CAPA
EDITORIAL
Entre os destaques desta edição, um debate sobre a política de redução de danos
ENTREVISTA
Entrevista especial com Adib Jatene, diretor do HCor e membro do conselho do MASP
CRÔNICA
A crônica da vez é de autoria de Max Nunes, médico e um dos maiores nomes do humorismo brasileiro
MEIO AMBIENTE
De planeta água não temos mais nada. Ele está se transformando num enorme deserto...
CONJUNTURA
Um raio X da vocação médica mostra que a escolha vem desde muito cedo
DEBATE
Em discussão a estratégia de saúde que distribui seringas a usuários de drogas injetáveis
HISTÓRIA DA MEDICINA
Visite conosco a Capela da Sta Casa de Misericórdia de Mauá: atração cultural e turística da cidade
SINTONIA
Ludwig Van Beethoven sob o prisma de José Marques Filho, conselheiro do Cremesp
CULTURA
No interior de São Paulo, conservatório abre as portas para verdadeiros talentos da música
HOBBIE DE MÉDICO
Médicos também são apaixonados por carros... antigos!
GOURMET
As cozinhas estão sendo ocupadas pelos homens... É sinal de pratos muuuito saborosos!
TURISMO
Venha conosco conhecer a natureza preservada, a fauna e a flora das ilhas Galápagos
ACONTECE
Cirque du Soleil: enfim chega ao Brasil o espetáculo Saltimbanco. E você acha que a Ser Médico ia perder?
LIVRO DE CABECEIRA
Você já leu "O Caçador de Pipas", do médico Khaled Hosseini? Não sabe o que está perdendo...
POESIA
José Martins Fontes, poeta, médico e jornalista finaliza com chave de ouro esta Edição
GALERIA DE FOTOS
HISTÓRIA DA MEDICINA
Visite conosco a Capela da Sta Casa de Misericórdia de Mauá: atração cultural e turística da cidade
O tesouro da Santa Casa de Mauá
A capela da Santa Casa de Mauá tem afrescos de importante pintor refugiado no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. Pintura do teto central está protegida por andaime para não desabar
A Capela da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Mauá guarda um verdadeiro tesouro. São 23 afrescos do artista plástico romeno – naturalizado brasileiro – Emeric Marcier, refugiado no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial (1940-1946). Os painéis ocupam todas as paredes e o teto da capela, trabalho que levou dois anos para ser concluído. Ele começou a pintar em 1943. Desgastadas, as obras precisam de restauração, mas a direção do hospital não tem todo o dinheiro necessário para o trabalho.
Emeric Marcier nasceu em 1916, em Cluj, fronteira com a Hungria. Concluiu os estudos na Escola de Belas Artes Brera, de Milão, em 1938. Veio ao Brasil no início da década de 40, casando-se com a filha de um brigadeiro. De acordo com o livro autobiográfico Deportado para a Vida, residia no Rio de Janeiro havia três anos quando foi convidado a decorar a igrejinha. Em princípio recusou a proposta de trabalhar gratuitamente para os padres. Casado e com dois filhos, a arte era seu sustento. Um tempo depois decidiu aceitar. Uma das condições impostas foi a retirada dos vitrais da capela para que houvesse mais espaço para os painéis. Marcier pintava dia e noite, mas preferia o trabalho noturno, iluminado apenas por velas.
No conjunto de afrescos, o artista representou passagens bíblicas, entre elas, a ascensão de Jesus Cristo, a torre de Babel, os sacrifícios ao bezerro de ouro e a divisão do Mar Vermelho. Harry Horst Walendy Filho, provedor da Santa Casa mauense, chama a atenção para o painel da torre de Babel, com aviões cruzando o céu. “É uma clara referência à guerra, que causou grande impacto na vida de Marcier”, diz.
A artista plástica – formada em história da arte – Rosa Maria Galvão da Paz afirma que o conjunto de afrescos é raro e singular. “Emeric retrata bombardeios junto ao antigo testamento, misturando estilos”, analisa a professora. “Ele foi um grande muralista, conceituado e reconhecido internacionalmente. Em matéria de murais, uma capela inteira do Emeric, a de Mauá, deve ser a única, arrisca. Alguns dos afrescos foram pintados a óleo, outros em têmpera. “Ele misturou técnicas e usou o que tinha à mão, resultando em uma maneira moderna de pintar para a época. Mercier precisava extravasar o que sentia, pois vivia escondido, acuado, não sabia para onde ir”, diz Rosa Maria.
Após a guerra e com o início da ditadura brasileira, Marcier dividiu-se entre Brasil e França. Em 1990 ele faleceu em Paris, aos 94 anos.
Entre as histórias que Harry Filho já ouviu sobre o pintor uma refere-se às fortes imagens de enforcamento, urubus e esqueletos no fogo do inferno dos afrescos. Os religiosos teriam pedido para ele refazer essa parte, retirando o aspecto soturno da cena, mas o artista não aceitou a interferência.
Imagem de Jesus está caindo
A capela passou por um processo de recuperação que durou oito meses em 1995, realizado pelo restaurador Márcio Leitão. Na época, o profissional colocou uma solução hidrofugante, criando uma espécie de folha plástica sobre as pinturas. Mas o prédio está deteriorado e com infiltrações que comprometem as obras de arte. A tela de metal com a figura de Jesus Cristo que fica no teto é sustentada por um andaime para não desabar. A restauração dessa parte mais urgente, foi orçada em 38 mil reais e pode durar cerca de seis meses. A diretoria da Santa Casa tenta obter patrocínio da mesma forma que em 1995, ocasião em que algumas empresas e a prefeitura de Mauá dividiram o custo de 150 mil reais para a recuperação da capela.
A capela é uma atração cultural e turística da cidade. As visitas podem ser agendadas pelo telefone (11) 4513-1818, ramal 233. Há monitoria da Secretaria Municipal de Cultura e da própria Santa Casa. Todas as quintas-feiras às 15 horas é realizada a missa aos enfermos, aberta ao público. Segundo o provedor Harry Walendy, Marcier dizia que a capela não tinha arquitetura. Mas o complexo da Santa Casa é um dos poucos exemplares com influência da arquitetura gótica na cidade. “A nossa capela é a mais bonita de todas as Santas Casas”, gaba-se o diretor administrativo Edinaldo dos Reis.
(Colaborou, Rosangela Silva)