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26-09-2016 |
Eu, médico |
Cristiane Barbieri: "Por uma Psiquiatria mais democrática" |
Desde criança, Cristiane demonstrou interesse pelas áreas relacionadas à Biologia, embora a de humanidades também a atraísse. Por isso, quando prestou vestibular, ficou em dúvida entre Medicina e Jornalismo, mas, na hora de escolher a carreira que iria seguir, o amor pela ciência e o acolhimento durante o contato com as pessoas falaram mais alto. Optou, então, pela Medicina. Voluntariado Seu primeiro trabalho como voluntária foi na Associação Beneficente Santa Fé, onde fazia o atendimento clínico a crianças em situação de rua. Logo depois, Cristiane conheceu o Movimento Mães da Sé – Associação Brasileira de Busca e Defesa a Crianças Desaparecidas (ABCD) – por meio de um amigo em comum com uma das fundadoras da entidade. Há cinco anos Cristiane desenvolve o atendimento clínico nessa instituição. Ela explica que, inicialmente, a organização faz uma triagem e os pacientes mais graves são encaminhados para ela, que os atende gratuitamente em seu consultório. Para Cristiane, o mais gratificante em seu trabalho junto ao Mães da Sé é poder dar um mínimo de conforto para as pacientes que tiveram os filhos desaparecidos em circunstâncias não esclarecidas, seja por meio de uma conversa ou com orientação medicamentosa. Segundo ela, o maior aprendizado que seu trabalho lhe proporciona é a força que as mães encontram para lidar com o sentimento de perda. “Tento ajudar a lidar com a situação porque elas não conseguem nem elaborar o luto, uma vez que não se sabe se a pessoa morreu”, disse. Além do atendimento na Capital paulista, a médica também realiza voluntariado no lar de idosos Vila Vicentina, que fica na cidade de Brotas no interior de São Paulo. Especialidade Formada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) na turma de 1986 – onde também fez Residência e trabalhou na supervisão de residentes de 1990 até 2006 –, Cristiane conta que, no início do curso, pensava em fazer especialização em Pediatria, mas ao ingressar em um estágio de Psiquiatria, identificou-se com os professores e teve a percepção de que faltavam profissionais na área, por isso resolveu se especializar em Saúde Mental. Trabalhou em um pronto-socorro do Sistema Único de Saúde (SUS) entre 1987 e 2006, mas resolveu buscar outros desafios e dedicar-se ao atendimento em seu consultório particular, que possui desde 1998. Segundo a médica, a saída do sistema público não foi definitiva, e pensa em voltar a atuar na rede. Para Cristiane, são muitos os desafios da área, mas os casos mais complexos são os de pacientes que tentam suicídio, envolvendo também o atendimento às famílias que não aderem ao tratamento. Preconceito Segundo a psiquiatra, outra dificuldade enfrentada na profissão é o preconceito que as pessoas têm em relação à Psiquiatria, fato que ela atribui à falta de informação. “Ir ao psiquiatra ainda é um tabu, bem menos do que quando comecei a atuar na área, mas ainda é assim. Muitos dizem que não vêm ao psiquiatra porque acham que se trata de “médico de louco”, o que é algo fora do contexto. Atendemos pessoas com diversas questões”, afirma. Cristiane acredita que, com o acesso mais amplo à Psiquiatria, o preconceito com a área pode acabar. Ela cita o trabalho de conscientização da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), mas, segundo ela, ainda falta uma campanha massiva de informação à população. |