CAPA
EDITORIAL (SM pág.1)
Homenagem especial a José Aristodemo Pinotti
ENTREVISTA (SM pág. 4)
Professora da PUC analisa a vida em sociedade
CRÔNICA (SM pág. 8)
Texto de Tufik Bauab, presidente da Sociedade Paulista de Radiologia
PALAVRA (SM pág. 10)
Saúde e Educação devem ser prioritárias para crianças entre 0 e 6 anos
CONJUNTURA (SM pág. 14)
Neuroética. Ficção científica é passado longínquo...
EM FOCO (SM pág. 16)
"A pílula mudou o status da mulher e da abordagem de saúde" (Rodrigues de Lima)
ESPECIAL (SM pág. 20)
Novas posturas reafirmam nosso compromisso com a comunidade e o meio ambiente
DEBATE (SM pág. 22)
Especialistas da USP avaliam preservação ambiental e sustentabilidade
GIRAMUNDO (SM pág. 28)
Nova coluna estreia com temas interessantes e atuais
HISTÓRIA (SM pág. 30)
Movimentos populares transformaram o modelo de saúde pública no país
LIVRO (SM pág. 35)
Títulos de presença obrigatória em sua estante
CULTURA (SM pág. 36)
Batatais reúne acervo precioso do pintor paulista Cândido Portinari
TURISMO (SM pág. 42)
Ao sul de Minas, uma cidade imperdível para visitar, praticar esportes e descansar
CARTAS (SM pág. 46)
Comentários dos leitores sobre algumas matérias da edição anterior, nº 47
POESIA (SM pág. 48)
Olavo Bilac
GALERIA DE FOTOS
CONJUNTURA (SM pág. 14)
Neuroética. Ficção científica é passado longínquo...
MATRIX É AQUI
A conexão homem-máquina levanta novas questões éticas
A utilização, cada vez mais frequente, de chips pela medicina é a prova de que a interação homem-máquina chegou, e para ficar. Em caráter experimental, chips já são implantados no cérebro para aliviar a dor de membro fantasma, bloquear alucinações auditivas provocadas pela esquizofrenia, reduzir sintomas do mal de Parkinson e até de certos tipos de epilepsia. “Tudo o que li na infância e adolescência como ficção, está ocorrendo na vida real. A viagem à Lua, a Marte, a comunicação sem fio e, agora, a implantação de chips no cérebro!”.
Quem comemora o evento é Jorge Alberto Costa e Silva, psiquiatra, professor da PUC-RJ e diretor de pesquisas desenvolvidas com altas tecnologias de ressonância magnética de imagens funcionais do cérebro, no Mental Illness Prevention Center Institute, em Nova York, Estados Unidos.
Foram as tecnologias de ressonância dos campos eletromagnéticos em 3D que chegaram ao que os cientistas chamam de sinal elétrico anormal do cérebro, possibilitando sua neutralização por meio de chips. “Os estudos iniciais identificaram os locais onde são gerados os sinais anormais, como eles repercutem dentro do cérebro e, depois, como se recuperam determinados estímulos comprometidos por sua ação”, explica o pesquisador. “Isso nos ajudou, por exemplo, a entender como funciona o cérebro de uma pessoa que tem dor crônica de membro fantasma. O cérebro recolhe os impulsos elétricos da dor enviados pelo sistema nervoso. Por sua intensidade, esses impulsos geram um sinal anormal no cérebro. A pessoa perdeu a perna, mas o sinal fica no cérebro e a dor continua”, afirma ele.
Doenças crônicas como a dor, as epilepsias e alucinações auditivas passaram a ser estudadas associadas ao sinal anormal gerado no cérebro, chegando-se aos minúsculos chips neutralizadores, implantados por via transorbitária ou por pequena abertura no crânio. “São cirurgias fáceis, em alguns casos nem é necessária anestesia, e o paciente sai andando do centro cirúrgico. Uma vez neutralizado o sinal anormal, o sintoma que ele estava gerando desaparece imediatamente”, comemora Silva.
Em geral essas novas técnicas não representam a cura de doenças. “No caso da esquizofrenia, por exemplo, uma atividade delirante que não se caracteriza só pela alucinação auditiva crônica, não se está curando a doença, mas controlando um sintoma”. Porém, a psicose alucinatória crônica, é beneficiária do chip.
No caso do Parkinson, mais de 30 mil pacientes do mundo que estavam em estado grave e não respondiam aos medicamentos foram tratados pelo método DBS (sigla de Deep Brain Stimulation/Estimulação Cerebral Profunda). Nesses casos um nanocomputador subcutâneo envia sinais elétricos a eletrodos implantados, através de dois furos no crânio, em uma área mais profunda do cérebro, voltando a estimular os núcleos subtalâmicos afetados pela doença.
Para o professor Costa e Silva, o estudo dos campos eletromagnéticos do cérebro são promissores. “Assim como a informação do cérebro vem para a máquina, um dia a máquina também poderá voltar com outra informação para este cérebro. Numa analogia com uma parada cardíaca, por exemplo, em que o coração fica sem sinal elétrico, a transmissão de um campo eletromagnético potente o faz funcionar de novo”, sugere ele.
Matrix 2
Uma nova técnica de tratamento do Parkinson está em fase de testes no Centro de Neuroengenharia da Universidade de Duke, nos EUA (foto acima). Pesquisadores coordenados pelo neurocientista, também brasileiro, Miguel Nicolelis, testam um novo método de descargas elétricas na medula espinhal que, levadas ao cérebro, atuam sobre a comunicação dos neurônios ligados ao movimento. Comparada ao DBS, essa técnica não perfura o crânio, sendo menos invasiva e mais segura. Ela também não representa a cura, mas pode retardar a progressão da doença e o uso de medicamentos que têm efeitos colaterais, se adotada na fase inicial do Parkinson.
Outra corrente de pesquisa da equipe de Nicolelis (ao lado) desenvolve um método de envio de comandos cerebrais para pessoas com lesões de movimento. Em janeiro, o pesquisador apresentou uma experiência realizada em uma macaca.
O animal, que estava nos Estados Unidos, moveu um robô no Japão por meio do envio de comandos cerebrais. Quando a macaca “pensava” em andar, o robô também andava. Agora, a equipe trabalha para mostrar que um ser humano pode controlar uma prótese de seu próprio corpo com o pensamento.
O alemão Jens Clausen, professor do Instituto de Ética e História da Medicina da Universidade de Tübingen, abordou os problemas éticos decorrentes do desenvolvimento dessas técnicas, na revista Nature, em abril, e no jornal espanhol El País, em maio. Clausen afirma que ninguém coloca objeções éticas aos avanços promovidos pela conexão entre os componentes técnicos e as estruturas cerebrais, quando o que se pretende é melhorar as condições de vida das pessoas com problemas motores e sensitivos.
Mas ele lembra que, nas próteses controladas pelo cérebro, os sinais emitidos pelos neurônios são decodificados por um computador, antes de serem lidos pelo membro artificial. Como a função do computador é prever os movimentos que a pessoa quer executar, e todo sistema de previsão tem falhas, o cientista alemão alerta que “isso pode conduzir a situações perigosas ou, no mínimo, embaraçosas”. E pergunta: “quem é responsável por um ato involuntário, o computador ou o cérebro? O usuário precisará de uma carteira de motorista e um seguro obrigatório para conduzir uma prótese?”.
Na opinião do conselheiro e psiquiatra Mauro Aranha, “quando (e se) a intervenção cerebral gerar alterações irreversíveis de identidade e personalidade, caberá à sociedade a ampla discussão ética sobre a sua aplicabilidade”. Por iniciativa dos conselheiros Mauro Aranha, Luiz Alberto Bacheschi e Reinaldo Ayer de Oliveira, o Cremesp está constituindo um grupo de trabalho de “Neuroética”, para discutir questões como as levantadas pelo uso de chips. Para compor o grupo serão convidados profissionais da medicina, filosofia e psicologia, entre outras áreas do conhecimento.