CAPA
PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Encontro nacional em Brasília fortaleceu as reivindicações da categoria
ENTREVISTA (pág. 4)
Paulo Hoff, diretor clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octávio Frias de Oliveira
MEIO AMBIENTE (pág. 9)
Encontro discutiu consumo de alimentos geneticamente modificados
CRÔNICA (pág. 13)
Tufik Bauab - Presidente da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem
SAÚDE NO MUNDO (pág. 14)
Tebni Saavedra descreve o sistema público de saúde do Chile
DEBATE (pág. 14)
A autonomia dos médicos e a prescrição racional de medicamentos
HISTÓRIA (pág.23)
A evolução dos estudos voltados para a saúde pós-período renascentista
GIRAMUNDO (pág. 26)
Curiosidades da ciência, da história e da atualidade
PONTO COM (pág. 28)
Canal de atualização com as novidades do mundo digital
SINTONIA (pág. 30)
Antonio Francisco Lisboa: maior escultor barroco mineiro do final do século XVIII
MÉDICOS EM FOCO (pág. 36)
Uma análise da temática médica, quando foco principal das séries televisivas
HOBBY (pág. 40)
Guerrini, o colecionador de conchas, já contabiliza mais de 10 mil peças
TURISMO (pág. 42)
Agende suas próximas férias para o interior paulista e aproveite o contato com a natureza
CABECEIRA (pág. 47)
Sugestão de leitura da conselheira Ieda Therezinha Verreschi*
FOTOPOESIA (pág. 48)
Cantares - Antônio Machado
GALERIA DE FOTOS
CRÔNICA (pág. 13)
Tufik Bauab - Presidente da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem
Homem com H
Quando Gilmar Alves de Souza (o nome é fictício, a história é 100% verdadeira e está toda no Diário da Região, de São José do Rio Preto) perdeu seus documentos e começou a providenciar as segundas vias, não percebeu que o primeiro papel que recebeu foi um passaporte para transitar pelo inferno da burocracia.
Gilmar, que até os 26 anos teve uma vida humilde, mas decente e honesta, procurou em primeiro lugar o cartório de registro civil de Engenheiro Schmitt, vilarejo onde mora. Poucos moradores sabem exatamente quem foi esse engenheiro e, com certeza, menos ainda sabem escrever corretamente o nome complicado.
Em Engenheiro Schmitt, a vida corre devagar, bem lenta, principalmente nos meses de outubro a março, período em que quase todos os dias a temperatura fica acima de 33 graus. Talvez por leseira ou distração, provocada por tanto calor, o cartorário tascou um “sexo: feminino” na segunda via da certidão de nascimento de Gilmar, que não percebeu nada até requerer nova carteira de identidade – negada por justa causa. Para o burocrata de plantão, Gilmar era nome de homem, o portador tinha todas as características masculinas, mas a certidão de nascimento dizia que era mulher. Pouco adiantou a argumentação macha de Gilmar, o que valia era o que estava no papel. E sem identidade não é possível obter título de eleitor, muito menos carteira de trabalho.
Um dos burocratas sugeriu a Gilmar que retornasse ao cartório para a “devida correção”. E lá foi a vítima para outra armadilha da burocracia. O cartorário que cometeu o erro, o único autorizado a alterar a tal certidão, não poderia fazê-lo por “justa causa”. Ele havia falecido, partido desta para outra.
– E o cartorário substituto, por favor, não pode corrigir o erro?
– Alterar uma certidão preenchida por “outrem”? Nem pensar.
Se para alguns parece cômico, para a vítima começava a ser trágico. Não conseguia nem arrumar emprego. A situação do rapaz ficou complicada. O cartorário que substituiu o falecido burocratizou mais ainda o imbróglio. E por incrível que possa parecer, segundo opinião de um promotor de justiça, cabe à vítima provar que é homem, e não mulher. É isso mesmo, o ônus da prova é do próprio Gilmar.
O passaporte masculino – chamemo-lo assim – é fácil de se reconhecer. Segundo os dicionários, pênis é o órgão sexual dos indivíduos do sexo masculino, dentre os vertebrados ou invertebrados que possuem órgãos sexuais. No ser humano, seu formato é cilíndrico; tem dimensões variáveis entre os 10 e 18 centímetros no seu estado ereto; é formado por dois tipos de tecidos (dois corpos cavernosos e um esponjoso) e, em sua extremidade, observa-se uma fenda, que é a terminação da uretra, canal que escoa o esperma e a urina.
Como nossa vítima aparenta ser um vertebrado, ficaria fácil ao cartorário de Schmitt (o que está vivo) descobrir a verdade. Bastava pedir para a vítima baixar as calças.
Mudança de sexo é bastante comum – aqui mesmo, no Hospital de Base de Rio Preto, a toda hora pênis vira vagina. Mas do contrário não se tem notícia. Pelo menos até agora, nenhum doutor conseguiu transformar vagina em pênis. Assim, se nossa vítima tiver entre as pernas um corpo cilíndrico, variando entre 10 e 18 centímetros, deve ser um pênis verdadeiro, não cirúrgico (portanto, não falsificado). E o portador do dito cujo é um vertebrado, do sexo masculino, desde o nascimento. Se o cartorário ainda tiver dúvida, a internet está lotada de fotos que o ajudarão a reconhecer o órgão de reprodução dos machos da espécie.
Caso o cartorário seja um “desidiente” (na linguagem do promotor) ou um preguiçoso negligente, em português vulgar, sugiro ao Gilmarzão que se poste sob a janela do tal cartorário e cante repetidamente, ad nauseam, aquela música de Antonio Barros, que ficou famosa na voz de Ney Matogrosso:
“Nunca vi rastro de cobra/
Nem couro de lobisomem/
Se correr o bicho pega/
Se ficar o bicho come/
Porque eu sou é home...”
Um dia qualquer ele conseguirá convencer o tal cartorário.