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Mamadeiras de plástico oferecem riscos

Jornal Cruzeiro do Sul - Sorocaba - 21/08/2010 - Regina Helena Santos

As mamadeiras infantis de plástico - que chegaram há alguns anos no mercado, como solução para oferecer mais segurança, em substituição às versões de vidro - já não se mostram tão seguras assim. De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Estado de São Paulo (Sbem-SP), há índicios de que substâncias presentes em alguns tipos de plástico - especialmente uma conhecida pelo nome de Bisfenol A - em contato com o organismo, podem provocar importantes alterações no sistema endócrino. Por conta disso, o órgão iniciou campanha de alerta à população a respeito do uso criterioso de utensílios fabricados a partir deste tipo de material.

De acordo com a médica Ieda Therezinha Verreschi, endocrinologista da Sbem-SP e conselheira do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), a ação faz parte do princípio da precaução. “Não existe comprovação científica, mas indícios de que o plástico, dependendo da sua composição, pode gerar transtornos endócrinos, tanto em animais como em seres humanos. Alguns profissionais discordam disso, mas também não possuem estudos que comprovem o contrário”, comentou. A preocupação não diz respeito à simples utilização do plástico para acondicionar alimentos, mas ao seu uso na hora de congelar ou aquecer a comida ou bebida. “As temperaturas extremas provocam a liberação do bisfenol”, explicou Ieda. “A recomendação é que se tenha prudência no uso. Se deve aquecer o leite em outro recipiente e só depois que estiver na temperatura ideal este deve ser colocado na mamadeira de plástico para dar ao bebê”, explicou. Ou seja, deve-se evitar o aquecimento do leite na mamadeira - ou de qualquer outro alimento em potes plásticos - diretamente no micro-ondas, por exemplo. A preocupação maior se dá com as mamadeiras, entretanto, por conta do que a Medicina chama de “janelas de sensibilidade” em relação ao sistema endócrino, ou seja, fases da vida onde ocorre maior suscetibilidade aos desreguladores. E os bebês são os mais vulneráveis a esse contato, desde a vida intrauterina.

Em geral, as substâncias químicas que alteram o sistema endócrino - mais especificamente o Bisfenol A - podem causar, de acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia, prejuízos ao organismo humano como indução ao câncer, diabetes, obesidade, déficit de atenção, hiperatividade, precocidade sexual, modificações do desenvolvimento de órgãos sexuais internos, infertilidade, aborto, diminuição da qualidade e quantidade de esperma em adultos, endometriose, infertilidade, síndrome dos ovários policísticos, dentre outras doenças. Isso ocorre porque o componente tem similaridade com o hormônio feminino e da tireoide.

Em paralelo à ação da Sbem-SP, a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, do Ministério Público Federal em São Paulo (MPF/SP), instaurou inquérito civil público para apurar os possíveis efeitos nocivos à saúde causados pelo BPA. O procurador Jefferson Aparecido Dias determinou que sejam solicitadas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informações sobre a regulamentação da utilização da referida substância, cujo uso pela indústria já é proibido, para produção de mamadeiras, em países como Canadá, Costa Rica, Dinamarca, França, e em alguns estados e cidades dos Estados Unidos. A Anvisa, entretanto, sinaliza que no Brasil é permitido usar 0,6 mg de bisfenol por quilograma de plástico produzido, limite considerado seguro.


Nas ruas


Os perigos do plástico para a saúde - com grande destaque para a questão das mamadeiras - é pauta de debate entre a comunidade científica e até entre mães, em blogs pela internet, porém ainda é desconhecido por grande parte dos consumidores que circulam pelas ruas. Em Sorocaba, lojistas que atuam na venda de produtos para bebês, no centro da cidade, percebem que é pequeno o número de mães e pais que se mostram preocupados em comprar itens que atendam a determinados requisitos de qualidade. Muito mais que a composição do plástico, a atenção está voltada para o formato dos bicos. Alguns poucos consumidores se mostram informados. “Tem gente que já chega aqui olhando na parte de baixo para procurar o símbolo”, comentou a vendedora Claudete Cutschera, referindo-se ao número 7, desenhado dentro do triângulo, que indica a presença do Bisfenol A. As marcas mais conhecidas de fabricantes de itens para bebês, entretanto, já retiraram a substância de seus produtos. Um teste comparativo feito pela Associação de Consumidores Proteste, em outubro de 2010, com modelos de sete marcas - Dr. Brown’s, Kuka, Lillo, Mam, Neopan, Ninet e Nuk - apontou que todas as mamadeiras analisadas estavam livres da presença das substâncias químicas.

A futura mamãe Solange Ferreira de Almeida, de 32 anos, comprava mamadeiras no centro de Sorocaba e só soube do assunto ao ser informada pela reportagem. “Vou levar para a pediatra ver se está tudo certo. E, a partir de agora, vou prestar atenção nisso”. Já Cristina Barbosa, de 32 anos, grávida de quatro meses e moradora de Boituva, disse se preocupar com a qualidade do material da mamadeira, mesmo sem saber da importância da existência ou não do Bisfenol na composição do plástico. “Quando o plástico começa a ficar velho e amarelado, os desenhos saem, é hora de trocar”. Ela pretende seguir os passos da mãe, Socorro Barbosa, que criou os cinco filhos com uso de mamadeiras de vidro. “Lavava com água quente para esterilizar”, relembrou a dona de casa. Cristina diz que já percebeu que será difícil encontrar o produto no mercado, mas está disposta a procurar. “Vale a pena comprar, mesmo que seja mais cara”.

Veja como se proteger


A utilização de Bisfenol A para a produção de produtos de plástico deve ser informada ao consumidor pelo fabricante. Sua presença nas embalagens e utensílios pode ser percebida a partir da existência, na parte de baixo do próprio produto, do símbolo de um triângulo com o número 7 em seu interior - o que vale para mamadeiras e todos os outros tipos de utensílios. Algumas empresas já desenvolvem produtos sem a presença da substância, o que também é identificado, nos rótulos, pelos dizeres "BPA free" ou "livre de BPA". O Bisfenol A também está presente na resina epóxi, utilizada na fabricação de revestimento de latas para evitar a ferrugem e prevenir a contaminação externa.

No caso das latas, vale evitar o consumo de produtos acondicionados naquelas que possuem o BPA como revestimento interno. As embalagens de plástico não devem ser usadas para aquecer ou congelar alimentos e, se possível, devem ser substituídas pelas de vidro. Em relação aos filtros de água, a atenção também é importante para veridicar se as versões de plástico estão livres de BPA. Se possível, substituir por alumínio ou barro.

Apesar das mamadeiras serem o grande foco do debate, o Bisfenol A também pode estar presente em outros tipos de materiais, como adesivos, cadeiras, brinquedos, CDs, copos infantis, eletrodomésticos, eletrônicos, embalagens para acondicionar alimentos e bebidas, escovas de dente, garrafas reutilizáveis de água, mamadeiras, peças automotivas, revestimento interno de latas e vidros, sacola de supermercado, entre outros produtos plásticos, e em plastificantes, resinas de epóxi (colas, selantes dentários), solventes, lubrificantes industriais e derivados e tintas. Além do BPA, outros produtos também podem atuar como desreguladores do sistema endócrino, de acordo com a Sbem-SP, e devem ser usados com cautela: estrogênios sintéticos, antioxidantes, esmalte de unha, fitoestrogênios contidos em alimentos e medicamentos, fluído de freio, fungicidas, isolante elétrico, pesticidas e herbicidas e pisos.


Confira os tipos de plásticos e do que eles são produzidos


Os plásticos são materiais orgânicos sintéticos, produzidos a partir de resinas derivadas do petróleo e dotados de grande maleabilidade, por meio de calor e pressão, o que faz com que sejam aplicados na fabricação dos mais variados objetos. Os plásticos são divididos em sete tipos, indicados - a cada produto ou embalagem feita a partir do material - com um número impresso na parte interna de um triângulo. São eles:

1 - PET (Polietileno Tereftalato) - Material extremamente leve, usado principalmente na fabricação de garrafas de refrigerante, de alimentos com fecho e itens dos setores hospitalar, cosméticos e têxteis. Essas embalagens são transparentes e fabricadas em diversas cores. São inquebráveis, resistentes a baixas temperaturas, leves, impermeáveis, rígidas e com resistência química.

2 - PEAD (Polietileno de alta densidade) - Muito usado em embalagens de cosméticos, produtos químicos e de limpeza, sacos e sacolas de supermercado, potes de uso doméstico e tanques de combustível para veículos automotivos. Queimam como vela, liberando cheiro de parafina, possuem superfície lisa e flutuam na água.

3 - PVC - (Policloreto de Vinila) - Matéria-prima de tubulações e encanamentos, por ser durável e resistente às temperaturas. É usado em embalagens para água mineral e óleo de cozinha. Bolsas de soro, sangue e material hospitalar, também costumam ser fabricados com essa matéria- prima. É mais rígido, porém resistente. Afunda na água, queima com grande dificuldade liberando um cheiro acre e é soldável através de solventes (cetonas).

4 - PEBD (Polietileno de baixa densidade) - Usado em embalagens flexíveis, como sacolas de supermercados, leite, iogurte, sacos de lixo, lonas agrícolas, filmes flexíveis e mudas de plantas. São finos e bastante flexíveis. Queimam como vela, liberando cheiro de parafina, possuem superfície lisa e flutuam na água.

5 - PP (Polipropileno) - Utilizado em acabamentos de carros, embalagens de bateria, garrafas, tubos, filamentos e sacolas. Material rígido, brilhante e com capacidade de conservar o aroma. Resistente às mudanças de temperatura, serve ainda para fabricação de embalagens de massas e biscoitos, potes de margarina, seringas descartáveis e autopeças (pára-choques de carro). Flutuam na água e, se em forma de filme, quando apertados nas mãos fazem barulho semelhante ao celofane.

6 - PS (Poliestireno) - plástico rígido e resistente a impactos, bastante usado para móveis, gabinetes (para monitores de computador e TVs), copos e utensílios descartáveis. Quando o poliestireno é aquecido com ar na mistura, forma o isopor. Afunda na água, é quebradiço e afetado por muitos solventes.

7 - Outros tipos - Plásticos especiais e de engenharia, usados para fabricação de CDs

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