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CAPA

PONTO DE PARTIDA (pág.1)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp


ENTREVISTA (págs.4 a 8)
James Drane


EM FOCO (págs.9 a 11)
Dormiu bem?


CRÔNICA (págs.12 a 13)
Tufik Bauab*


MÉDICOS NO MUNDO (págs.14 a 17)
Irène Frachon


DEBATE (págs.18 a 23)
Emergência e Regulação: novos desafios dos cursos de Medicina


SINTONIA (págs.24 a 27)
Novas práticas educativas no setor da Saúde


GIRAMUNDO (pág.28 a 29)
Curiosidades de ciência e tecnologia, história e atualidades


PONTO COM (págs.30 a 31)
Informações do mundo digital


HOBBY (págs.32 a 35)
Pediatra escala os maiores picos do mundo


HISTÓRIA DA MEDICINA (págs.36 a 38)
Especialidades médicas


LIVRO DE CABECEIRA (pág.39)
Por Bráulio Luna Filho*


CULTURA (págs.40 a 43)
Moacyr Scliar e Yann Martel


GOURMET (págs. 44 a 47)
Moqueca de camarão


FOTOPOESIA (pág.48)
Poesia anônima na capital paulista


GALERIA DE FOTOS


Edição 63 - Abril/Maio/Junho de 2013

HOBBY (págs.32 a 35)

Pediatra escala os maiores picos do mundo

O fascínio das montanhas

Após formar-se em Medicina, em 1980, e fazer residência em Pediatria, Manoel Morgado casou-se e pensou que sua rotina seria calma e normal. Faria apenas uma grande viagem com sua mulher para saciar sua sede por aventura e depois teria filhos, um trabalho como médico e criaria raízes. “Durante a faculdade, fui quase todos os anos para outros países da América do Sul. Nessas andanças, encontrava travellers que viajavam o ano todo, e eu tinha o meu mísero mês de folga”, conta. “Sonhava com férias mais longas”.

O casal decidiu viajar durante dois anos, pela Europa e pela Ásia. Na volta ao Brasil, ele abriu um consultório e passou a trabalhar no Hospital Santa Marcelina e no Hospital Municipal de Itaquera. A estabilização, contudo, durou apenas cinco anos. Com o fim do casamento, percebeu que precisava conciliar o trabalho com viagens. O desejo de aventuras mundo afora foi reacendido. “Em março de 1989, saí sem rumo”. Acabou chegando ao Nepal e, lá, aprendeu a escalar, além de mergulhar nas diferentes culturas do país. “Visitei um monastério budista, fiz ioga, tai chi, rafting, caminhada... enfim, foi um tempo extremamente rico pra mim”. A viagem dura até hoje. Morgado não voltou mais a viver no Brasil. “Atualmente fico três meses por ano no Nepal.” O restante do tempo ele viaja, em média, por dez países.


Escalada no McKinley

 

O “rosto do céu”
Sua busca incansável levou-o ao cume das mais altas montanhas do mundo, entre eles o do Everest, em 2010, desejo de todos os alpinistas. Pouquíssimos, entretanto, conseguem acessá-lo. Morgado foi o 8º brasileiro a abrir a bandeira do nosso país a 8.844 metros de altura, onde ficou por 15 minutos, o máximo possível, diante de condições tão adversas, como ventos a mais de 200 km por hora. Os helicópteros não conseguem chegar ao topo. Eles sobem até 6.500 metros. Depois, apenas os alpinistas e suas vontades férreas. Estar no topo da montanha mais alta do mundo “é uma emoção fantástica, indescritível, o sonho maior de um montanhista de rocha e uma emoção absurda para qualquer um que o faça”, assegura. Em nepalês, o monte é chamado de Sagarmatha (rosto do céu) e, em tibetano, de Chomolangma ou Qomolangma (mãe do universo).


Fotos da escalada ao Everest

Para chegar lá, em primeiro lugar “é preciso muita experiência”. Ele só se sentiu preparado para chegar ao topo mais alto do mundo depois de quase 20 anos de alpinismo. Fatores como o clima e a saúde do escalador são, também, fundamentais. “De modo geral, existem apenas dois dias por ano que permitem chegar ao cume do Everest, que é quando os ventos se acalmam e o alpinista consegue não ser arremessado”. Para que o corpo se habitue às altas altitudes é preciso subir de uma base à outra sempre voltando à anterior. Por exemplo, depois de escalar o trecho da base um para a base dois, é preciso retornar à um. Depois, da base um à três, é preciso voltar novamente à um e só na segunda escalada à três, retornar à dois. E assim por diante. Ao todo, demora-se dois meses até o cume, se desistências ou acidentes, muitas vezes fatais, não interromperem a escalada. As estatísticas dão conta de que a cada 21 alpinistas que visam os cumes mais altos do mundo, um morre.


Morgado no Elbrus
 

Os números, porém, não abalam Morgado. Além do Everest, seu fascínio pelas montanhas o fez escalar dezenas das principais do mundo, incluindo as mais altas da América do Sul (Aconcágua), da América do Norte (McKinley), da Europa (Elbrus), da África (Kilimanjaro), da Oceania (Kosciuszko), além das mais altas da Bolívia (Sajama) e do Equador (Chimborazo). Em setembro de 2009, escalou o Cho Oyu (8.201 metros), a sexta mais alta do planeta. Em dezembro de 2011, concluiu a escalada da montanha mais alta de cada continente, o chamado Sete Cumes (Seven Summits), tornando-se o segundo brasileiro a conquistar esse feito. Suas escaladas do Cho Oyu e do Everest são relatadas em seu primeiro livro, Sonhos Verticais, lançado em março do ano passado.



Feira em Catmandu, Nepal

 Quando tentava subir o Manaslu, outro monte do Himalaia, Morgado vivenciou uma tragédia. Em setembro de 2012, no campo três, onde deveria estar não fosse uma dor de cabeça intensa que o impediu de subir naquele dia, ocorreu uma avalanche que dizimou o acampamento. Foram 12 mortos no total. Ele tentava chegar ao topo daquela montanha sem o cilindro de oxigênio, mais um desafio que esperava superar. “Mas não consegui. Eu queria buscar meus limites e os encontrei”, admite com tranquilidade.

Medicina de altitude
Morgado afastou-se da Medicina, mas ela o encontrou nas montanhas. Nas mais altas, garante, o ambiente durante a escalada “é totalmente hostil”. Devido ao ar muito seco, “todo alpinista tem muita tosse, forte o suficiente para quebrar uma costela. A gente vê helicópteros levando pessoas, várias vezes por dia, porque se machucam, se acidentam, morrem”. Nesses momentos, as experiências de médico ressurgem e ele consegue realizar procedimentos para ajudar outros alpinistas. Nas expedições que realiza com grupos, ele carrega consigo equipamentos como bisturi, fio de sutura, antibióticos, soro, drogas para tratamentos de edemas cerebrais e pulmonares, oxímetro e uma Gamow Bag, para diminuir sintomas provocado pela altitude.

Além das experiências fantásticas, o alpinismo permitiu-lhe também a sobrevivência econômica da maneira como sonhara quando estudante. Morgado divide o ano em seis meses de trabalho e seis de férias. Isso foi possível graças à sua empresa de expedições, que leva grupos, principalmente de brasileiros, para praticar alpinismo e trekking nas mais diversas regiões do mundo, como o Nepal, Paquistão e Mongólia. Nos meses de férias, ele dedica-se às escaladas de interesse pessoal e, ultimamente, está curtindo fazer ski, o que sempre evitou por receio de quebrar alguma perna ou braço, que lhe fariam muita falta no alpinismo. Também viaja para conhecer novos destinos para apresentá-los aos clientes. “Raramente fico na mesma cama por mais de uma semana. Vivo assim há quase 24 anos... E estou muito feliz”.


(Colaborou: Vivian Costa)

Fotos: Arquivo pessoal


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