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CAPA

EDITORIAL
Destaque p/reportagem especial sobre o longo e penoso processo de aposentadoria dos médicos


ENTREVISTA
Nesta edição, Giovanni Guido Cerri fala sobre sua experiência à frente da FMUSP


CRÔNICA
O escritor Ruy Castro nos brinda com seu texto divertido e inteligente, sua marca registrada


SINTONIA
Polêmico, o apelo ao consumo infantil desenfreado na análise de uma especialista no tema...


MEIO AMBIENTE
Mata Atlântica: ainda é possível, sim, salvar o que resta desta floresta


CONJUNTURA
Aposentadoria: depois de anos de (árduo) trabalho, chega - enfim - a dificuldade maior...


DEBATE
Saúde Suplementar: especialistas no assunto avaliam as relações de mercado e a assistência à saúde


HISTÓRIA DA MEDICINA
Você conhece Alcméon de Crotona? Acompanhe a história do avô da Medicina, por José Marques Filho


ESPECIAL CENTRO DE SÃO PAULO 1
A restauração do centro da cidade devolve aos paulistanos a nostalgia dos bons tempos...


ESPECIAL CENTRO DE SÃO PAULO 2
Mercado Municipal: restauro tornou local agradável para passear, fazer compras e almoçar


ESPECIAL CENTRO DE SÃO PAULO 3
Theatro São Pedro aniversaria em plena atividade, com espetáculos de dança, música e dramaturgia


TURISMO
Prepare-se para realizar uma viagem de sonho pelo continente australiano


LIVRO DE CABECEIRA
Cartas da Guerra, de Antonio Lobo Antunes, é a recomendação de nosso delegado em Atibaia


CARTAS & NOTAS
Acompanhe o que os leitores da Ser Médico acham da revista...


POESIA
A poesia da vez é de autoria de Vladimir Mayakoviski


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Edição 39 - Abril/Maio/Junho de 2007

ENTREVISTA

Nesta edição, Giovanni Guido Cerri fala sobre sua experiência à frente da FMUSP


Giovanni Guido Cerri

Giovanni Guido Cerri, 54 anos, é professor, doutor, titular da Disciplina de Radiologia foi diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) entre 2002 e 2006. Antes de assumir esse cargo, presidiu por cinco vezes a Comissão de  Pós-Graduação e foi diretor clínico do Hospital das Clínicas. Em sua gestão  na FMUSP concluiu-se a maior parte de uma importante obra de restauração  daquela faculdade, um complexo de prédios na avenida Dr. Arnaldo  malcuidados e deteriorados em algumas áreas. Junto com a reforma  do prédio, Cerri colocou em prática uma reestruturação no currículo.  Em entrevista, que  contou com a   participação do presidente do Casa,  Desiré Callegari e do conselheiro André Scatigno Neto, ele falou do  ônus e do bônus da função que exerceu, entre outros assuntos.


Ser: Quando assumiu a diretoria da Faculdade de Medicina, o senhor colocou o restauro do prédio como prioridade. Nos quatro anos de sua permanência no cargo, o que foi possível avançar nesse projeto?
Cerri:
Conseguimos praticamente concluir o programa. O projeto se baseava na modernização da infra-estrutura, que foi toda concluída. A reestruturação do prédio tem alguns destaques como a sala da congregação, o local mais nobre que faz parte da história da medicina e onde foi fundada a Universidade de São Paulo, em 1934. Outros que têm particular importância são o teatro –  que foi palco de eventos importantes –, as escadarias, as fachadas e a biblioteca, incluindo a recuperação do acervo. Na minha gestão, essa modernização e restauro significaram um novo ciclo da instituição, de inovação no ensino da medicina, mais adequado ao nosso tempo. Para isso a reforma incluiu a construção do Laboratório de Habilidades, onde o estudante passou a ter toda introdução clínica, e não mais no hospital. É o que dá a base fundamental para o resgate dos valores humanísticos na formação.  

Ser: Como se traduz uma proposta de humanização na infra-estrutura de um edifício? 
Cerri:
No Laboratório de Habilidades, o primeiro contato com o doente é feito por meio de atores e manequins. Estudar medicina e fazer um exame ginecológico sem saber, é algo que não deveria existir. Hoje podemos treinar médicos em exames, punção de veia, asculta de um feto etc. dentro do Laboratório de Habilidades. Nesse local foram construídos consultórios para o primeiro contato do estudante com um ator. Tudo isso é filmado e o estudante é corrigido. Ele entrará no hospital-escola já com conhecimentos fundamentais para conciliar uma boa relação médico-paciente. 

Ser: O restauro também tem uma grande importância para a história da universidade?
Cerri:
Em nosso país sempre se deu pouco valor às raízes, ao que nossos antepassados fizeram e ao  que foi construído. No Rio de Janeiro, uma cidade  rica em patrimônio arquitetônico, com prédios  do período imperial, simplesmente demoliram o edifício da primeira escola de medicina do Estado! Parece que aquele prédio não tinha importância para a história da medicina brasileira. Isso é algo que afeta a auto-estima. Quando o estudante entra em um prédio que ninguém cuida, põe os pés em cima do banco, rabisca as cadeiras e perde um pouco do respeito pelo lugar – o funcionário e o professor a mesma coisa. Quando o lugar é malcuidado e decadente, a auto-estima também cai. Esse restauro é um presente para todos, representa o respeito que temos pela Faculdade de Medicina, ao seu passado e aos professores que por lá passaram.  

Ser: Dessa reconstrução, o que foi feito antes e durante a sua gestão? E o que faltou fazer?
Cerri:
O que falta é a conclusão da fachada. Todo o resto que estava no projeto foi feito. O atual diretor Marcos Boulos está terminando a quarta fachada com recursos que o Banespa depositou para concluir o prédio. Em relação ao que foi feito antes, o Marcelo Marcondes Machado (diretor da FMUSP entre 1994 a 1998) estabeleceu um concurso entre escritórios de arquitetura para escolher um projeto de restauração. Na gestão do Irineu Tadeu Velasco (1998 a 2002) houve a maturação e o início desse projeto e foram contratadas as primeiras obras para a resconstrução do centro acadêmico, que havia sofrido um incêndio. Mas devo dizer que, quando assumi o projeto, parecia impossível obter os recursos necessários para continuar o trabalho, na época orçados em mais de 40 milhões de reais. 

Ser: E como o senhor conseguiu os recursos?
Cerri:
Criamos uma comissão de restauro para a qual convidamos professores e outros membros que tinham vínculo com a faculdade de medicina mas não eram médicos e com quem eu mantinha laços de amizade. Essa comissão ajudou muito a viabilizar a obra, fomos aos bancos, visitamos empresários como o Antonio Ermírio de Moraes. A universidade não tinha essa cultura de buscar dinheiro na iniciativa privada, mas houve aderência ao projeto e ocorreram grandes doações. À medida que as obras avançavam, o público interno resolveu participar, todos os departamentos resolveram fazer doações, parte dos resultados financeiros da Fundação Faculdade de Medicina foi destinada ao restauro e milhares de alunos também aderiram, apresentando projetos e soluções para colaborar.  

Ser: Os maiores doadores foram esses empresários da iniciativa privada? A faculdade ofereceu alguma contra-partida a eles?
Cerri:
Quando assumi, já havia um doador importante que era o Banespa, que negociou a sua permanência como banco do complexo em troca de um determinado valor. Mas, conseguimos mostrar a importância do projeto e o banco mais do que dobrou o valor inicialmente orçado, principalmente depois de ver como a reestruturação se desenvolvia. Por isso, hoje o maior doador é o Santander/Banespa, que teve em contra-partida a permanência de centrais de serviços dentro do complexo do Hospital das Clínicas. Apesar de ter sido excluído da folha de pagamento dos funcionários, o Santander/Banespa vai ficar lá mais cinco anos. Ele, sozinho, está bancando a finalização do projeto.  

Ser: Qual é o custo atual da obra? 
Cerri:
O custo aumentou muito com a criação do Laboratório de Habilidades e hoje passa dos 70 milhões de reais. Na última fase, resolvemos modernizar os anfiteatros e pedimos a colaboração da indústria farmacêutica, que não havia participado do projeto inicial devido a problemas com o Governo do Estado. Fizemos um projeto em que cada laboratório doaria 380 mil reais para a reforma de um anfiteatro. Conseguimos que dois anfiteatros entrassem no planejamento de restauro. Enfim, o projeto cresceu devido às reformas internas e o custo final deve chegar aos 75 milhões de reais. O que ficou faltando para a sua conclusão foram as fachadas exteriores e as internas do Centro Acadêmico. E o Santander/Banespa já destinou mais nove milhões de reais, recursos que devem ser suficientes para encerrar esse projeto. 

Ser: Os governos, federal e estadual, aportaram algum recurso à reestruturação?
Cerri:
O governo estadual participou com algo em torno de cinco milhões de reais. O federal não contribuiu com a nossa iniciativa. 

Ser: O complexo da Faculdade de Medicina também tem um patrimônio cultural importante?  
Cerri:
A faculdade possui um acervo de grande valor histórico, muito bem catalogado pelo falecido professor Carlos da Silva Lacaz. Livros muito raros, quadros importantes, instrumentos médicos, bustos etc. Além disso, a instituição tem em sua estrutura vitrais, lustres de valor histórico, pisos e revestimentos em mármore de Carrara, em cores e marcas que não existem mais. Os corrimãos de algumas escadarias vieram da França. 

Ser: Além do restauro, quais são as outras conquistas que o senhor considera importantes de sua gestão? E quais foram as suas frustrações?
Cerri:
Quando um grupo de professores, do qual sou integrante, resolveu implementar um novo programa na faculdade com um pensamento mais renovador, escolheu-me como candidato por uma questão de perfil. Muitos dos meus amigos médicos disseram que eu não deveria aceitar esse desafio, pois era uma tarefa inglória, mas entrei com algumas expectativas. Ao lado do restauro, um desafio marcante foi a modernização do hospital, com destaque para o Instituto de Psiquiatria que se insere no princípio da humanização, de portas abertas, em um ambiente de conforto para a convivência de pacientes. Outro foi a construção do Instituto de Oncologia, em um ano e três meses a um preço que significou a metade do que se gasta em reformas públicas. Também é um prédio totalmente voltado à humanização do paciente oncológico. Outro projeto, não tão visível, promoveu a maior participação dos alunos da faculdade nos programas de saúde da família e na expansão do centro de saúde. Logo após a minha posse, o então governador do Estado, Geraldo Alckmin nos fez uma  visita e tocou em dois temas que o incomodavam. Um se referia ao funcionamento das fundações de apoio à faculdade de medicina, que eu pedi que ele cedesse. Outro assunto era a conclusão daquele esqueleto de prédio hospitalar na avenida Dr. Arnaldo (prédio recentemente concluído que abrigaria o Instituto da Mulher, mas que foi transformado no Instituto Dr. Arnaldo). Embora algumas pessoas defendessem a venda ou privatização do prédio, Alckmin achou que seria muito negativo para a gestão de um médico transformar um esqueleto de hospital em outra coisa que não fosse um prédio para a saúde. 

Ser: Qual a importância e papel das fundações? Especialmente a Fundação Zerbini e a Fundação da Faculdade de Medicina?
Cerri:
Ambas desenvolvem papéis essenciais baseados em dois princípios: a gestão das verbas do SUS e a captação de recursos para possibilitar a complementação salarial dos funcionários, de forma que eles permaneçam na instituição e não sejam apenas ali treinados para trabalhar em outro lugar. E esse papel, as fundações fazem muito bem. Outro item importante é o de investimentos existentes dentro do orçamento do governo estadual –  para a compra de equipamentos e algumas reformas, além de ações que possam implementar as pesquisas e melhorar o ensino – cujo custeio deve ser feito por meio de recursos das fundações. Através delas, os pesquisadores recebem uma complementação salarial proporcional aos resultados do trabalho. Na Fundação da Faculdade de Medicina, implantamos um modelo de gestão pelo qual todos sabem para onde vão os recursos. Quanto à Fundação Zerbini (cujos dirigentes respondem a processo por desvios de recursos), está mais do que provado que ela tinha se desviado dos reais interesses da instituição, mas hoje voltou aos seus trilhos. As fundações são essenciais, mas têm que ser bem geridas e vigiadas, papel que cabe aos conselhos e à congregação.  

Ser: O senhor ainda não respondeu quais foram as suas frustrações?
Cerri:
Houve esse choque em relação à Fundação Zerbini, porque algumas pessoas não pensam no coletivo. Mas foram poucas as frustrações. É sempre difícil  a convivência entre o diretor e a comunidade, que é muito exigente, crítica e com uma expectativa alta. Entretanto, na última congregação da faculdade, tivemos a satisfação de receber aplausos de pé de seus membros, fato que nunca havia ocorrido antes.  

Ser: Esse reconhecimento não era esperado?
Cerri:
Em razão das expectativas das comunidades eu jamais esperaria reconhecimento. Mas até mesmo os que não foram favoráveis a minha eleição, se engajaram para tocar esse projeto institucional de buscar o que fosse melhor para a instituição. Estamos passando por um momento de transformação, no qual o resgate de nossas tradições está sendo valorizado. Além disso, procuramos trabalhar junto com Conselho Regional de Medicina, a Associação Paulista de Medicina, Conselho Federal de Medicina e demais entidades que representam o movimento médico. 

Ser: Dentro dessa reestruturação da faculdade e considerando o papel da USP para a eficência do ensino, quais os pontos essenciais necessários para uma reforma curricular, especialmente diante do avanço científico e tecnológico? 
Cerri:
De tempos em tempos é preciso atualizar o currículo médico, porque a medicina é uma ciência que avança rapidamente. O fundamental no currículo  é a integração do aluno à visão do modelo de saúde do país. Ele deve ter uma formação que contemple o atendimento primário, secundário e terciário. Mas a graduação deve dar ênfase ao primário e secundário, porque o terciário ele aprenderá na residência médica. Hoje não consigo imaginar uma escola  médica que não tenha uma infra-estrutura adequada para formar os alunos no atendimento primário e secundário. Já a residência médica deve estar voltada  à preparação para a especialidade que ele vai assumir. E defendo também a residência médica no Programa de Saúde da Família. Essa vivência clínica em diferentes níveis de atendimento é o grande salto que tem que se dar nas escolas médicas. 

Ser: Qual é a sua avaliação da graduação em Medicina? Ela prepara o aluno para que se desenvolva profissionalmente no mercado? 
Cerri:
Um aluno com seis anos de formação não tem a menor condição de exercer a Medicina. A formação na escola médica deve durar pelo menos nove anos – considerando a graduação mais a residência médica. 

Ser:  A política do governo teria que atrelar a graduação à residência?
Cerri:
Sim, residência médica para todos. Qualquer profissional, mesmo o que for exercer a clínica, deve ter a residência médica como uma condição obrigatória. 

Ser: O Cremesp criou um exame experimental para avaliar o nível dos estudantes de sexto ano e dos recém-formados que são colocados no mercado. Qual é sua opinião sobre o exame? 
Cerri:
Sempre acreditei que o exame do Conselho não era a solução porque atacava os sintomas e não as causas. O problema estava na criação e no controle do ensino nas escolas médicas. A primeira trincheira deveria ser a de combate à abertura de novas escolas e à má qualidade do ensino médico. Caso a gente perdesse aquela trincheira, aí, em segundo lugar viria a questão do exame do Conselho. Mas, sinceramente, acho que essa questão já está perdida. Depois de terem aberto muitas escolas, não precisa fazer mais nada. Qual é a diferença? Não tem mais o que salvar. Já abriram as porteiras e passou todo mundo que tinha que passar.  

Ser: Considerando que o último representante da Faculdade de Medicina  a ocupar a reitoria da USP foi o médico Ulhôa Cintra em 1963 e a sua gestão de vulto, o senhor pensou em se candidatar à reitoria da USP?
Cerri:
Claro que teve gente que me incentivou a ser candidato, mas existe uma incompatibilidade entre ser reitor e exercer a profissão médica. E fui diretor exercendo a Medicina. Ser reitor me impediria de atuar na profissão médica. Na verdade essas posições são transitórias e seria muito difícil voltar à medicina depois de quatro anos afastado do exercício. 

Ser: Pessoas que, como o senhor, ocupam um cargo público e transitório importante, falam da sensação de vazio que enfrentam depois de cumprir o seu mandato. Como o senhor está vivendo isso?  
Cerri:
Não senti vazio. As funções que ocupamos na vida têm ciclos, com começo, meio e fim. Talvez se eu não tivesse me sentindo bem, se a comunidade não tivesse gostado de minha gestão, ficaria até mais um pouco para poder sentir o trabalho concluído. Mas senti que muitos projetos foram concluídos e que foi o meu momento de sair.  Além disso, o médico sempre tem excesso de atividades. Durante a minha gestão passei por momentos em que eu queria retomar ou expandir minhas atividades. Em particular, a radiologia está retomando um destaque na área tecnológica. É um novo momento para se trabalhar com a categoria nesse processo. 


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