CAPA
EDITORIAL (SM pág.1)
Homenagem especial a José Aristodemo Pinotti
ENTREVISTA (SM pág. 4)
Professora da PUC analisa a vida em sociedade
CRÔNICA (SM pág. 8)
Texto de Tufik Bauab, presidente da Sociedade Paulista de Radiologia
PALAVRA (SM pág. 10)
Saúde e Educação devem ser prioritárias para crianças entre 0 e 6 anos
CONJUNTURA (SM pág. 14)
Neuroética. Ficção científica é passado longínquo...
EM FOCO (SM pág. 16)
"A pílula mudou o status da mulher e da abordagem de saúde" (Rodrigues de Lima)
ESPECIAL (SM pág. 20)
Novas posturas reafirmam nosso compromisso com a comunidade e o meio ambiente
DEBATE (SM pág. 22)
Especialistas da USP avaliam preservação ambiental e sustentabilidade
GIRAMUNDO (SM pág. 28)
Nova coluna estreia com temas interessantes e atuais
HISTÓRIA (SM pág. 30)
Movimentos populares transformaram o modelo de saúde pública no país
LIVRO (SM pág. 35)
Títulos de presença obrigatória em sua estante
CULTURA (SM pág. 36)
Batatais reúne acervo precioso do pintor paulista Cândido Portinari
TURISMO (SM pág. 42)
Ao sul de Minas, uma cidade imperdível para visitar, praticar esportes e descansar
CARTAS (SM pág. 46)
Comentários dos leitores sobre algumas matérias da edição anterior, nº 47
POESIA (SM pág. 48)
Olavo Bilac
GALERIA DE FOTOS
CULTURA (SM pág. 36)
Batatais reúne acervo precioso do pintor paulista Cândido Portinari
Ao alto, o políptico Jesus e os Apóstolos. No centro, fotos do artista em diversas fases. Abaixo, sapato especial para corrigir diferença de altura entre as pernas
O INTERIOR DE PORTINARI
Os fiéis ficaram escandalizados quando viram as imagens e pinturas sacras da Paróquia Bom Jesus da Cana Verde, em Batatais, serem trocadas por afrescos e quadros de Cândido Portinari. Soavam como heresia aqueles pés desproporcionais e azuis de santos e apóstolos na representação estética modernista-cubista. Com o tempo, entenderam que era um “luxo” uma pequena cidade do Interior possuir tamanho acervo de um dos artistas brasileiros de maior reconhecimento internacional. Cerca de 30 quilômetros dali, os habitantes da também pequena Brodowski orgulham-se do Museu Casa de Portinari, que expõe mobília, roupas, objetos pessoais, ferramentas de trabalho e obras do seu mais ilustre morador. Juntas, as cidades são um polo cultural regional e recebem turistas por causa de Portinari.
Retrato de José Martins, patrocinador das obras
Transformada em museu em 1970, a casa onde Portinari passou a infância em Brodowski, a 337 quilômetros da capital paulista, recebe cerca de quatro mil visitas por mês. O espaço permite conhecer as várias facetas do artista, que também se dedicou à política e à poesia. “As cadeiras da cozinha foram entalhadas pelo pai do pintor”, informam os guias do museu mantido pela Secretaria de Estado da Cultura.
Portinari nasceu em uma fazenda de café da região, em 1903, e morou na casa dos pais até os 15 anos, indo para o Rio de Janeiro estudar e aprimorar-se na pintura. Em 1928, ganhou o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro da Exposição Geral de Belas Artes, iniciando, por Paris, um giro mundial pelos melhores circuitos de arte. Logo ganhou notoriedade. Expôs várias vezes na Europa, recebeu prêmios e tem murais em diversas instituições do mundo, como os painéis Guerra e Paz, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 1939, expôs três telas no Pavilhão Brasil da Feira Mundial de Arte de Nova York. Os quadros chamaram a atenção de Alfred Barr, então diretor do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Ele comprou uma das obras e logo organizou uma exposição individual do artista no MoMA. Estima-se atualmente que Portinari tenha mais de cinco mil obras espalhadas por 21 países, a maioria em acervos particulares.
Portinari, a esposa Maria e o filho João Candido
O artista morou boa parte da vida e faleceu no Rio de Janeiro. A casa da família em Brodowski era uma espécie de segunda residência, onde também mantinha um ateliê. Nele estão expostos seus cavaletes, telas e pincéis. Em uma das laterais do cômodo, o teto foi aberto para que ele pudesse trabalhar em quadros de grandes proporções.
Foto da família Portinari
A cada ida e vinda à casa da família em Brodowski, o imóvel passava por intervenções que contam um pouco a história do pintor. Estão nas paredes as criações da iniciação na técnica de afresco, pela qual os pigmentos de tinta são misturados à água e aplicados sobre argamassa úmida para que sequem juntos.
Durante uma restauração, foi encontrada a obra Sagrado Coração de Jesus, debaixo de diversas camadas de tinta de parede. Na sala estão as pinturas São Francisco pregando aos pássaros, Cabeça de mulata I, Cabeça de mulata II e Perfil da avó.
Martírio de São Sebastião
Foi para a avó, Maria Sandri Torquatro, que o pintor mandou construir no quintal a Capela da Nonna. O presente foi decorado com murais dos santos preferidos da avó e rostos dos familiares. Na Igreja de Santo Antônio, em frente à casa, mais um Portinari. O quadro de Santo Antônio foi doado à igreja para pagar uma promessa – pela recuperação de uma pneumonia que acometeu o único filho do artista.
Capela da Nonna: murais pintados por Portinari com os santos favoritos da avó e de amigos, todos com os rostos de parentes
A arte sacra de Portinari na região ficou robusta quando José Martins de Barros decidiu encomendar ao pintor a decoração da Paróquia Bom Jesus da Cana Verde. O rico produtor de café da região queria embelezar a igreja da sua Batatais e patrocinou a produção de sete murais, 14 quadros com passagens da via sacra e um retrato. A igreja recebeu posteriormente mais um retrato de Portinari. São 23 obras ao todo, um tesouro artístico que impressiona. “Mas ficaram seis meses em um porão antes de serem colocadas na igreja”, conta o professor Antônio Otávio Squarise, guia para a visitação da igreja há 30 anos. O pároco da época relutou em aceitar as obras. Maria José Ferreira, de 78 anos de idade, era uma garota quando esse alvoroço virou “o tema” de Batatais. “Os católicos viam aquelas pinturas do Portinari como um desrespeito aos santos”, lembra ela. Com o tempo e a fama cada vez maior do artista, o escândalo deu lugar ao orgulho.
A Sagrada Família
Portinari candidatou-se a deputado federal, em 1945, e a senador, em 1947, pelo Partido Comunista Brasileiro. Perdeu ambas eleições. Usou a pintura como instrumento de sua indignação com as condições sociais brasileiras. Mesmo nesse acervo sacro do Interior, consegue manter o espírito de engajamento social, característico de sua obra.
Ele começou a ter problemas de saúde devido à intoxicação por chumbo, presente na composição de tintas da época. Não conseguiu parar de pintar quando os médicos fizeram essa recomendação, o que o levou à morte em 1962. O Projeto Portinari faz gestões para trazer os restos mortais do pintor à fazenda onde ele nasceu. Oscar Niemeyer foi amigo de Portinari e desenhou um mausoléu para esse projeto. Resta saber se os cariocas entregarão aos paulistas a ilustre ossada.
Nas fotos acima, utensílios integram a casa-museu da família Portinari
Exterior da Igreja de Santo Antonio
Fachadas do museu da família Portinari
(Colaborou Patrícia Garcia)