CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Encontro nacional em Brasília fortaleceu as reivindicações da categoria
ENTREVISTA (pág. 4)
Paulo Hoff, diretor clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octávio Frias de Oliveira
MEIO AMBIENTE (pág. 9)
Encontro discutiu consumo de alimentos geneticamente modificados
CRÔNICA (pág. 13)
Tufik Bauab - Presidente da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem
SAÚDE NO MUNDO (pág. 14)
Tebni Saavedra descreve o sistema público de saúde do Chile
DEBATE (pág. 14)
A autonomia dos médicos e a prescrição racional de medicamentos
HISTÓRIA (pág.23)
A evolução dos estudos voltados para a saúde pós-período renascentista
GIRAMUNDO (pág. 26)
Curiosidades da ciência, da história e da atualidade
PONTO COM (pág. 28)
Canal de atualização com as novidades do mundo digital
SINTONIA (pág. 30)
Antonio Francisco Lisboa: maior escultor barroco mineiro do final do século XVIII
MÉDICOS EM FOCO (pág. 36)
Uma análise da temática médica, quando foco principal das séries televisivas
HOBBY (pág. 40)
Guerrini, o colecionador de conchas, já contabiliza mais de 10 mil peças
TURISMO (pág. 42)
Agende suas próximas férias para o interior paulista e aproveite o contato com a natureza
CABECEIRA (pág. 47)
Sugestão de leitura da conselheira Ieda Therezinha Verreschi*
FOTOPOESIA (pág. 48)
Cantares - Antônio Machado
GALERIA DE FOTOS
HISTÓRIA (pág.23)
A evolução dos estudos voltados para a saúde pós-período renascentista
A medicina reencontra o humanismo
Fundamental na medicina, o Renascimento resgatou os ensinamentos de Hipócrates e promoveu a evolução científica dos estudos da saúde
Os resgates da cultura humanista, esquecida durante os tempos medievais, e de valores como racionalismo, experimentalismo, individualismo e antropocentrismo foram características que o Renascimento notabilizou na Europa, do século XIV ao XVI. O Humanismo no Renascimento resgatou os valores da cultura greco-romana. O homem foi colocado como centro de todas as coisas e, como tal, alvo para o afloramento de descobertas científicas na astronomia, física, matemática, geografia e também na medicina.
A Itália, que já possuía tradição cultural e artística, recebeu influências das civilizações bizantina e árabe, próximas geograficamente. Com o desenvolvimento econômico, social e político de suas cidades, surgiu no país um grupo de intelectuais interessados em renovar os estudos que eram ministrados nas universidades medievais.
Assim, além da evolução das artes – pintura, escultura, arquitetura, literatura e música –, o movimento renascentista foi fundamental para a medicina. É nesse período, em 1543, que o jovem médico flamengo Andreas Versalius publica De Humani Corporis Fabrica (Da Organização do Corpo Humano), um dos mais influentes livros científicos sobre anatomia humana, área bastante estudada no período renascentista.
O astrônomo, físico, filósofo, engenheiro e artista Leonardo da Vinci deu sua contribuição à medicina ao medir com um goniômetro (instrumento para medição de ângulos) as proporções do organismo humano, reduzindo-as a fórmulas matemáticas. Contrariando a crença galênica, ele demonstrou que o coração era um músculo e descreveu as cavidades aurículas, observando sua contração e dilatação, e identificando a sístole e diástole. Dissecou mais de 30 cadáveres e fez um tratado de 120 volumes, estudando ventrículos cerebrais, pleura e pulmões. Foi o criador da ilustração médica e da arte de desenhar em anatomia e fisiologia, sendo considerado o pai da anatomia.
Caracterizada pelo racionalismo científico, fundamentada nas experimentações e no espírito crítico, a medicina libertou-se dos credos e ensinamentos eclesiásticos. Também a invenção da imprensa contribuiu para o seu desenvolvimento. Os médicos renascentistas eram humanistas e letrados, pertencentes às classes privilegiadas e egressos de reconhecidas universidades. Bebiam na fonte de ensinamentos de Hipócrates, Galeno e Avicena, praticantes de dissecações e estudos anatômicos e fisiológicos. A anatomia e a cirurgia, que eram ensinadas em conjunto, tornaram-se disciplinas autônomas a partir de 1570.
Rompimento
A medicina universitária tinha no alemão Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, conhecido como Paracelso, um ferrenho inimigo. Ele estudava magia e alquimia e defendia uma medicina baseada em novos conceitos, além dos ensinados por Galeno. Desenvolvia preparados farmacêuticos, optando por fórmulas mais simples e com ingredientes provenientes da natureza e substâncias minerais, como enxofre, mercúrio, chumbo, cobre, ferro e antimônio. Queimou em público as obras de Galeno e Avicena, mas, apesar de sua fúria iconoclasta, concordava com Hipócrates num ponto: que o lugar do médico era na cabeceira do doente. O conhecimento prático de Paracelso rendeu obras sobre cirurgias e farmacologia, sendo responsável pela introdução de muitas drogas medicinais.
Entre os médicos renascentistas, destaca-se principalmente Jean Fernel (1497-1558), professor de medicina na Universidade de Paris e autor dos termos fisiologia e patologia e da obra Universa Médica (A Medicina Universal), cujos conhecimentos permaneceram válidos por dois séculos e que dividiu o conhecimento sobre medicina nas atuais disciplinas: fisiologia (funcionamento normal do corpo), patologia (funcionamento do corpo doente) e terapêutica (meios empregados para resolver a doença). Já Girolamo Cardano (1501-1576) associou seus estudos de matemática e filosofia à prática médica e foi o pioneiro na descrição clínica da febre tifoide e da tuberculose como doença infecciosa. Igualmente foi percursor na psiquiatria, quando descreveu a imoralidade como uma moléstia do espírito, distinguindo os que são cruéis dos que agem erroneamente apenas por veemência de sua paixão.
Outro ilustre renascentista foi Ambroise Paré (1517-1590), inicialmente um barbeiro-cirurgião em Paris, que se notabilizou como médico do exército e cirurgião doméstico, considerado o melhor da Renascença. Ele rompeu com os ensinamentos clássicos e aboliu a cauterização das feridas. Transformou-se em ídolo dos soldados por abandonar a dolorida técnica do óleo fervente para cicatrizar as feridas, que produzia ainda extensas áreas de inflamação e necrose tecidual. Defendeu a ligadura de artérias para controlar as hemorragias, sendo nomeado mestre cirurgião, por Henrique II, em 1554. Sete anos depois, publicou seu tratado Cirurgia Universal, em que incorporava novos métodos cirúrgicos e instrumentais.
O Renascimento marcou também o surgimento dos cirurgiões, repelidos pelos médicos de então. A reação, no entanto, não impediu o avanço das primeiras técnicas cirúrgicas, que incluíam transplante de tecidos e cistotomia com técnica de incisão perineal e cateterismo.
Na obstetrícia, a contribuição da Renascença produziu avanços significativos, como a publicação de vários livros em idiomas diferentes do tradicional latim, além de obras de pediatria, como a inglesa Book of Children (Livro das Crianças), de Thomas Phayre, e a italiana De morbis puerorum (Sobre as doenças das crianças), de Paolo Bagellardo.
Referências bibliográficas
• Sournia, Jean-Charles. “História da Medicina”. Instituto Piaget, 1995.
• LyonS, Albert S., e Petrucelli, R. Joseph. “História da Medicina”. Editora Manole, 1997.
• Moreno, Armando. “O Mundo Fascinante da Medicina”. 12 Vol. Ed. Autor, 1997.
Período registra várias epidemias
Durante o Renascimento, várias doenças foram descritas pelos cientistas. Uma delas foi o misterioso “suor maldito”, que tinha início súbito, com calafrios, vertigens, dores no pescoço e prostração, erupções cutâneas e morte em 24 horas, vitimando metade de população das cidades inglesas de Oxford e Cambridge. A febre tifoide (jail fever) também surgiu naquela época, inicialmente entre os prisioneiros no cárcere que, por sua vez, infectavam os juízes durante os julgamentos.
A primeira epidemia de sífilis surgiu entre os marinheiros que acompanhavam Colombo no regresso da primeira viagem ao Novo Mundo. A doença passou aos soldados espanhóis que combatiam com o rei, ao redor de Nápoles, e alcançaram as tropas de Carlos VIII, que sitiaram a cidade. Ao difundirem a doença por toda a Europa, em poucas décadas a natureza sexual da sífilis (conhecida como Mal Francês) seria melhor estudada por Girolamo Fracastoro (1475-1553), que defendeu a teoria moderna da infecção por germes invisíveis. Jean Fernel foi também o primeiro que diferenciou a sífilis da gonorreia, considerando que o único vínculo entre elas era o mecanismo de transmissão. Por sua vez, o médico humanista Nicolo da Lonigo escreveu e traçou um retrato clínico da sífilis, criando escola médica em Ferrara (Itália).