CAPA
EDITORIAL (p. 2)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (p. 3)
Florisval Meinão
FÓRUM SPDM (p. 4)
Perspectivas para a próxima década
CADASTRO MÉDICO (p. 5)
Vínculos empregatícios no CNES
QUEIMADOS (p. 6)
Protocolo de Tratamento de Emergência das Queimaduras
MOVIMENTO MÉDICO (p. 7)
Tentativas de negociação por melhores honorários prosseguem
FINANCIAMENTO DA SAÚDE (p. 8)
Ato público pela liberação de verbas para a Saúde
SUS (p. 9)
Suspensa transferência de leitos públicos para a saúde suplementar
PRONTOS-SOCORROS (p.10)
Plenária temática
TERMINALIDADE DA VIDA (p. 11)
Fórum coordenado pela Casa discutiu ortotanásia
COLUNA DO CFM (p. 12)
*Representantes de SP no Conselho Federal de Medicina
ANUIDADE 2012 (p. 13)
CFM define valores para o próximo ano
LEGISLAÇÃO (p. 14)
Resolução nº 1974/2011
CIRROSE HEPÁTICA (p. 15)
Transplante de fígado
BIOÉTICA (p. 16)
Os dependentes em situação de rua
GALERIA DE FOTOS
COLUNA DO CFM (p. 12)
*Representantes de SP no Conselho Federal de Medicina
Contra a epidemia da obesidade
Desiré Carlos Callegari*
desire@portalmedico.org.br
“Em lugar da simples proibição dos anorexígenos, o CFM defende a criação de mecanismos de fiscalização pela Anvisa”
Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um dos dez principais problemas de saúde pública do mundo, a obesidade vem crescendo em ritmo alarmante no Brasil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais da metade da população adulta brasileira está acima do peso.
Pesquisas indicam que o sobrepeso atinge mais de 30% das crianças entre 5 e 9 anos de idade, cerca de 20% da população entre 10 e 19 anos, e nada menos que 48% das mulheres e 50,1% dos homens acima de 20 anos. Entre os 20% mais ricos, o excesso de peso chega a 61,8% na população com mais de 20 anos. Também nesse grupo concentra-se o maior percentual de obesos: 16,9%.
Esses números dão ao fenômeno uma silhueta de epidemia. Se o ritmo atual se mantiver no Brasil, em dez anos o percentual de pessoas obesas representará cerca de 30% da população, idêntico aos Estados Unidos, campeão mundial do problema.
Diante disso, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e outras entidades médicas têm argumentado veementemente junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para impedir a edição de uma norma que proíbe a venda de medicamentos anorexígenos no país, o que pode causar sérios problemas para quem luta contra a obesidade.
O uso de inibidores de apetite é auxiliar eficaz para a redução de peso e não provoca efeitos colaterais graves. Essas são as principais conclusões do Estudo Scout (Sibutramine Cardiovascular Outcome Trial), uma importante pesquisa em escala mundial que destrinchou o tema.
Para os responsáveis pelo trabalho, quando se reduz o peso, os eventos cardiovasculares também diminuem em casos de pacientes com quadros de riscos graves, moderados e menores. O estudo foi realizado com base em dados de diferentes localidades, como México, Brasil, Austrália e em países da Europa. Foram avaliados os efeitos da sibutramina em cerca de 10 mil pacientes obesos com quadros de diabetes e doenças cardiovasculares, na maioria homens acima de 60 anos. Os dados foram analisados de 2001 a 2010, sendo que as conclusões apontam taxa de eventos adversos baixa e efetiva perda de peso.
O CFM tem alertado, às autoridades e à sociedade, sobre os riscos que uma medida restritiva dessas pode gerar. Em primeiro, muitos pacientes podem perder a luta contra a obesidade. Em segundo, porque contribui para a formação de um mercado paralelo desse tipo de droga. Além disso, há a agressão à autonomia dos médicos e dos pacientes de escolherem as opções terapêuticas válidas para enfrentar problemas de saúde.
Em lugar da simples proibição, o Conselho defende a criação de mecanismos de fiscalização pela Anvisa, como o que existe para o controle de antibióticos. Como representante do CFM junto à Agência, tenho defendido esses argumentos. Estamos convictos de que conseguiremos reverter a situação, em nome do bom senso e da saúde da população.
O cuidado das urgências
Renato Françoso Filho*
“São os profissionais devidamente valorizados que fazem a qualidade do atendimento à saúde”
O atendimento às urgências e emergências tem sido mais um dos maiores problemas da assistência médica que ainda não se conseguiu resolver no país. Faltam prontos-socorros. Cidades grandes e com bom poder econômico decidem não ter essas estruturas porque, como pensam, é muito caro mantê-las. Segundo a Resolução 2048/2002, do Ministério da Saúde (MS), as unidades hospitalares de atendimento em urgência e emergência tipo II devem contar com clínico geral, pediatra, gineco-obstetra, ortopedista, anestesiologista e assistente social. A Resolução 1451, de março de 1995, do Conselho Federal de Medicina também já definia a necessidade dessas especialidades médicas na constituição dos prontos-socorros.
A Portaria 1601, de 7 de julho, editada pelo MS, regulamentou as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), intermediárias entre a rede básica – UBAS, PSF, SAMU, hospitais – e as centrais reguladoras.
Interessante que essas portarias ministeriais são perfeitas, descrevem o número de profissionais habilitados necessários, importância dos treinamentos, tamanho da área física, interação entre os vários níveis de atenção, centrais reguladoras e suas respectivas competências. Certo é que não serão resoluções como essas que resolverão o enorme e complexo problema da urgência e emergência. Se não forem tomadas corajosas, destemidas e competentes atitudes, não serão modificadas as estatísticas de mortes evitáveis decorrentes da desassistência gerada pelo sistema. Faltam médicos treinados nessas unidades. Faltam porque se paga mal, não se oferecem condições de trabalho, estão expostos à insegurança e não existe programa de cargos, carreiras e vencimentos na maioria das mais de 640 cidades deste poderoso Estado da Nação.
O que esperar dos outros Estados? O que encontramos muitas vezes são médicos desmotivados e insatisfeitos pela falta de reconhecimento pelo poder público. As agressões e violências contra os médicos são publicadas todos os dias. Encontramos médicos atendendo 100 pacientes em 12 horas e ainda acompanhando pacientes em observação, solicitando exames, fazendo diagnóstico, encaminhamentos, providenciando remoções, conversando com familiares e centrais reguladoras na insana procura por vagas hospitalares, grande parte das vezes inexistentes. Várias prefeituras resolveram contratar as chamadas cooperativas que subempregam médicos, na maioria recém-formados, inexperientes, sem qualquer relação legal de emprego e, por isso mesmo, sem fidelização e vínculo com a cidade e a população. O fato é que os gestores somente se lembram da saúde nos seus comícios eleitorais. Depois dizem que o sistema de saúde é muito caro e que não há recursos. Aliás, são escassos principalmente porque não se prioriza o investimento em saúde.
Normas regulamentadoras, resoluções e portarias não resolverão essas questões. É preciso entender que são os profissionais devidamente valorizados que fazem a qualidade do atendimento à saúde.