CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho, presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 3)
Tomas Salerno
FORMAÇÃO MÉDICA (pág. 4)
Capacitação à distância
IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS (ISS) (pág. 5)
Regularização de Débitos
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 6)
Hospital Filantrópico
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE (pág. 7)
Núcleo de Apoio Técnico e de Mediação
ESPECIALIDADES (págs. 8 a 9)
Valorização profissional
AUDIÊNCIA PÚBLICA (pág. 10)
Superlotação de hospitais
AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág. 11)
Avaliação acadêmica
EU, MÉDICO (pág. 12)
Conexão Brasil-Nepal
JOVENS MÉDICOS (pág. 13)
Residência Médica
SANTAS CASAS (Pág. 14)
Acesso à saúde: Meu direito é um dever do governo
BIOÉTICA (pág. 15)
Ética em pesquisa
GALERIA DE FOTOS
EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho, presidente do Cremesp
Crise na assistência pediátrica
Alerta aos médicos, aos pacientes e à sociedade
“Desde a década de 90 diminuiu em mais de 45% o número de candidatos ao título de especialista em pediatria”
A assistência à saúde é hoje uma atividade multidisciplinar envolvendo diversas profissões. Não obstante, o ato médico continua imprescindível, se não na maioria das ações, com certeza nas mais essenciais. Assim, mesmo com o risco de parecer tautológico, podemos afirmar que não existe medicina sem médicos!
Paradoxalmente, com a criação do SUS e a ampliação dos serviços de atendimento vivemos uma conjuntura de insatisfação crescente. A população, cada vez mais consciente dos seus direitos, demanda atenção às suas necessidades que, infelizmente, estão longe de ser contempladas. Mesmo para aqueles privilegiados que podem pagar por um plano de saúde privado, a situação também não é confortável.
Para o lado dos médicos, o cenário igualmente é cada vez mais insatisfatório. Paralelamente às baixas remunerações, tanto pelos entes estatais como privados, convivemos com más condições de trabalho e falta de perspectivas profissionais. Além de sermos, quase sempre, imputados pelos desatinos de um sistema de saúde que está distante das necessidades da população.
Por exemplo, vejamos o que ocorre em uma das especialidades de maior relevância para a comunidade. Recentemente a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) publicou pesquisa sobre perfil e atuação dos médicos pediatras. Entre os dados mais alarmantes, observa-se que sete em cada dez entrevistados sofreram algum tipo de violência no exercício profissional. Desses, 63% relataram agressão psicológica, 10% física e 4% vivenciaram algum tipo de cyberbullying.
Além desse fato lamentável, os pediatras em geral trabalham em 2,5 ou mais lugares cerca de 60 horas semanais. Por outro lado, uma consulta desse especialista nos planos de saúde na média é inferior à R$ 75,00 brutos. Se descontados impostos e despesas de manutenção de consultório etc, no final o profissional receberá menos de R$ 15 por uma consulta.
Nessas condições não é surpreendente que estudantes de medicina e jovens médicos se desinteressem por essa especialidade. Isso talvez explique porque desde a década de 90 diminuiu em mais de 45% o número de candidatos ao título de especialista em pediatria, não obstante o aumento do número de escolas médicas no País.
A crise na Pediatria, a falta de especialistas e o risco que isso representa ao sistema de saúde são temas da reportagem de capa desta edição do Jornal do Cremesp. Essa situação de extrema gravidade exige a união de todos, em especial das entidades de classe na luta pela dignidade e valorização dos médicos.
Opinião
A Obstetrícia perde o professor Bussâmara Neme
Krikor Boyaciyan
Diretor vice-corregedor e coordenador da Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia do Cremesp
Faleceu no dia 12 de maio o professor Bussâmara Neme, aos 99 anos. Nascido em Piratininga, Interior de São Paulo, no dia 9 de setembro de 1915, filho de libaneses, era uma das maiores expressões da Ginecologia e Obstetrícia brasileira. Após concluir o curso ginasial, seu pai queria que ele administrasse o estabelecimento comercial da família, mas Bussâmara resolveu seguir os passos do irmão mais velho, Feres Neme, e cursar Medicina. Assim, ingressou na Faculdade Fluminense de Medicina, na qual cursou até o quarto ano. Transferiu-se para a Faculdade de Medicina da USP (Fmusp), formando-se em 1941. Iniciou suas atividades na Clínica Obstétrica da faculdade, sob a direção do professor Raul Briquet.
Cinco anos após sua graduação, foi aprovado no concurso de livre-docência em Obstetrícia e, em 1953, em Ginecologia, ambos na Fmusp.
Foi professor da Fmusp-Ribeirão Preto, em 1958; da Faculdade de Medicina de Sorocaba (PUC), em 1964; da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 1966; e da FMUSP, em 1972, que chefiou e na qual se aposentou em 1985. Participou ativamente de incontáveis atividades acadêmicas e inúmeras publicações científicas, sendo o tratado de Obstetrícia Básica (1995) sua obra principal, referência nacional, adotado por gerações de médicos e estudantes.
No período entre 1970 e 1972, quando eu era estudante do 4º, 5º e 6º ano médico da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) frequentei, como estagiário concursado (plantões aos domingos), a Casa Maternal e da Infância Leonor Mendes de Barros (da antiga LBA), dirigida pelo professor Neme naquele tempo. Tive, então, a oportunidade de conhecê-lo. Admirava seus ensinamentos, especialmente as aulas práticas de aplicação de fórcipe (ficava bravo quando escrevíamos “fórceps”), a sua orientação em nossos trabalhos científicos, as caronas que nos dava em seu majestoso Mercury Cougar, ano 1969.
Deixa a esposa Ruth, com 97 anos, sua “companheira a toda prova”, como dizia, e os filhos Eduardo Sad e Paulo Alberto, eminentes obstetra e engenheiro, respectivamente. Certa vez, o notável pensador britânico Chesterton disse: “Há grandes homens que fazem com que todos se sintam pequenos. Mas o verdadeiro grande homem é aquele que faz com que todos se sintam grandes”. Assim era o professor Neme.