em geral, chegam trazidas pela polícia. Passam pelo médico, psicólogo, assistente social e perícia médica, que colherá material para o exame do DNA, usado depois para identificar e processar os culpados. Com a perícia e investigadores no local, as vítimas escapam do Instituto Médico Legal (IML), outro caminho humilhante para elas. No hospital, os corredores e salas do serviço separam as vítimas das outras pacientes.
Vítimas adolescentes
De 1994 a 2014, o Núcleo AVS atendeu quase 40 mil vítimas, dez a cada dia – um número muito abaixo da realidade, já que menos da metade dos casos são denunciados. Outro dado assustador é a porcentagem de adolescentes e crianças entre as vítimas: do total de casos, 40,8% têm menos de 14 anos, 30,5% são adolescentes e 28,6%, mulheres adultas. Entre 2000 e 2003, as mulheres eram maioria. “O número de crianças e adolescentes vem crescendo rapidamente”, diz Luiz Henrique Gebrim, diretor do hospital. Entre as crianças, 30% são do sexo masculino. No mesmo andar do atendimento foi instalada uma brinquedoteca, uma tentativa de reduzir o trauma do abuso que as crianças sofreram.
O Núcleo AVS se vale de outros cuidados para proteger a intimidade e a vida das vítimas. Duas viaturas da Polícia Civil foram pintadas de branco, de forma que quando a mulher chega ao hospital, ou é levada para casa, o veículo se pareça com uma ambulância. Assim não chama a atenção quando chega ao hospital e, especialmente, quando leva a vítima para casa.
“Cuidamos para que as mulheres sejam respeitadas e protegidas”, diz Jefferson Drezett, responsável pelo Serviço de Violência Sexual e Aborto Legal. Esses cuidados estão longe de serem seguidos nas dependências da polícia: “em muitas delegacias, elas são humilhadas e esperam por horas”, diz o médico.
Estupro e aborto legal
Junto com a violência e a humilhação do estupro, as mulheres carregam a ameaça de uma gravidez e de infecções por doenças sexualmente transmissíveis, entre elas o HIV, hepatites e sífilis. Seguindo o protocolo, o médico indica o tratamento e cuidados a serem adotados. A gravidez resultante de estupro é uma das situações que permite o aborto por lei. E quase todas as mulheres optam pela interrupção da gravidez, dizem os médicos.
De 1994 a 2014, foram 1.329 abortos legais decorrentes de estrupo no Pérola Byington. Em 2014, somaram 178, um a cada dois dias, volume 23,1% superior a 2013.
O Projeto Bem-Me-Quer, como o programa do Núcleo AVS é batizado, ganhou prêmios internacionais, entre eles do Banco Mundial e da Organização Mundial da Saúde. O projeto é referência para países da América Latina e Caribe
Câncer de mama
Numa única sala e na mesma consulta, as pacientes do Pérola Byington com suspeita de câncer de mama passam por todos os exames, inclusive a biópsia. Caso a suspeita se confirme – e se for necessária –, a cirurgia é marcada e realizada em 20 dias. O percurso todo, da suspeita à cirurgia, é feito em 32 dias – metade do tempo preconizado pelo Ministério da Saúde e inferior aos seis meses de espera, como ocorre em outros hospitais do País. “A mulheres chegam a estranhar os cuidados e a rapidez do tratamento”, diz Jorge Shida, diretor da Mastologia do Pérola Byington.
Não se trata só de reduzir os transtornos dos deslocamentos e a angústia da espera. O resultado é um aumento importante das chances de cura. Para as pacientes em estágios avançados, a sobrevida em dez anos é de apenas de 30%. Nos estágios iniciais, pode chegar a 80%. Na média, a sobrevida no Pérola Byington é de 70%. A intenção é chegar a 90%, índice dos melhores centros do mundo.
Para atingir esse patamar, é preciso que todas as mulheres façam mamografia regularmente. Iniciando o tratamento logo no início, elas têm 70% de cura. Em 60% desses casos, não há necessidade de retirar a mama.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), neste ano são 57,1 mil casos novos no País, com 13,3 mil mortes. Na Grande São Paulo, são 6 mil casos, metade deles atendidos por convênios médicos. Os outros 3 mil chegam para o SUS. Desses 1,3 mil são tratados no Pérola Byington.