“Há pensamentos que são verdadeiras orações. Em dados momentos, seja qual for a postura do corpo, a alma está de joelhos.” (Victor Hugo)

Adequar o ensino às necessidades do momento é um desafio para várias instituições do país que, atualmente, estão discutindo a reforma universitária e testando alguns modelos. Nesta edição da Ser Médico, o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candotti, apresenta algumas propostas de mudanças, além de manifestar sua preocupação com a abertura de novos cursos sem critérios de qualificação. Como pontuou Candotti, o crescimento inconseqüente e desordenado de instituições, cuja inclinação para o lucro supera a vocação para o ensino, é tão nociva quanto a manutenção de estruturas sem sintonia com a atualidade.


Ainda sobre o ensino, apresentamos uma nova experiência com estudantes de Medicina. Durante o período de férias, o Projeto Ver-SUS levou alguns alunos para conhecer a realidade do sistema de saúde em vários pontos do país. Um estudante de São Paulo, que foi para Vitória da Conquista, faz um depoimento dessa experiência nesta edição.

Nosso assunto de Bioética trata da identificação de doadores de sêmen. A necessidade de regular o uso do conhecimento em seres humanos tornou-se importante nos últimos anos e objeto de profundas considerações éticas. A Inglaterra discute o fim do anonimato para os doadores sob dois argumentos: garantir às pessoas o direito de conhecer a sua origem biológica e evitar o casamento de consangüíneos. Algumas personalidades da área de Bioética e do Direito foram solicitadas a emitir opiniões categóricas sobre essa questão delicada e apresentaram outros argumentos que merecem reflexão.

O Debate desta edição reuniu o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, o ex-deputado federal Plínio de Arruda Sampaio, seu filho o economista Plínio de Arruda Sampaio Filho e a médica e professora Ana Maria Malik para discutir a responsabilidade do Estado na gestão e regulamentação dos serviços de saúde. O conceito de saúde como um bem público exige consideração à autonomia dos indivíduos, além de recursos materiais, humanos e financeiros. Sob esses aspectos, a gestão dos recursos torna-se assunto espinhoso. A abordagem do debate não foi propriamente técnica, nem econômica, embora freqüentemente marcada pelo caráter ideológico que suscitou profundas divergências. Mesmo discordantes, os debatedores convergiram para a necessidade de solução dos problemas clássicos: distribuição e justiça. Essa também é uma preocupação ética fundamental da Medicina no sentido de promover a saúde e contribuir para o bem-estar social.

Clóvis Francisco Constantino
Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo


* Imagem: Canadá pela câmera de Carlos Sacramento (veja reportagem "Olhar Reiventado" na seção "Cultura")