

CAPA

PONTO DE PARTIDA (PÁG. 1)
Cremesp 60 anos: Medicina ética e decisões históricas

ENTREVISTA (PÁG. 4)
Nelson Guimarães Proença

CRÔNICA (PÁG. 12)
O mundo correu tanto que parou

HISTÓRIA (PÁG. 14)
Defesa da ética médica e vanguardismo

REPERCUSSÃO (PÁG. 34)
O que significa o Cremesp?

EM FOCO (PÁG. 36)
Perfil do médico paulista está em transformação

COMUNICAÇÃO (PÁG. 38)
Comunicação

CULTURA (PÁG. 41)
A Medicina nas obras de Tide Hellmeister,o mestre da colagem

FUTURO
Os próximos 60 anos

FOTOPOESIA (PÁG. 48)
Fotopoesia

GALERIA DE FOTOS

FUTURO
Os próximos 60 anos
Receios e esperança
Verônica Fernandes de Campos
4º ano da Escola Paulista de Medicina (Unifesp)
“Escolhi a Medicina porque, entre outros motivos, é uma profissão que proporciona várias escolhas. Para mim, ser médico é uma atividade muito artesanal. Não é só medicar ou fazer o diagnóstico, mas conseguir entender as angústias dos pacientes e se esforçar para causar um impacto positivo na vida deles.
Estou um pouco dividida quanto às expectativas do futuro. Percebo que há muito pessimismo entre os médicos porque alegam que a concorrência está desleal, a carga horária é muito grande ou que não há um retorno financeiro como antes. Mas, conforme vou progredindo no curso, vejo que ganho habilidades para ajudar as pessoas e aplicar o que aprendi. Por isso, estou receosa quanto ao futuro, mas acho que a profissão vai ser muito gratificante.
A Medicina vai mudar muito, especialmente no Brasil. Aqui vamos ter duas formas: uma um pouco mais popular, infelizmente, baseada em diretrizes e atendimentos rápidos; e outra mais elitizada e artesanal.”
Competitividade e complexidade
André Moreira Nicolau
4º ano da Escola Paulista de Medicina (Unifesp)
“Como meu pai é professor, ser médico para mim sempre foi mais que assistência. É essencial ter carinho, paixão, gostar do paciente e querer cuidá-lo. A Medicina também é ciência e educação. Adoro atender pacientes e não vou abrir mão disso, mas temos de valorizar igualmente outros aspectos da profissão.
A Medicina mudou muito. Sou a terceira geração de médicos na minha família. A que meu avô exerceu era mais assistencialista, muito diferente da que eu vou praticar. Não havia o SUS, por exemplo. A competitividade é algo novo no nosso meio. Não é, necessariamente, um problema, mas temos de aprender a lidar com isso.
A Medicina também vai ser cada vez mais complexa, mais cara e com mais desafios, tanto em relação à população e aos sistemas de saúde, como para o médico, no momento de cuidar de seus pacientes.”
Decisões conjuntas
Ana Helena Alves Reis Silva
3º ano da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp
“Ser médico é promover mudanças, não só na saúde dos pacientes ou na prática médica, mas por meio de tudo que conseguirmos fazer para promover melhor a saúde da população.
O uso da tecnologia está crescendo muito e tenho receio em relação a isso. As pessoas estão cada vez mais alienadas em relação ao que é a prática médica. Falta um bom diálogo com o paciente, para que ele entenda o tratamento, e não seja algo que o médico decida sozinho. A decisão deve ser em conjunto: o médico, o paciente e toda a equipe multiprofissional – enfermeiros, nutricionistas, terapeutas etc. Acredito que tenha de ser assim no futuro. A tecnologia é muito importante para termos informações objetivas, mas o cuidado com a saúde está no vínculo que se cria entre o cuidador e a pessoa que é cuidada, o olho no olho.”
Medicina pessoal
Priscilla Barbosa Costa
1º ano da Faculdade de Medicina da USP
“Ser médico é poder diminuir um pouco a dor, tratando-a ou fornecendo cuidado paliativo.
É ajudar as pessoas a terem uma qualidade de vida boa.
A Medicina vai ser cada vez mais pessoal. Quando eu for fazer um tratamento, vou fazer uma análise genética dessa pessoa, uma análise proteômica (N.R.: estudo de proteínas e suas isoformas). Vai ser muito mais focada. Com a tecnologia mais avançada, teremos um computador que dará os diagnósticos possíveis e o médico vai selecionar o mais provável. Ele estará ali para fazer o que a máquina nunca vai conseguir fazer, que é extrair das pessoas as sensações, o que a gente não vê nas imagens. Às vezes, as pessoas falam algumas coisas de forma superficial, mas por meio da postura delas, conseguimos extrair informações que computador nenhum consegue fazer.”
Mercado saturado
Victor Hugo Corrêa Pedrassani
1º ano de Medicina na Universidade de Marília (Unimar)
“Ser médico abrange tanta coisa. É ajudar o outro com dedicação e amor, em uma profissão que é muito reconhecida, mas, atualmente, pouco remunerada. Há pouca estrutura para o médico tentar ajudar o próximo, independentemente do que for.
Alguns médicos, com muitos anos de profissão com quem converso, acham que, nos próximos 20 anos, a Medicina será mais cara e menos efetiva, de baixa qualidade, porque hoje temos uma abertura desenfreada de novas escolas. O médico terá de ser o melhor dos melhores se quiser ter uma boa remuneração porque, caso contrário, será mais um em um mercado em queda.
Com o passar do tempo, muita coisa vai melhorar, a tecnologia está aí para agregar e somar. A Medicina tende a ficar cada vez mais qualificada, mas terá muitos profissionais em um mercado saturado.”
Dedicação e aprendizado
William Luiz Iarede
6º ano de Medicina no Centro Universitário São Camilo, São Paulo
“Muitas pessoas associam a profissão ao ganho financeiro e a status, mas para ser um bom médico e ter sucesso é preciso amor ao paciente e à vida, somado a uma dedicação e aprendizado contínuos.
A Medicina mudou muito. Há 60 anos, o número de médicos no País era bem menor. Havia o “médico da família”, particular, e não havia planos de saúde, por exemplo. A tendência é mudar ainda mais, principalmente com a abertura de tantas escolas de Medicina. Quanto mais médicos, mais profissionais para atender a população; porém, ficará mais difícil fiscalizar e manter a qualidade de todos os profissionais.
O avanço da tecnologia vai ser positivo. Vamos progredir muito nas pesquisas e descobrir a cura de muitas doenças, além de desenvolver procedimentos mais adequados, beneficiando a sociedade.”
Atendimento sem pressa
Danilo Tokechi Amaral
1º ano da Faculdade de Medicina do ABC
“Ser médico é conseguir cuidar das doenças, dos problemas de saúde ou de acidentes que acontecem com as pessoas, proporcionando uma melhora completa ou, pelo menos, uma melhor qualidade de vida.
Nas próximas décadas haverá muitos progressos, principalmente na área de transplantes de órgãos. Já existe uma impressora 3D que consegue imprimir órgãos e essa tecnologia será mais aperfeiçoada. Haverá cura para algumas doenças. Mas, a relação médico-paciente tende a ficar pior porque, cada vez mais, os médicos são cobrados para atender mais pacientes. As pessoas querem resultado muito rápido e a qualidade do atendimento acaba caindo bastante. Espero ter uma clínica própria, onde eu possa atender meus pacientes sem muita pressa, tentando dar o meu melhor para ajudar os outros.”
Automatização da Medicina
Elainna de Souza Alves
4º ano da Faculdade de Medicina do ABC
“Ser médico é ter vocação e o desejo de salvar vidas. O que me motiva, também, é a emoção de nunca ser igual, de aprender a lidar com riscos, com a morte e que tudo é efêmero.
Futuramente, o exercício médico vai ser péssimo. Estão abrindo muitas faculdades que não formam bons médicos. O mercado vai ficar saturado e pagará menos. Será difícil ingressar na Residência. A relação com os pacientes está ficando mais distante. Na cirurgia, às vezes, um robô coloca as mãos no paciente pelo médico. Isso o torna uma pessoa menos empática. Ele acaba sendo, também, um robô. É a automatização da Medicina.
Daqui a algumas décadas, espero estar em um bom hospital, ganhando bem. Não tenho vontade de ter consultório. Pretendo ser reconhecida na minha área e pelos pacientes porque a melhor indicação ainda é o boca a boca.”
Visão holística
Davi de França
2º ano de Medicina no Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino (Unifae), São João da Boa Vista
“Ser médico é estar disposto a doar praticamente todo seu tempo em prol da saúde dos outros. É praticar a empatia e encontrar alegrias que não teria em outra profissão, como trazer uma nova vida ao mundo ou conseguir salvar uma.
Com o avanço da tecnologia, acredito que, nas próximas décadas, a Medicina ficará menos humanizada e com pouca demanda de generalistas. A relação médico-paciente, infelizmente, deve piorar e fugir de um dos princípios de Hipocrátes que é “curar quando possível; aliviar quando necessário; consolar sempre”. O médico ficará muito dependente dos exames e haverá, cada vez mais, encaminhamentos a especialistas para que se possa ter um diagnóstico. É essencial que as faculdades não foquem apenas na doença e, sim, no paciente como um todo, tendo uma visão mais holística do ser humano.”
Impessoal e distante
Fernanda Sarti
5º ano de Medicina no Centro Universitário São Camilo, São Paulo
“Ser médico, acima de dinheiro, status ou qualquer outra coisa, é ter uma relação única com o paciente. É participar de momentos muito especiais das pessoas.
A Medicina está muito desvalorizada. Antigamente, o médico era um profissional querido. Hoje, há uma banalização muito grande e a relação acaba sendo impessoal e distante do paciente. São longas horas de trabalho e isso, infelizmente, faz com que o médico não consiga, muitas vezes, dar o seu máximo para cada paciente.
A tecnologia usada na Medicina é linda porque provoca inúmeros avanços: a cura de doenças e o desenvolvimento de tratamentos e intervenções que podem beneficiar as pessoas. Mas é essencial melhorarmos a relação médico-paciente, que é um dos pontos essenciais da profissão.”
Informatização e humanismo
Luiza Russo de Morais
6º ano da Escola Paulista de Medicina (Unifesp)
“Ser médico é amar os pacientes e querer ajudar pessoas diferentes uma das outras. Podemos mudar a vida delas e fazê-la melhor. A maior motivação é saber que aquilo que você estudou pode realmente fazer a diferença para alguém.
Futuramente, a Medicina vai mudar muito, ficará mais informatizada, já que estão chegando a robótica e os aplicativos. A forma como o médico se relaciona com o paciente e como este lida com a própria doença vai se transformar. O paciente estará muito mais informado e, por isso, a função do médico não será mais a de dar informações sobre a doença e o diagnóstico. Ele terá de conduzir e tranquilizar o paciente. Vai se destacar o médico que conseguir mostrar ao paciente o que significa aquela doença na vida dele. O importante será o lado humanitário mesmo, porque as informações já vão estar aí.”
Conhecimento integrado
Viktor Sinkunas
3º ano da Faculdade de Medicina da USP
“Ser médico é ser uma pessoa curiosa em relação ao funcionamento do ser humano. A Medicina evolui sempre e está ficando cada vez mais precisa. Estamos começando a entender os mecanismos moleculares de cada doença. No futuro, a Medicina irá além do conhecimento tradicional de fisiopatologia, das doenças e sintomas.
O Código Internacional de Doenças (CID) deveria, inclusive, ser modificado pensando em algo mais dinâmico, que leve em consideração, também, as informações que chegam, por meio de pesquisas em laboratórios nos hospitais, direto para a clínica médica. Deveria haver mais integração entre o conhecimento produzido nos laboratórios e a prática médica, para atender melhor o paciente.”
Colaboraram: Amanda Alves, Ana Clara Scarabelli, Janaina Santana e Julia Martins