CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Bráulio Luna Filho
CONFERÊNCIA (pág. 4)
Fronteiras do Pensamento
CRÔNICA (Pág.10)
Luis Fernando Verissimo*
EM FOCO (Pág.12)
Obesidade
ESPECIAL (Pág. 16)
Comportamento
CARTAS E NOTAS (Pág. 23)
Projeto Ministério Público pela Educação
MÉDICOS NO MUNDO (Pág. 24)
Neurocirurgia
HISTÓRIA DA MEDICINA (Pág. 28)
Ácido acetilsalicílico
GIRAMUNDO (Pág. 32)
Medicina & Ciência
PONTO COM (Pág. 34)
Mundo digital & tecnologia científica
HOBBY (Pág. 36)
Carros antigos
GOURMET (Pág. 40)
Costelinha suína com farofa de couve
CULTURA (Pág. 44)
Adoniran Barbosa
FOTOPOESIA (Pág. 48)
Jorge Fernando dos Santos
GALERIA DE FOTOS
ESPECIAL (Pág. 16)
Comportamento
O que acontece quando o médico é o paciente?
É esperado que a consciência do perigo torne o homem mais cuidadoso e precavido. No caso do médico, essa lógica não vale: o conhecimento de que seu corpo pode fraquejar com as mesmas enfermidades que afetam seus pacientes, ao invés de mantê-lo alerta, torna-o descuidado e imprudente.
Ele próprio se agarra ao imaginário do médico salvador, que veio para curar, não para ficar doente. É um super-homem, um semideus. Essa imagem, que ainda persiste em muitos, só costuma ser abalada quando o médico cai doente e se torna paciente.
O comportamento e as reações do médico enquanto paciente são relatados nessa reportagem. Foram ouvidos profissionais de diferentes especialidades, internados por diversas razões. Quase todos relatam descuidos que apressaram a doença, o medo que até então não tinham sentido e uma mudança de vida quase radical depois da recuperação.
O médico é um dos enfermos mais difíceis de serem tratados quando passa de profissional a paciente”, afirma a psiquiatra Alexandrina Maria Augusto da Silva Meleiro, doutora em Medicina pelo Departamento de Psiquiatria da Fmusp e membro da Comissão de Atenção à Saúde Mental do Médico, da Associação Brasileira de Psiquiatria. Ela conhece bem a questão, é autora de uma tese sobre o assunto e do livro O médico como paciente (Lemos Editorial).
Um de seus estudos comparou o médico diante da doença em relação a outros pacientes com o mesmo grau de instrução, nas primeiras 48 horas depois de internado. A amostra incluiu 61 médicos, 76 advogados e 66 engenheiros, todos internados com alguma patologia cardíaca no Instituto do Coração (Incor), no período de novembro de 1994 a junho de 1995.
Dentre os resultados, Alexandrina destaca dois pontos que considera mais significativos: “os médicos revelaram um medo de infecção hospitalar maior que os engenheiros e advogados. Todos solicitaram alta médica e deixaram o hospital antes do prazo estipulado pelo corpo clínico”. Conclui que “por trabalhar em hospitais, eles conhecem mais que os leigos o risco que estão correndo”. Outro ponto é que o médico demora em reconhecer a doença, com resultados preocupantes: “o número de óbitos no período de 48 horas foi cinco vezes maior nessa população, comparada com o de advogados e engenheiros”, diz a médica. “Isso mostra que os médicos não se cuidam como deveriam, negam os sintomas e, por isso, chegam ao Incor com a doença avançada, não dando tempo de recuperação.”
A mesma pesquisa mostra que os médicos são os que menos confiam no atendimento e que menos seguem à risca as prescrições e cuidados recomendados, e os que mais se preocuparam com os efeitos colaterais.
Outro dado que reforça a ideia do médico como “paciente difícil” está no levantamento feito no Grupo de Interconsultas Psiquiátricas do Instituto de Psiquiatria do HC-Fmusp, no qual, por 16 anos, Alexandrina foi supervisora de residentes. “Entre esses profissionais, 80% mencionaram a dificuldade em tratar o paciente médico”, diz.
A partir de seus trabalhos ao longo de vários anos, a psiquiatra desenha um perfil do médico como paciente. Suas principais conclusões são: o médico negligencia a própria saúde, nega os sintomas e se automedica, agindo como se não pudesse ficar doente. Ele se preocupa com a doença, mas esconde como está se sentindo. Acha-se um semideus, alguém que está acima da enfermidade, alguém que veio para salvar vidas, não para ficar doente. Quando adoece, perde a autoestima, sente-se impotente, vulnerável. Alguns deles, antes de buscar ajuda, procuram um colega pedindo opinião sobre o caso de um suposto amigo, que apresentaria tais sintomas. Na verdade, o amigo é ele próprio.
Outra dificuldade para o médico é que ele tem consciência de tudo o que está acontecendo. “Ele paga um tributo alto por não contar em seu favor com o benefício da ignorância. Já, para o leigo, é diferente: a ignorância acaba protegendo-o”, observa Alexandrina. Conhecem, também, a hotelaria dos hospitais e seus bastidores. Por isso, são muito rigorosos na escolha do hospital, no caso de serem internados, conclui.
"A sensação é de uma terrível impotência"
Renato Françoso Filho
Era uma hora da manhã de um domingo quando o médico e conselheiro do Cremesp Renato Françoso Filho percebeu que estava sofrendo um infarto do miocárdio. Sua casa, em Piracicaba, fica a 700 metros do hospital. O plantonista mostrou-se competente e cuidadoso, o cirurgião cardiovascular chegou rápido. Françoso foi ressuscitado depois de várias paradas cardiorrespiratórias e 45 minutos de choques e massagens no peito. Duas horas depois, estava na UTI de um hospital maior, já com um stent no coração. “Eles salvaram minha vida”, diz. Tanta rapidez e precisão não impediram que – passados sete anos – o medo da morte continue muito presente em sua vida. “Eu me sentia confiante, mas a sensação é de uma terrível impotência. Não há o que fazer que possa ajudar, você fica nas mãos dos colegas.” No caso, ficou nas mãos de bons colegas, “conhecidos, qualificados, dedicados”.
“Entreguei-me completamente, só desejava que cuidassem de mim da melhor forma. Interferir só atrapalha. O medo maior vinha justamente do fato de eu ser médico: sabia as consequências do que estava acontecendo e isso gerou uma insegurança muito grande, porque ficamos temendo o pior”, relata. Françoso é cirurgião gastroenterologista. Na manhã seguinte, foi informado do pior: quando acordou, na UTI, estava sofrendo uma hemorragia digestiva que precisava ser estancada, mas o infarto o obrigava a continuar tomando anticoagulante. Uma coisa agravava a outra. “Tive muito medo da morte”. Escapou de todos esses sustos, sem sequelas.
O infarto não transformou sua conduta em relação aos pacientes, diz. “Sempre fui muito cuidadoso, muito preocupado com eles.” Mas reforçou sua admiração pelo trabalho do médico. “Sempre vi a profissão como uma das mais nobres”, afirma.
O que mudou foi seu modo de ver a vida. “Sei agora que não temos controle algum sobre o futuro. Faço tudo para viver bem, porque meu momento é hoje”. Com 62 anos e três filhos, Françoso diz que parou de fumar e passou a se cuidar melhor. “Mantenho o peso, faço atividade física, sou mais cuidadoso comigo mesmo. Sem viver como escravo dos cuidados, sem deixar de fazer as coisas de que gosto.”
"Saber das possíveis complicações me deu grande angústia"
Lavínio Nilton Camarim
“Antes, quando passeava por um jardim, enxergava apenas um jardim. Hoje enxergo as flores e vejo suas cores.” Muitas pessoas que se sentiram à beira da morte relatam mudanças na maneira de olhar a vida. O médico e conselheiro do Cremesp Lavínio Nilton Camarim, 53 anos, diz que, com ele, ocorreu mais do que isso: “Foi uma transformação. Retomei o trabalho com mais lucidez, fiquei menos exigente. Tenho vontade de dizer aos amigos, ‘transformem suas vidas, não esperem alguma coisa dramática acontecer’”.
O episódio que mudou a vida de Camarim aconteceu em setembro de 2010. “Estava em reunião no Cremesp quando passei mal, com fortes dores no peito. Por sorte, estava cercado de médicos, e dois cardiologistas amigos me socorreram. Em pouco tempo, estava na emergência da Beneficência Portuguesa, sendo submetido a um cateterismo. Felizmente, não enfartei. Mas aí veio o baque: eu estava com cinco artérias coronárias quase totalmente obstruídas e tinha de passar por uma cirurgia de peito aberto. Foi um grande susto”.
Como outros médicos que ficam doentes, ele, que é cirurgião e gastroenterologista, tinha consciência do que estava acontecendo e dos riscos que enfrentava. “Saber das possíveis complicações me deu grande angústia”. Foram colocadas cinco pontes, duas safenas e três mamárias. Acrescenta, porém, que os médicos que o atenderam o deixaram tranquilo. “A confiança foi tão grande que não me preocupei sequer em saber a medicação que estava tomando”.
À medida que se recuperava, fazia um balanço de sua vida e se perguntava por que, aos 48 anos, estava passando por aquilo. Embora fizesse exercícios físicos, tinha uma rotina intensa, fazia longas cirurgias – inclusive bariátricas – e, como conselheiro do Cremesp, havia anos viajava duas vezes por semana de Franca, onde mora, a São Paulo. Era também coordenador da Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos (Codame) do Conselho, função que exerce até hoje.
Uma das primeiras atitudes foi reduzir o ritmo e adotar atividades que proporcionassem mais conforto e saúde. Retomou as caminhadas, o tênis, foi para a academia, começou a fazer ioga. “Uma das coisas que me ajudou muito foi a leitura. Em três meses, li mais de 15 livros, obras literárias, históricas, autoajuda, leituras que mostravam os outros lados da vida.”
"Aprendi que todos temos limitações que devem ser respeitadas"
Ana Paula Lemos Martins Marcolino
A médica Ana Paula Lemos Martins Marcolino, 33 anos, duas filhas, angustiou-se quando trocou de médico e recebeu um diagnóstico diferente daquele de anos atrás. “Quando os médicos dizem que não sabem o que você tem, é angustiante”, diz. Há três anos, ela foi internada e diagnosticada como portadora de esclerose múltipla. Recentemente, um segundo neurologista levantou a hipótese de uma vasculite ou doença de Behçet – inflamações dos vasos sanguíneos. “Como médica, sei que muitas enfermidades têm apresentação variada, mas isso não me impede de ficar muito angustiada”, relata.
Médica de Família e Comunidade em Goiânia e preceptora dessa especialidade na Residência da PUC-Goiás, Ana Paula já teve crises epilépticas em que os médicos não sabiam dizer se eram uma comorbidade ou decorrência de doença primária. Além da insegurança, gerada pelo medo de novas convulsões, a médica teve de se expor em cadeira de rodas, por conta de dificuldades ao andar. Condição desconfortável para qualquer paciente, porém mais angustiante para um médico cuja imagem, no imaginário das pessoas e do próprio médico, é a de um ser que está ali para curar, nunca para ficar doente.
A médica diz que a doença está lhe ensinando muito. “Sempre fui atenta à relação com o paciente, agora aprendi que todos temos limitações que devem ser respeitadas. Há coisas que as pessoas não conseguem fazer de jeito nenhum e não se pode exigir que façam. Achava que devia transpor todos os limites, ser sempre melhor. Hoje, vejo que o paciente precisa de um tempo e estou aprendendo a dar esse tempo para mim.”
Apesar de ter se sentido segura com a capacidade técnica dos profissionais, acha que há deficiência na relação com o paciente. “Somos ensinados que o médico tem de manter distância do paciente e que não deve lidar com sentimentos. Isso é ruim para ambos os lados”, conclui.
"Descobri a importância de outros profissionais da saúde"
Nicolau Szochalewycz
O médico e psicanalista Nicolau Szochalewycz sofreu dois acidentes em casa num intervalo de três semanas. Um traumatismo craniano o levou a uma neurocirurgia e a seis dias de internação. Os braços e pernas, parcialmente paralisados, exigiram meses de fisioterapia. Szochalewycz diz que o episódio mostrou um lado da vida ainda desconhecido para ele. De início, viu o quanto era negligente e descuidado com a própria saúde.
No primeiro acidente, recobrou a consciência depois de seis horas caído no meio de uma poça de sangue ao pé da escada. Em lugar de pedir socorro, tomou um banho. “Não queria me apresentar naquele estado.” E foi caminhando ao hospital que fica a algumas quadras de sua casa. “Os enfermeiros, os médicos – e até a recepcionista – me repreenderam.” Semanas depois, ele bateu com a cabeça em um móvel e, como não sangrou, não deu atenção. Aí começaram as tonturas, as dificuldades para caminhar. “Relatei o episódio da escada e não falei da batida no móvel, induzindo o neurocirurgião a erro. Depois de uma bateria de exames, viu-se que o segundo acidente tinha provocado um traumatismo craniano. Fui levado às pressas para a cirurgia e daí para a UTI.”
Para os médicos que o atenderam, Szochalewycz só tem elogios. “Senti-me seguro e bem cuidado.” Quando se viu fora do hospital, sentiu medo. “Os médicos disseram que tinham feito a parte deles e que agora era com o fisioterapeuta. Saí em cadeira de rodas e queria morrer.” Foi então que descobriu a importância de outros profissionais da saúde. A fisioterapeuta que o atendeu, durante quatro meses, mudou seus conceitos e sua vida, diz.
“Desde a faculdade, eu via a fisioterapia como uma especialidade inferior, mas foi uma fisioterapeuta que me despertou para o mundo, depois de os médicos terem salvado minha vida. Ela tinha uma consciência profissional impecável, explicava cada movimento, tinha uma enorme paciência e dedicação. Sua receptividade trouxe de volta minha vontade de viver. Tento levar para o meu dia a dia aquilo que aprendi como paciente”, relata. O médico, que hoje tem 82 anos – o acidente ocorreu há três anos – , fez uma poesia dedicada àquela profissional.
"Os médicos poderiam fazer melhor se conversassem mais"
Rodrigo Lima
“Minha mãe morreu de câncer de pulmão no dia 3 de junho de 2014. Foram três anos desde o diagnóstico até sua morte. Durante esse período, todos os médicos pelos quais ela passou tomaram decisões de forma absolutamente unilateral. Nenhum deles buscou discutir com a família quais seriam as opções de tratamentos, as vantagens, as desvantagens. A família precisa confiar cegamente.”
Rodrigo Lima, 37 anos, o filho que faz essa queixa, é médico clínico geral e de Medicina de Família em Recife, onde mora. “Isso aconteceu com minha mãe, mesmo a equipe sabendo que sou médico.” Há uma explicação para essa recusa de comunicação, ele acredita. “Trata-se de uma incapacidade que os médicos têm de compartilhar processos de decisão com o paciente e com a família. As poucas conversas produtivas que aconteceram foram iniciativas minhas. Enquanto médico, estudei o assunto e podia discutir outras opções. Eu sabia das limitações de tratamento de um câncer de pulmão. Mas exatamente por isso as opções precisam ser mais discutidas, porque aí não se trata de curar ou não curar, mas de oferecer um conforto possível”, diz Lima.
A limitação – diz o filho – está na postura. “Mesmo excelentes profissionais, eles poderiam fazer melhor se conversassem mais”, conclui.
"Passei a valorizar ainda mais meus colegas"
Isac Jorge Filho
De todas as coisas de que gostava de fazer antes de ser submetido a uma cirurgia de coluna, o médico Isac Jorge Filho cita a única que ainda não retomou: pescar no Pantanal. “Já estou em condições, mas prefiro aguardar”, diz. Em outubro de 2013, com dores fortes na coluna, ele foi submetido a uma cirurgia no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, onde mora. “Ouvi vários colegas, mas as propostas de condutas eram muito variadas, não havia um acordo.”
Finalmente, a opção foi pela cirurgia. Foi uma semana de internação e quatro meses de repouso, um deles no hospital Sarah Kubitschek, em Brasília. “No período da cirurgia e da internação, eu sentia tanta dor e tomava tanta medicação, que não tinha muita consciência das coisas que aconteciam comigo. Não senti que corria risco de morte, estava muito seguro com a equipe de médicos.”
Ex-presidente do Cremesp e ex-conselheiro, cirurgião e gastroenterologista, Jorge Filho diz que sempre se preocupou com as dores e queixas dos outros e que preza muito a relação médico-paciente. “Mas a enfermidade me deixou mais sensível. A dor é uma sensação que não se divide, mas pode ser compartilhada – especialmente quando já se passou por ela.” Ele sofre de uma espondiloartrose lise da coluna lombar.
Com 73 anos, Jorge Filho voltou a atender em seu consultório, faz cirurgias e dá aulas. “Passei a valorizar ainda mais meus colegas.” Está se deslocando menos, mas escrevendo mais. Tem vários livros de medicina editados e uma coluna, às quintas-feiras, no jornal O Diário de Ribeirão Preto. Na última edição da revista Ser Médico, publicou artigo sobre o complexo industrial militar.
“O hospital chega a ser cruel com o paciente”
Drauzio Varella
O médico Drauzio Varella já esteve na floresta amazônica mais de 50 vezes. Em 2004, não renovou a vacina contra a febre amarela e esteve à beira da morte, experiência dramática que relata no livro O médico doente (Companhia das Letras). Na entrevista que concedeu à revista Ser Médico, ele fala de sentimentos que ainda não tinha revelado.
“Apesar de doente, um médico nunca deixa de ser médico. Mesmo que você não interfira no tratamento e siga as orientações direitinho, está o tempo todo analisando se aquilo tem ou não tem sentido. No caso de uma doença grave, como essa que eu tive, você sabe o que significam as frases que os médicos dizem e porque desviam o olhar de você.
Eu cheguei a uma fase muito grave e todos estavam pessimistas, mas não tinham coragem de dizer, e falavam: ‘você está com uma cara boa hoje’, o que não queria dizer absolutamente nada. A equipe, competente e atenta, era de amigos íntimos. Isso me deixava mais tranquilo.
Não mudei minha relação com os pacientes depois desse episódio. O que mais mudou essa relação foi a morte de meu irmão, com câncer de pulmão, aos 45 anos. Tratei dele e vivi as duas situações o tempo inteiro, a de médico e a de familiar. O que modificou com a minha doença foi ter a noção de como é ficar internado no hospital e passar a noite com as pessoas entrando no quarto, sem conseguir dormir, com dor, o tempo que levam para lhe administrar um analgésico, a infantilização do doente (‘agora vai tomar uma picadinha’). Fiquei três semanas internado.
O hospital chega a ser cruel com o paciente. E estou falando do Sírio-Libanês, um hospital onde trabalho há muito tempo, cercado de profissionais que me conhecem, atenciosos etc. Fico pensando nas pessoas internadas em hospitais do SUS ou de convênios, em um canto qualquer, sem um médico que saiba seus nomes, tratados pelo plantonista... É uma estrutura muito precária. As pessoas ficam desamparadas.
Mudei em uma coisa. Eu saía do consultório às 22 horas. Então, pensei: não quero mais isso. Começo mais cedo, mas quero estar em casa em horário razoável. Na verdade, acho que, até aqui, vivi muito bem. Sem frustração. Faço minhas corridas, participo de programas na TV, tenho meu consultório, continuo no projeto da Amazônia. Estou entre aqueles privilegiados que só fazem as coisas de que gostam.”
(Confira também o depoimento da médica Julianne Ferreira, na pág. 26)