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CAPA

EDITORIAL (pág.2)
João Ladislau Rosa - Presidente


ENTREVISTA (pág.3)
Ives Gandra da Silva Martins


DROGADIÇÃO (pág.4)
Como superar o alcoolismo?


TRABALHO MÉDICO (pág.5)
Titulação obrigatória


SAÚDE PÚBLICA (pág.6)
Congresso discute o SUS


MOVIMENTO MÉDICO (pág.7)
Plano de Carreira de Estado


SAÚDE SUPLEMENTAR (pág.8)
Ato contra operadoras


ENSINO MÉDICO (pág.9)
Novo modelo de teste


INFORME TÉCNICO (pág.10)
Suspeita ou confirmação


AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág.11)
Aniversário da Academia de Medicina


COLUNA DO CFM (pág.12)
Artigos dos representantes de SP


JOVEM MÉDICO (pág.13)
Termo de Consentimento Esclarecido


ELEIÇÕES CFM 2014 (pág.15)
Voto será obrigatório


BIOÉTICA (pág.16)
Pacientes pediátricos em fase terminal


GALERIA DE FOTOS



Edição 313 - 04/2014

COLUNA DO CFM (pág.12)

Artigos dos representantes de SP


Uma questão de imagem


Desiré Carlos Callegari*
desire@portalmedico.org.br

“No afã de angariar votos e simpatias, o governo deixa rastros dos vários furos em sua malfadada atuação na saúde pública”



Se há algo que o governo atual sabe fazer é fazer parecer que resolve alguma coisa. Estamos diante de uma gestão absolutamente midiática, que pauta cada ação na análise matemática de riscos e vantagens. Nesse cenário de ensaiada espontaneidade, a imagem está acima de tudo. Talvez por isso mesmo, no afã de angariar votos e simpatias, o governo deixa rastros dos vários furos em sua malfadada atuação na saúde pública.

Sem conseguir confrontar as mazelas históricas que assolam a Saúde do País, o governo elegeu a categoria médica como o bode expiatório da vez para justificar a dificuldade de acesso e má qualidade da assistência oferecida na rede pública.

No entanto, contra fatos, números e argumentos, a posição do governo se fragiliza. Afinal, é difícil justificar as situações que se avolumam dia a dia nos hospitais e postos de saúde e que penalizam profissionais e pacientes.

O estudo recente apresentado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que faz uma análise das contas da segunda edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), confirma a pouca vocação dos gestores em investir na área da Saúde.

Das 24.066 ações sob a responsabilidade do Ministério da Saúde ou da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), prometidas no lançamento do PAC 2, em 2011, pouco mais de 10% foram concluídas até dezembro passado.  O pior é que a metade do que foi anunciado continua no papel, com perspectivas para lá de remotas de ver a luz do dia.

Não há dúvida de que diferentes desrespeitos se acumulam nesta fatura. Os médicos e outros profissionais da Saúde sofrem com a falta de infraestrutura de atendimento. Os pacientes, que também são contribuintes, não conseguem ver o retorno do que pagaram em impostos.

Por fim, a legislação, que deveria ser o balizador de todas as ações, fica relegada ao plano de peça de ficção. Passa a ser coadjuvante num enredo em que o governo finge que oferece o que a lei determina e a população, ainda sonolenta, não percebeu o tamanho da arapuca.

Ao denunciar essa situação, o CFM cumpriu seu papel institucional de apontar as fragilidades da gestão e cobrar as devidas providências. Na verdade, ao dar transparência às informações tratadas de forma reservada em alguns setores, o Conselho ajuda a sociedade e ao próprio governo, fazendo-o refletir e se posicionar de forma ativa ante uma crise sem precedentes.

Esperamos que um dia, o governo resolva abandonar o marketing e escutar o clamor das ruas e dos especialistas que exigem soluções efetivas. Faria bem demais ao Brasil ver a Saúde, finalmente, ser tratada como prio­ridade.


 



 

Invertendo valores


Renato Françoso Filho*
rfrancosof@gmail.com

“Devemos ter a coragem de dizer à população que somos operários da Saúde e vivemos de nosso difícil, estressante, mas honesto trabalho”

 

Já ultrapassamos, há muito, o tempo de ficarmos discursando para nós mesmos a revolta com a galopante desvalorização de nossa classe. Por anos a fio, bradamos entre nós o quanto temos perdido, não só em ganhos financeiros, mas em termos de reconhecimento junto à sociedade brasileira.

Estamos vivendo o tempo do ter e não do ser e, muito menos, o do saber. Quem tem valor no Brasil de hoje são os espertos, os ladinos (como se diz no interior), capazes de participar de negociatas, arranjos, interme­diações,  maracutaias. Longe de pretender radicalizar, em vários setores da vida civil, parte dos que vemos progredir e amealhar riquezas, salvo brilhantes exceções, são pessoas de alguma forma ligadas a interesses nem sempre nobres.

Nada contra o enriquecimento. Muito ao contrário. O que estou a discutir é a flagrante inversão de valores de nossa sociedade, aceita com pacífica naturalidade. Compartilhamos nossos am­bientes sociais e de trabalho com pessoas que chamamos de amigos, que desfilam ostentando riqueza sem nenhum pudor e de ninguém escondendo as fontes, nem sempre publicáveis, de seus rendimentos. Ao invés de serem responsabilizados e punidos pela sociedade, são condecorados e ocupam lugares de honra. Aceitamos que são pessoas vitoriosas e dignas do reconhecimento. Afinal, têm respeitáveis contas bancárias e, por vezes, até fazem filantropia. Enquanto isso, professores, educadores, pesquisadores e trabalhadores da Saúde vão sendo contemplados com os restos do que sobra do PIB nacional. No nosso caso, nós médicos ainda somos res­pon­sabili­zados quando as coisas da Saúde não dão certo. E dá-lhe programas de barateamento da atenção à Saúde, como se isso ainda fosse possível!

A edição de março da revista da APM traz um comparativo das remunerações dos médicos no âmbito do SUS e da Medicina Suplementar. Compara com o que reivindicamos expresso pela CBHPM, o que, convenhamos, já é sofrível e incompatível com a extensão e complexidade de nossa formação e a responsabilidade inerente aos nossos atos.

O problema é que a sociedade desconhece que toda a equipe médica (cirurgião, auxiliar, anestesista e instru­mentador) recebe do SUS, sabe-se lá quando, R$157 por uma amigdalectomia, R$248,61 por colecistecto­mia, R$124,84 por hemor­roidectomia, R$150,05 por cesariana e R$175,80 por parto normal. Isto para citar apenas alguns exemplos. Acrescente-se ainda que, em muitos casos, esses honorários são retidos por hospitais que passam também por dificuldades.

Se continuarmos a bradar para nós mesmos, que sabemos o quanto temos sido explorados e não reconhecidos, ficaremos todos muito irritados, mas não mudaremos nada. Devemos ter a coragem de dizer à população que somos operários da Saúde e vivemos de nosso difícil, estressante, mas honroso e honesto trabalho. Amamos o que fazemos e nos realizamos quando podemos fazê-lo bem feito. Mas merecemos ser valorizados em todos os sentidos, com remuneração digna e, acima de tudo, respeito.
 



(*)Desiré Carlos Callegari (titular) e Renato Françoso Filho (suplente) são representantes do Estado de São Paulo no Conselho Federal de Medicina

 

 


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