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O uso do branco por médicos


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Edição 28 - Julho/Agosto/Setembro de 2004

HISTÓRIA DA MEDICINA

O uso do branco por médicos

O uso do branco por médicos

Desiré Carlos Callegari*

“O branco produz sobre nossa alma o mesmo efeito do silêncio absoluto e esse silêncio não está morto, pois transborda de possibilidades vivas” - Wassily Kandisnky
O uso de roupas brancas pelos profissionais de saúde é relativamente recente, aparecendo no Ocidente a partir do século XIX. Antes disso, não há registro do contrário, considerando as importantes pinturas em que os médicos são retratados no exercício da Medicina.

No quadro A lição de Anatomia do Dr. Pulp, de 1632, o médico pintado por Rembrant aparece em uma indumentária escura, cuja avantajada gola branca nada tinha a ver com a profissão, era apenas um acessório da moda na época, na maioria das vezes separado do resto da roupa, equivalente às gravatas da atualidade. A visita do doutor, de Frans van Mieris e O médico rural, de David Teniers, ambas do século XVII, dois clássicos da pintura, mostram que os médicos que atendiam o povo preferiam roupas de cores escuras como preto, verde-musgo e marrom.

Possivelmente o uso do branco tornou-se mais habitual a partir da introdução de medidas de assepsia para prevenir as mortes no ambiente hospitalar. Até os primeiros anos do século XIX as causas das doenças eram pouco conhecidas. Os estudos sobre parasitas e bactérias eram incipientes e alvo de controvérsias. O livro A vida e obra de Semmelweis, escrita pelo romancista francês Louis-Ferdinand Céline, diz que quanto mais manchado de sangue fosse o avental do médico, mais respeitado seria ele pela comunidade, indicando que tratava de muitos pacientes. Ignaz Semmelweis, médico que nasceu na Hungria em 1818 e morreu em 1865, foi um dos que tentou provar que a falta de assepsia dos médicos matava pacientes, sendo incompreendido e hostilizado por seus colegas de profissão. Somente Pasteur, na segunda metade do século XIX, conseguiria demonstrar definitivamente a letalidade dos agentes microbianos, tornando incontestável a necessidade de assepsia e limpeza dos ambientes hospitalares. Com tal conhecimento da origem das doenças, nada mais apropriado para os profissionais do que roupas de cores claras, pois facilitam a visualização de manchas, sujeiras, respingos de sangue e outras substâncias.

Coincidência ou não, o certo é que a partir do final do século XIX, os médicos começam a aparecer de branco com mais freqüência nas obras de arte. Em um quadro feito por Louis Lhermite em 1889, o famoso fisiologista francês Claude Bernard e sua equipe aparecem vestidos com aventais brancos em uma dissecção. Seus aventais de tecido grosso, eram semelhantes aos de açougueiro. Também de 1889, o quadro A Clínica Agnew, feito por Thomas Eakins – da Universidade da Pensilvânia – mostra médicos e estudantes vestindo jaleco branco. Mas nem sempre aparecem assim. O Dr. Félix Rey, médico que suturou a orelha cortada de Van Gogh, foi retratado por seu ilustre paciente de terno escuro em 1889, embora apareça de jaleco branco em uma foto da época. Já o médico de Ciência e Caridade, pintado por Picasso em 1897, veste calça cinza e terno tipo fraque preto.

No século XX, contudo, há inúmeros registros sobre o uso de branco entre profissionais de saúde. Muitos serviços médicos, públicos ou privados, instituíram o uso de branco por meio de normativas (veja "Decreto com detalhes pitorescos", ao final deste texto). Agregado ao uso do jaleco, a partir da metade do século XX, muitos adaptaram as peças usadas no dia-a-dia à roupagem profissional. Médicas de tailleurs ou médicos de calça de brim e camiseta pólo brancos passaram a transitar pelos corredores dos hospitais, conferindo uma certa elegância despojada ao ambiente. O uso do jaleco branco pelos estudantes e recém-formados, somado ao estetoscópio pendurado ao pescoço, é permeado de orgulho, deixam de ser fulanos e passam a ser médicos, representantes da profissão que abraçaram. Mas há também aqueles que negam-se a vestir branco por princípio. Preferem exercer a profissão com suas roupas “normais”, num gesto de humildade, em contestação ao suposto elitismo da profissão. 

União de todas as cores

Fora dos domínios da Medicina, a cor branca é carregada de significados. Apesar de na Índia o branco simbolizar o luto, em geral está associado
 a idéias positivas para a sociedade. Em tempos de guerra, bandeira branca pode significar, “viemos em paz”, trégua ou rendição. A pomba branca é a estrela máxima das manifestações em favor da paz no mundo. Recentemente, quando o mundo simultaneamente mobilizou-se em várias cidades do planeta para pedir que Bush não invadisse o Iraque, o branco predominou nas bandeiras, pombas, faixas e até mesmo nas roupas dos manifestantes. Na passagem do ano, o branco reina absoluto em todas as indumentárias. Embora as noivas mais modernas ousem outras cores, o branco ainda é tradicional nas celebrações de casamento em muitas culturas.

Decreto com detalhes pitorescos

Para caracterizar e diferenciar os uniformes de alguns especia-listas da Medicina e dos enfermeiros, o antigo decreto nº 8.380 do município de São Paulo, de 1969, carregou nos detalhes. Ao regulamentar o uso do branco nos serviços municipais de saúde da cidade, o pitoresco documento definiu até o material do botão. O uniforme era cedido pela Prefeitura e aqueles que o recebessem estavam “obrigados a zelar” por ele, “mantendo-os sempre bem conservados e limpos”. Além disso, o decreto determinava “cancelamento do ponto do servidor que se apresentasse irregularmente uniformizado ou sem uniforme, de forma a acarretar o desconto integral do dia de trabalho”.

Veja outros detalhes abaixo:

“(...) As peças de que se compõem os uniformes obedecerão às seguintes características:
a) para médicos do Pronto Socorro, internos, cirurgiões e do Serviço Domiciliar: jaqueta de brim branco, mangas curtas abotoado na linha anterior mediana, cinco botões brancos de osso de 22 mm, sem colarinho, um bolso superior esquerdo e dois laterais inferiores. Calça de brim branco, tipo pijama, com dois bolsos laterais de chapa;
b) para médicos clínicos e de laboratório: avental de brim branco, mangas compridas, abotoado na frente, na linha mediana, com botões brancos, lisos, de osso 22 mm, gola esporte, dois bolsos inferiores laterais e um superior esquerdo;
c) para enfermeiros: avental de cretone branco, de mangas curtas, abotoado nas costas, com cinto da mesma fazendo, com três bolsos, dois inferiores e um superior esquerdo (...).”

*Desiré Carlos Callegari é anestesiologista e conselheiro-corregedor do Cremesp


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