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CAPA

EDITORIAL (pág. 1)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág. 4)
Edmund Pellegrino, do Kennedy Institute of Ethics


SAÚDE NO MUNDO (pág. 9)
E U R O P A


CRÔNICA (pág. 12)
Cássio Ruas de Moraes*


SINTONIA (pág. 14)
Alexandrina Meleiro*


DEBATE (pág. 18)
A atuação de recém-formados em regiões distantes do país


SUSTENTABILIDADE (pág. 24)
O descarte e a reutilização de materiais


HISTÓRIA DA MEDICINA (pág. 27)
Por Renato M.E. Sabbatini*


GIRAMUNDO (págs. 30/31)
Curiosidades da ciência e tecnologia, da história e da atualidade


PONTO COM (págs. 32/33)
Acompanhe as novidades que agitam o mundo digital


HOBBY (pág. 34)
Valdir Lopes de Figueiredo


LIVRO DE CABECEIRA (pág. 37)
O Conto da Ilha Desconhecida - André Scatigno*


CULTURA (pág. 38)
INHOTIM - Todos os sentidos da arte


CARTAS & NOTAS (pág. 43)
Comentários, Fontes e Referências Bibliográficas


TURISMO (pág. 44)
Na Garupa de um Motociclista...


FOTOPOESIA( pág. 48)
Sophia de Mello Breyner Andresen


GALERIA DE FOTOS


Edição 56 - Julho/Agosto/Setembro de 2011

LIVRO DE CABECEIRA (pág. 37)

O Conto da Ilha Desconhecida - André Scatigno*

Dois portugueses: Saramago e Pessoa. Ambos compreenderam que “viver não é preciso”, no sentido de ser a vida indefinida, indeterminada... Mas há mais o que se observar. Pessoa fala, em seu poema, que viver não é necessário, o fundamental na vida é torná-la grande.

Tem a mesma percepção o outro português: Saramago, que em um conto belíssimo – motivo dessa resenha – descreve a determinação de um homem que vai ao rei pedir um barco para viajar à Ilha Desconhecida. O homem esbarra, então, na burocracia. No palácio do rei há muitas portas, entre elas a das petições. Mas, até que um pedido chegue à Sua Majestade, passa por inúmeros encarregados.

Que rei temos nós, que não atende... Então, o primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, este chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém em quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha, Que é que tu queres.

Impulsionado por seus sonhos o homem vence as dificuldades burocráticas e, após se instalar às portas do palácio, consegue que o rei o atenda.

E tu para que queres um barco, pode-se saber, Para ir à procura da ilha desconhecida, respondeu o homem, Que ilha desconhecida, perguntou o rei disfarçando o riso, ...disparate, já não há ilhas desconhecidas.

Numa sequência de diálogos ao estilo de Saramago, de longos períodos pontuados entre vírgulas, o leitor se depara com críticas sutis ao poder.

E vieste aqui para me pedires um barco, Sim, vim aqui para pedir-te um barco, E tu quem és, para que eu to dê, E tu quem és, para que não mo dês, Sou o rei deste reino, e os barcos do reino pertencem-me todos, Mais lhes pertencerás tu a eles do que eles a ti, Que queres dizer, perguntou o rei, inquieto, Que tu, sem eles, és nada, e que eles, sem ti, poderão sempre navegar...

Conhecedor do comportamento humano, o autor descreve com habilidade as situações vividas pelos personagens:

...mas a mulher da limpeza não está, deu a volta e saiu com o balde e a vassoura por outra porta, a das decisões, que é raro ser usada, mas quando o é, é.

No conto encontram-se, ao mesmo tempo, a ingenuidade de uma história que pode ser lida a uma criança e a profundidade da busca, do encontrar-se consigo mesmo para uma vida melhor. Além da profundidade filosófica, há ainda uma história de amor. O autor fala também da inquietação humana, esse sopro que nos dá vida e nos impulsiona:

...mas quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver, Não o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és.

Saramago vez ou outra suscita certo machismo, como em: “visto que sou mulher” ou “um grupo de mulheres ocupam-se nas suas coisas de mulheres”, mas trata-se apenas de uma provocação, pois ele valoriza a figura da mulher da limpeza, que incentiva o homem a seguir na direção de seu sonho, apesar das intempéries.

Em O Conto da Ilha Desconhecida, encontramos ainda a riqueza da linguagem poética de Saramago quando, por exemplo, escreve:

...o sonho é um prestidigitador hábil, muda as proporções das coisas e as suas distâncias, separa as pessoas, e elas estão juntas, reúne-as, e quase não se vêem uma à outra, a mulher dorme a poucos metros e ele não soube como alcançá-la, quando é tão fácil ir de bombordo a estibordo.

Assim, está implícito nesse conto de José Saramago que “o homem é do tamanho do seu sonho”, conforme explicitou Fernando Pessoa.

(*) Médico radiologista, conselheiro e diretor de Comunicação do Cremesp.


O Conto da Ilha Desconhecida
Obra:  O Conto da Ilha Desconhecida
Autor: José Saramago
Editora: Companhia das Letras


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