CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Bráulio Luna Filho - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 4)
Kátia Maia - diretora da Oxfam Brasil
CRÔNICA (pág. 10)
Lusa Silvestre*
ESPECIAL (pág. 12)
Médico humanista - Aureliano Biancarelli
SINTONIA (pág. 19)
Medicina translacional
EM FOCO (pág. 22)
Complexo Industrial-militar, por Isac Jorge Filho*
CARA NOVA (pág. 25)
Nova Ser Médico
MÉDICOS NO MUNDO (pág. 26)
Ana Letícia Nery
GIRAMUNDO (pág. 30)
Medicina & Ciência
PONTO.COM (pág. 32)
Mundo digital & Tecnologia científica
HISTÓRIA DA MEDICINA (pág.34)
Das Misturas e Poderes das Drogas Simples
LIVRO DE CABECEIRA (pág. 37)
Antonio Pereira Filho*
CULTURA (pág. 38)
Histórias de vidas anônimas
TURISMO (pág. 42)
Turquia/Curdistão
CARTAS & NOTAS (pág. 47)
Espaço dos leitores
FOTOPOESIA (pág. 48)
Mensagem de Ano Novo
GALERIA DE FOTOS
CULTURA (pág. 38)
Histórias de vidas anônimas
Museu da Pessoa
“Uma história pode mudar seu jeito de ver o mundo”
O Museu da Pessoa reúne narrativas de histórias de vida anônimas – de donas de casa a índigenas, roqueiros, ex-prisioneiros, profissionais dos mais diversos ramos, estudantes e muitos outros. Qualquer pessoa, literalmente, pode fazer seu relato. Mas não há, ainda, muitas histórias de médicos
Karen Worcman, idealizadora do museu
As histórias de anônimos podem ser parte do acervo de um museu? No Museu da Pessoa, elas são. Histórias de, até agora, mais de 16 mil pessoas, 72 mil fotos e documentos e 25 mil horas de gravação em vídeo compõem o maior acervo de narrativas pessoais do mundo. Funcionando principalmente em ambiente virtual, ele inspirou, inclusive, outros projetos do tipo em Portugal, Canadá e nos Estados Unidos.
Uma das fundadoras da instituição, a historiadora Karen Worcman, conta que foi questionada muitas vezes sobre quem se interessaria em histórias de anônimos. “Eu achava aquela pergunta esquisita, porque não comecei isso achando que ninguém ia se interessar, comecei achando que não poderia haver nada mais interessante no mundo”, lembra, sorrindo.
Criado em 1992, na cidade de São Paulo, o museu surgiu antes da internet, popularizada no País apenas em 1996 – o ano do primeiro site da instituição. “A ideia inicial era ter um espaço em que toda e qualquer pessoa pudesse ter sua história compartilhada como parte da memória, parte de um museu. E sabíamos que deveria ser, de alguma maneira, virtual, porque a história de uma pessoa é algo intangível. Quando chegou a internet pensamos ‘era disso que a gente estava falando’. Acho que a ideia chegou antes da tecnologia.”, relata Karen.
Um ano depois, percebeu-se que aquele não era só um espaço de exposição, mas também de interação. Foi criada a seção Conte sua história, existente até hoje, na qual qualquer pessoa pode mandar seu depoimento por áudio, vídeo (que são transcritos por voluntários) ou escrevê-lo no próprio site. Equipes do museu se encarregam também de descobrir, pelo Brasil, novas histórias de vida, fazendo entrevistas tanto no estúdio da sede quanto em uma cabine itinerante. Todos os depoimentos podem ser lidos no portal do museu, na seção Histórias. Sugestivos, os títulos das histórias que já se encontram online fazem o internauta ficar com vontade de lê-los, como, por exemplo: “A rosa que nasceu do seringal”, “O fenômeno das terras caídas”, “Das roupas ao milésimo gol”, “Viver um dia como se fosse o único”, “Dançando pelo mundo afora”, “Eu queria ser Chico Buarque”, “História do que eu passei a vida inteira até o presente”, “Tudo por causa de Rosinha”, “Paixão pelos Correios”, “Passageiro com cobra dentro de ônibus”; e “Eu restaurei as peças de bronze antigas por amor a História”. Porém, as histórias de médicos ainda estão para ser contadas. Não há muitas.
Há, também, a seção Coleções, conjuntos de histórias que tanto podem ser montados por qualquer pessoa, a partir do próprio site, ou pelo museu. Cada uma tem um nome, como, por exemplo: “De bicicleta eu vou”, “Histórias de sucesso na carreira”, “O que é ser pai?”, “Organização social – Brasis invisíveis”, “Ah... o amor”, “Eles ensinam”, “TransHistórias”; e “Futebol em imagens”.
Beleza
O interesse de Karen pelas histórias de anônimos surgiu quando percebeu o valor que a história de alguém tem em sua própria vida. “Quando nos revisitamos, é quase como encontrar a maneira que a gente está no mundo, emocionalmente, espiritualmente e historicamente. Acho uma grande viagem escutar a história de alguém.”
E acrescenta: “não sou, particularmente, apaixonada pelas massas humanas. Mas quando vejo a história de uma pessoa, percebo que cada um de nós tem uma estratégia de viver. E há uma beleza grande nisso, uma fonte de aprendizagem única e interminável”, destaca.
Uma metodologia específica foi desenvolvida, ao longo dos anos, para que as entrevistas que dão origem ao acervo se realizassem como são atualmente. “O foco é a pessoa: a dor que ela sentiu, qual a história que marcou, como narra a própria infância, como conta sobre algum trabalho, alguma perda. É um método de ir descascando a cebola da alma daquele ser, o que pode dar certo ou não. Mas quando dá certo, é maravilhoso”, explica Karen.
Além do Conte sua história, o museu tem outras três linhas de ação: Educacional – visa a disseminação do método desenvolvido na instituição; Museologia – organiza e faz a manutenção dos acervos digital e físico de áudio, vídeo, texto, fotos e documentos digitalizados; e Memória Institucional – faz pesquisa, sistematização, preservação e divulgação de memórias para outras organizações como, por exemplo, empresariais.
Com mais de 20 projetos em desenvolvimento, entre eles uma plataforma online de ensino, exposições no Canadá e no Rio (essa sobre as Olimpíadas), e a curadoria de narrativas de jovens com histórias digitais, o museu pretende alcançar novos públicos e ser mais acessível. Karen diz que o objetivo é torná-lo sempre mais colaborativo, inclusive em seu financiamento. Além das parcerias com empresas para trabalhos institucionais ou projetos específicos, uma das fontes de manutenção do instituto é a doação, feita por pessoas jurídicas ou físicas por meio da Lei Rouanet (federal), ou ProAC (estadual), já parte da tentativa cada vez mais intensa de entregar a instituição à população.
“O meu desejo é que o museu seja executado pelas pessoas, pelos voluntários, pelos que leem. Que fosse até financiado só pelas pessoas. Aí ele seria mesmo uma propriedade coletiva”, afirma Karen.
Para ela, entender a importância das histórias individuais pode levar a uma transformação social. “Quando a gente entender que a história de cada pessoa faz parte do nosso patrimônio, essa mudança é uma mudança de paradigma. Deixa de valorizar as pirâmides e passa a valorizar as pessoas. Isso quer dizer muito”, conclui.
Extratos de alguns relatos de vida
Medo de ver tanto branco
Sou índio da tribo dos Xerentes, nasci em 16 de outubro de 1972, na Aldeia Baixa Funda. Meu pai e minha mãe também nasceram lá. Era uma aldeia grande, mas aí os povos se espalharam, até que ficou só aquele bolinho de gente... (...) Lembro que um dia ele (N.R.: o pai) me levou pra cidade pra eu conhecer os brancos. Eu já tinha visto branco ali, na Baixa Funda: um professor e as enfermeiras, mas não era muito. Nossa, quando cheguei lá na cidade me espantei, fiquei nervoso de ver um tanto de branco. Eu tinha mesmo medo do branco, porque ainda não tinha pensado o pensamento assim no máximo. (...)
História de Teodoro Pasiku
Quem está com o coração do meu filho?
Me chamo Clarice e tenho 52 anos. Sempre fiz questão de falar para meu filho que no dia da minha morte, era pra ele doar todos meus órgãos... Nem imaginava que seria o contrário. Ele tinha 27 anos. (...) Às 6 h da manhã recebi uma ligação do hospital dizendo que meu filho teria sofrido um acidente, fui rápido para o hospital, chegando lá me informaram o acontecido, meu filho havia sido baleado (...).
História de Carlos Alexandre, contada por sua mãe, Clarice
As paralelas ainda vão se encontrar para um café
Mamãe, por que a gente morre quando tem cem anos?, indaga Romulito em nosso caminhar entre a Red Balloon e o apê. Essas caminhadas semanais são sempre momentos de pura filosofia... Às vezes a gente para na São Camilo de Lellis e entra em comunhão com Jesus Cristinho. Rômulo gosta de igrejas, assim com eu. Menina de rituais... Pra quê serve isso aqui, mamãe? Para colocar a Bíblia (nem sei se é para isso mesmo, mas o menino carece de respostas para tudo). (...)
História de lulupisces@hotmail.com
Conte sua história
Para registrar sua história no Museu da Pessoa, qualquer cidadão pode fazê-lo por meio de vídeo ou por escrito no site www.museudapessoa.net, após fazer um cadastro simples e um login ou comparecer ao estúdio, localizado na sede do Museu, em uma quinta-feira. A entrevista, conduzida por um pesquisador, deve ser agendada previamente por telefone ((11) 2144-7150) ou email (contesuahistoria@museudapessoa.net).
SERVIÇO
Para ler as histórias online, acesse: www.museudapessoa.net
Mídias sociais
- www.facebook.com/museudapessoa
- www.twitter.com/museudapessoa
Pesquisas e solicitações do acervo podem ser feitas diretamente no setor de museologia, pelo email museologia@museudapessoa.net. As pesquisas presenciais devem ser agendadas para as terças e quintas-feiras, das 10 às 17 horas. Informações sobre visitação, grupos, voluntariado e doações estão disponíveis no site.
Endereço: Rua Natingui, 1.100, Vila Madalena – São Paulo/SP - Telefone: (11) 2144-7150.
Colaborou: Natália Oliveira