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    14-11-2024

    Ato Médico

    Cremesp realiza Reunião Científica para discutir como o médico deve lidar e tratar a amaurose pós-preenchimento por profissionais não habilitados

    Com o objetivo de trazer informações verídicas à população e orientar os médicos sobre como devem lidar em situações de amaurose pós-preenchimento por profissionais não habilitados, o Cremesp realizou, na última quarta-feira (13), uma Reunião Científica sobre o tema. A transmissão ocorreu, de forma online, no Youtube, onde os espectadores puderam fazer perguntas aos renomados especialistas.

    A mesa de abertura contou com a participação da 1ª secretária do Cremesp, Irene Abramovich; da médica dermatologista e conselheira responsável pela Câmara Técnica de Dermatologia do Cremesp, Eliandre Palermo; e do cirurgião plástico, conselheiro responsável pela Câmara Técnica de Cirurgia Plástica e coordenador do Depto. de Comunicação do Cremesp, Alexandre Kataoka.

    Invasão da Medicina

    Irene deu início ao evento destacando a luta do Cremesp em defesa do Ato Médico, uma das suas principais bandeiras. “Nos últimos anos, a atual gestão da Autarquia vem discutindo incessantemente o Ato Médico. O grande problema é que os não médicos estão realizando atos que necessitam de conhecimento médico. Assim, os pacientes ficam lesados ou lesionados e vão procurar os médicos para consertar. Mas, nem sempre a lesão tem conserto.”

    A importância de eventos como este do Conselho, abertos ao público geral, foi citada por Eliandre. Segundo a dermatologista, a população precisa entender como um paciente pode ficar com uma sequela tão grave como amaurose após um procedimento estético. “Falam muito sobre procedimentos minimamente invasivos. Mas, será que realmente podem ser categorizados dessa forma, se a as sequelas podem ser tão graves como essa?”, questionou.

    Já Kataoka abordou como tópico inicial a banalização dos procedimentos estéticos, que vem causando uma “epidemia de complicações”, as quais os médicos, principalmente os cirurgiões plásticos e dermatologistas, estão precisando resolver. Dessa forma, preocupado com a saúde da população, ressaltou que os profissionais capacitados para realizar os procedimentos devem ser os mesmos que sabem identificar e tratar uma possível complicação.

    Ética, intercorrência e o Poder Judiciário

    Amaurose, que é o termo técnico para a perda de visão parcial ou total, afetando um ou dois olhos; como ocorre esta intercorrência e em quais locais da face é mais comum; além de dados importantes, foram assuntos da apresentação de Eliandre. De forma técnica e com imagens ilustrativas, explicou que o produto do preenchedor pode entrar em uma artéria ou embolizar e chegar ao olho e, até mesmo, no cérebro. A conselheira informou que 25% dos casos de oclusão ocular podem causar sintomas de alteração no Sistema Nervoso Central, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e, em raros casos, óbito. Também orientou os médicos participantes a como identificar e classificar o acidente.

    Responsável pela mediação do painel, Tomas Bugarin, chefe da seção de Processos Ético-Profissionais do Cremesp, falou sobre a necessidade de conhecimento para identificação das complicações em procedimentos estéticos. “A principal preocupação dos médicos é receber pacientes, muitas vezes, de profissionais que não estão capacitados para realizar um procedimento.“

    Em relação ao reflexo desta questão envolvendo profissionais não capacitados e a responsabilidade solidária na cadeia de consumo, completou: “No ciclo do produto, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) prevê que todos os fornecedores na cadeia de consumo são solidariamente responsáveis e respondem objetivamente.”

    “Caso o médico não faça o registro correto do prontuário médico, ele pode responder na Justiça”. O procurador de Justiça aposentado do Ministério Público do Estado de São Paulo e ex-presidente do Procon, Fernando Capez, fez questão de alertar os bons médicos da necessidade do registro em prontuário quando um paciente chega com complicação após procedimento feito por não médico, além da comunicação oficial ao Cremesp. Kataoka complementou a fala garantindo que o acervo fotográfico é essencial para a comprovação dos fatos no prontuário.

    O conselheiro do Cremesp e responsável pela Camara Técnica de Endoscopia e Diretor Clínico do Hospital Sírio Libanês, Angelo Fernandez, afirmou que o médico e as instituições de saúde devem sempre se proteger e ter uma retaguarda para tratar as complicações de procedimentos estéticos. 

    Você está preparado para tratar complicações?

    Eliandre fez a exposição de novos casos reais de perda de visão e de AVC após preenchimento, com o objetivo de alertar os médicos, que precisam estar preparados para receber as complicações, e os jovens, que devem procurar os profissionais habilitados para realizar procedimentos estéticos como este.

    A gravidade das complicações após preenchimentos por não médicos e a necessidade de tratamento rápido em caso de lesão vascular por ácido hialurônico foram tópicos abordados pelo neurocirurgião e Coordenador da Câmara Técnica de Neurologia/Neurocirurgia/Neurologia Infantil, Paulo Henrique Pires de Aguiar. Ele fez uma breve explicação sobre o contexto anatômico e circulatório do caso.

    A médica oftalmologista e Delegada Superintendente do Cremesp da Vila Mariana, Isabela Maria Isoldi, abordou as emergências clínicas de Acidente Vascular com preenchedor, que, segundo ela, é “uma questão de minutos, e em caso de demora, o comprometimento ocular pode ser irreversível”. 

    “É importante que os médicos saibam conduzir os casos para especialistas”. A médica dermatologista Samira Yarak indicou a importância do tratamento rápido das complicações e expressou sua preocupação em relação aos não médicos, que não sabem reconhecer uma lesão cutânea.

    Com participação online, o cirurgião plástico, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e coordenador do DENADE, destacou que “os preenchedores devem ficar nas ‘mãos’ da cirurgia plástica e dermatologia”, após comentário sobre caso real de amaurose por preenchimento estético feito por biomédica, no qual a paciente não teve condição de tratamento.

    Durante toda a reunião, as dúvidas dos participantes online sobre questões técnicas envolvendo o preenchimento; a fiscalização do Cremesp para combater a invasão da Medicina; a responsabilidade jurídica das indústrias que fornecem os produtos para não médicos; e outros assuntos foram esclarecidas pelos especialistas presentes na mesa.

    Confira a íntegra da Reunião Científica no Youtube

    Veja as fotos do evento

    Crédito: Osmar Bustos
     


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