CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág.1)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág.4)
Susan Greenfield
CRÔNICA (pág.11)
Fabrício Carpinejar*
SINTONIA (pág.12 a 15)
Neurociência e Filosofia
DEBATE (págs.16 a 21)
Todos os cidadãos têm o direito à saúde garantido?
EM FOCO (págs. 22 a 25)
Medicina sobre rodas
GIRAMUNDO (pág.26)
Curiosidades de ciência e tecnologia, história e atualidades
PONTO COM (pág.28)
Informações do mundo digital
HISTÓRIA (págs. 30 a 33)
Com 112 anos de história, Intituto Butantan é um dos maiores centros de biomedicina mundial
HOBBY (págs.34 a 37)
Médicos dedicam-se a escrever poemas
CULTURA (pág.38 a 41)
Pinacoteca de São Paulo realiza mostra sobre gravura brasileira
LIVRO DE CABECEIRA (pág.42)
Por Marco Tadeu Moreira de Moraes*
CARTAS & NOTAS (pág.43)
Medicina na Bolívia atrai grande número de brasileiros
TURISMO (págs. 44 a 47)
Cidades de Santa Catarina guardam um pouco da cultura europeia
FOTOPOESIA (pág.48)
Oscar Niemeyer
GALERIA DE FOTOS
TURISMO (págs. 44 a 47)
Cidades de Santa Catarina guardam um pouco da cultura europeia
Pedalando no Vale Europeu
Por Marianna Mellone*
Fotos: Marianna Mellone e Renato Galani
Localizado no interior de Santa Catarina, o Vale Europeu foi o primeiro circuito de cicloturismo criado no Brasil. Muito prático por ser um trajeto circular, ele sai e chega à mesma cidade, Timbó, o que facilita bastante a logística. Durante sete dias, passamos por vários povoados e cidadezinhas de colonização italiana e alemã, quase 100% em estradas de terra, muitas casinhas de madeira com jardins bem cuidados e sem portão, sítios, pessoas acolhedoras, cantar de passarinhos, comida boa, chuva e noites bem estreladas. Imperdível!
Primeiro dia: Campinas/Timbó – Amanheceu, malas e bicis no carro e estrada! Após 8 horas chegamos a Timbó. O ar era outro e o sotaque também. Hospedamo-nos e pegamos nosso passaporte (cartão fornecido pela organização do circuito, carimbado em cada lugar por onde passamos), por R$ 10,00 cada, no Hotel Timbó, e jantamos comida alemã no restaurante Thapyoka, onde deixamos nosso carro durante o pedal.
Segundo dia: Timbó Benedito Novo/Cedro Alto/Rio Milanês/Palmeiras – Foram duas subidas: uma grande e outra monstruosa, e pegamos bastante sol! Ainda bem que foi o primeiro dia... Saímos de Timbó às 8 horas, felizes da vida. A subida era pesada, mas o cenário compensava com pequenas propriedades rurais e plantações de coqueiro, pinheiro, abóbora, arroz, cana e milho.
Encontramos várias pessoas simpáticas pelo caminho, para dizer “bom dia”, mas foi em Cedro Alto que tivemos a maior surpresa da jornada. Chegamos nessa vila na hora do almoço e vimos um lugar com várias pessoas. Fomos ver o que era. Um moço bem loiro, de bochechas rosadas e gorducho, com uma faixa no peito escrita “Rei do Caneco”, disse: “coloca as bicicletas ali e pode entrar que tem bastante comida lá dentro!!”. Fomos entrando, olhando aquela festa inesperada, e a banda começou a tocar música alemã. Compramos meio-galeto, que era enorme, acompanhado de arroz, batata, mandioca e salada à vontade.
Depois do banquete, duas horas de subida forte pela frente, barriga cheia, preguiça, sol forte do meio dia e pedras pelo chão. Mas, no final, havia sombra e um riozinho pra gente se refrescar, a paisagem ficou mais bonita, com mata fechada e muito verde.
Chegamos a Palmeiras no fim da tarde e fomos para a única pousada-bar-restaurante do lugar. Tomamos um café, banho e demos um cochilo. À noite saímos para jantar e descobrimos que tudo estava fechado na pequena vila. Uma única luz iluminava a rua, ao som de grilos e sapos. Uma maçã perdida na minha bolsa foi a nossa comida.
Terceiro dia: Palmeiras/Alto Cedro – Muitas subidas. Começamos bem cedinho. A trilha inicial tinha bastante mata, sombra e clima fresco. Mais ou menos na metade do percurso, a paisagem muda bastante, tornando-se seca e calorenta, com pouca vegetação, algumas somente de pinheiros.
Em Alto Cedro foi uma bênção chegar à Parador da Montanha, a pousada mais charmosa de toda a viagem! O lugar é um sonho, com muita madeira e artesanato, quartos limpinhos e cheirosos, camas grandes, roupas de cama lisinhas e uma surpresa: uma maravilhosa jacuzzi para relaxar, com água morna e num lugar com vista privilegiada. De almoço, comidinha mais que perfeita: arroz carreteiro, bolinhos de feijão, frango a passarinho e suco de acerola.
Quarto dia: Cedro Alto/Doutor Pedrinho – Muita chuva o caminho todo! Ao chegar em Dr. Pedrinho estávamos completamente molhados e cheios de areia de cima a baixo. No hotel, tomamos um primeiro banho de mangueira no quintal e nos emprestaram a lavanderia para lavar as imundícies e o varal para estender as inúmeras roupas molhadas, que não ficariam completamente secas até o dia seguinte.
À noite, andamos por quase toda a cidade, que estava bem silenciosa. Parecia que todo mundo já tinha ido dormir; apenas um bar-bolão-lanchonete estava aberto, com poucas pessoas. Ficamos observando os muros baixos das casas, algumas janelas e portões abertos e carros estacionados na rua, sinais de como o lugar é tranquilo.
Quinto dia: Doutor Pedrinho/Zinco – Muito frio! Com as roupas ainda muito molhadas e fedorentas, saímos bem cedo para fugir da chuva, e até que deu certo. No caminho muita plantação de arroz e madeireiras. Em Benedito Novo, fomos ver a igreja de estilo enxaimel, uma das poucas na América Latina. Enxaimel (ou Fachwerk) é uma técnica de construção que consiste em paredes montadas com hastes de madeira encaixadas, preenchidas por pedras ou tijolos. Os telhados são bastante inclinados. Geralmente é vinculado à Alemanha, embora não possua uma ori-
gem determinada.
A temperatura foi baixando, mas nem percebemos. Na subida de 2 km até Zinco, deu até para suar. Lá no alto, uma cachoeira magnífica. Chegamos à pousada rural e fomos para o restaurante, onde comemos bobó de peixe com camarão, pirão, arroz e farinha. Um tempinho parados e logo percebemos a intensidade do frio. Meus dedos dos pés ficaram anestesiados. A casa em que ficamos era extremamente aconchegante e simples: de madeira, fogão a lenha, toalhinhas de crochê, roupas de cama novas e chuveiro quentinho.
Sexto dia: Zinco/Rodeio/Indaial – Delicioso café e vamos pedalar! Uma chuva fina nos acompanhou o tempo todo. Chegando a Rodeio passamos por um lugar muito excêntrico, com várias estátuas de anjos pelo caminho, feitas por um artista plástico da região. O lugar também tinha uns arbustos enormes de margaridas. Em seguida, paramos no “Queijos Giacomina”. A própria Giacomina nos atendeu, uma moça italiana que aprendeu a arte dos queijos e salaminhos, na Itália, com os pais. Degustamos vários, um melhor que o outro!
Sétimo dia: Indaial/Pomerode – Caminho plano, bom para descansar as pernas e com vários pontos de abastecimento. Finalmente parou de chover e voltamos a ver um pouco de sol. Pomerode é um encanto! Muita flor, casinhas no estilo enxaimel, comida gostosa, docinhos e pessoas falando alemão. No jantar, macarrão caseiro e vinho tinto! Andamos pela cidade e levamos nossas bicis para revisão.
Oitavo dia: Pomerode/Timbó – Partimos, num lindo dia de sol, para nossa última jornada de aventura. Que pena... Não estavámos tão cansados a ponto de ficar com saudades de casa. Por mim, viajava mais um pouquinho. Mas enfim... o ponto de partida é sempre, também, um ponto de chegada. E a saudade que fica é o que não nos deixa parar.
*Médica ginecologista-obstetra, Marianna Mellone viajou para o Vale Europeu com seu marido, Renato Galani, gerente de projetos em Informática. Ambos têm um site sobre outras viagens no endereço www.aventuraadois.com