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CAPA

EDITORIAL (pág. 1)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág. 4)
Edmund Pellegrino, do Kennedy Institute of Ethics


SAÚDE NO MUNDO (pág. 9)
E U R O P A


CRÔNICA (pág. 12)
Cássio Ruas de Moraes*


SINTONIA (pág. 14)
Alexandrina Meleiro*


DEBATE (pág. 18)
A atuação de recém-formados em regiões distantes do país


SUSTENTABILIDADE (pág. 24)
O descarte e a reutilização de materiais


HISTÓRIA DA MEDICINA (pág. 27)
Por Renato M.E. Sabbatini*


GIRAMUNDO (págs. 30/31)
Curiosidades da ciência e tecnologia, da história e da atualidade


PONTO COM (págs. 32/33)
Acompanhe as novidades que agitam o mundo digital


HOBBY (pág. 34)
Valdir Lopes de Figueiredo


LIVRO DE CABECEIRA (pág. 37)
O Conto da Ilha Desconhecida - André Scatigno*


CULTURA (pág. 38)
INHOTIM - Todos os sentidos da arte


CARTAS & NOTAS (pág. 43)
Comentários, Fontes e Referências Bibliográficas


TURISMO (pág. 44)
Na Garupa de um Motociclista...


FOTOPOESIA( pág. 48)
Sophia de Mello Breyner Andresen


GALERIA DE FOTOS


Edição 56 - Julho/Agosto/Setembro de 2011

CRÔNICA (pág. 12)

Cássio Ruas de Moraes*

A moça e o notebook

Nosso neto mais velho pediu: “Vó, me dá um notebook só para mim?” “Um notebook?! Para que você quer um notebook?” “Eu quero um computador... Minha mãe não deixa usar o dela quando eu quero...” Ele tem oito anos e sabe que a presenteadora em casa é a avó. O avô não gosta nem de entrar em loja. A avó parece ter recursos inesgotáveis para satisfazer os netos. Ela veio trocar ideias comigo. Obviamente ele não tinha maturidade suficiente. Seu principal interesse eram os jogos, essa praga altamente viciante que grassa prejudicando cérebros em desenvolvimento. Seu controle é um desafio para os pais modernos.

Resolvemos consultar nosso “personal”, como chamamos o rapaz que mantém o nosso computador funcionando. Fez bem pensadas considerações. Disse que, a essa altura, pelo menos a metade de seus coleguinhas da escola já tinha notebook. O melhor seria presenteá-lo deixando claro que era uma necessidade para uso escolar, e não um brinquedo a mais para passar o tempo em jogos. A colaboração da escola e da professora seria crucial neste aspecto. Que esperássemos uma oportunidade favorável.

A propósito, ele nos contou a história de uma garota que sonhava com um notebook. Trabalhava cuidando de uma pessoa idosa numa família que ele conhecia. Como lhe sobrasse tempo, divertia-se com jogos eletrônicos e com celulares, chegando a perder alguns, sempre substituídos por outro mais sofisticado. Era de estatura baixa e atarracada, cintura larga, traços grosseiros de rosto, cabelos mal cuidados, excessivamente armados. Olhando-a, podia-se dizer que a natureza não tinha sido nem um pouco pródiga com ela. Continuava naquela vidinha juntando dinheiro até conseguir comprar um notebook. Engordava pela falta de exercícios, olhos e dedos no computador.

Depois de algum tempo, pessoas mais observadoras começaram a notar que parecia engordar mais na cintura e na barriga. Ela confirmava que estava engordando, andava com uma fome de cão. As pessoas aceitavam a explicação, mas depois de algum tempo percebiam que a barriga, além disso, crescia também para cima. Não era possível, devia estar grávida. Alguém lhe fez a pergunta direta. Reagiu com indignação: “Eu nunca menstruei na vida, eu sou assim mesmo!” Olhando para ela, para seu tipo físico, sem maldade, as pessoas acreditavam na negativa. Não, não era possível que alguém fosse abusar dela. Estava era enorme de gorda.

Até que um dia sentiu tonturas. Foi a um posto de saúde e tomaram-lhe a pressão: estava alta. Sem examiná-la, deram-lhe um medicamento e mandaram-na para casa. No dia seguinte, dor de cabeça, vômito. A patroa levou-a de carro para um hospital. No caminho, ainda lhe disse: “Você está grávida, menina”. “Não. Estou só passando mal”. Negou até o fim.
    
Apresentava hipermaturidade fetal e eclâmpsia. Quando já não podia mais negar, chorou: “Minha mãe vai me matar!”

As pessoas que a conheciam não sabiam como aquilo tinha sido possível. Saía muito pouco, nunca teve namorado, estava longe dos padrões comuns de beleza. Seria obra do espírito santo ou geração espontânea. Até que alguém lembrou: o notebook! Seu companheiro inseparável. Andara fazendo perguntas sobre sites de relacionamento. Aí estava a chave do mistério. Encontros marcados, saídas furtivas como uma gata no escuro da noite. Embora até hoje ela ainda esteja negando que haja um pai, a família quer descobrir quem foi, pelo menos para responsabilizá-lo legalmente.

Quanto ao notebook, é bom que estejamos atentos. Todos deviam trazer uma advertência: “Este aparelho pode ser prejudicial à saúde. Use-o com moderação”.

*Cássio Ruas de Moraes é médico radiologista e diretor do Jornal da Imagem, da Sociedade Paulista de Radiologia.

 



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