Kátia Burle e Guilherme Messas (ambos no canto direito da mesa),
coordenaram os trabalhos da Plenária sobre dependência
entre acadêmicos e profissionais da Medicina
Discutir estratégias de comunicação que levem informações aos acadêmicos de Medicina, já nos bancos da Universidade, sobre os riscos do uso de substâncias psicoativas foi uma das propostas da Plenária Temática realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) neste 9 de setembro, na sede da Consolação.
Sob a organização da conselheira responsável pela CT de Psiquiatria, Kátia Burle dos Santos Guimarães, e do coordenador da mesma Câmara, Guilherme Messas, o encontro "Cremesp Cuidando do Cuidador: Experiência de 10 anos" contou com palestras de Hamer Palhares (A experiência da UNIAD com o atendimento de médicos com transtornos por uso de substâncias); Daniel Sócrates (Desafios e Perspectivas), e de Ary Gadelha (A experiência do Proesq com o atendimento de médicos com transtornos mentais graves).
Na abertura do encontro, o presidente da Casa, Mauro Aranha, lembrou que a função do Cremesp, acima de qualquer outro objetivo, é conectar o médico à sociedade e a sociedade ao médico: "esta sociabilidade é fundamental para aproximar o profissional de seus pacientes e vice-versa", afirmou. Também lembrou da importância do convênio mantido pelo Cremesp com a Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) no atendimento dos médicos dependentes químicos, "a maioria com transtornos mentais relacionados ao consumo de opioides e benzodiazepínicos".
Para o presidente do Cremesp, a prevenção e a detecção
precoce de casos de dependência são fundamentais
também no meio acadêmico
Para Aranha "o que mais chama a atenção no caso dos profissionais dependentes é que eles somente procuram ajuda em torno de 7 anos depois do início do consumo das substâncias psicoativas, fato que representa um agravo expressivo na vida profissional e familiar do médico".
Segundo Kátia Guimarães, "a ideia de realizar esta plenária surgiu da necessidade de informar os conselheiros, com especialistas no tema, sobre a realidade dos casos de dependência entre os médicos e, que a partir daí, tenham embasamento para orientar os colegas que passam por esses problemas, que geralmente se iniciam já na graduação". Para a coordenadora da CT de Psiquiatria do Conselho, reunir um grupo de trabalho com colegas que estejam disponíveis a auxiliar no projeto de acolhimento dos médicos que necessitam dessa assistência é imprescindível, mesmo porque "o futuro mostra que o número de casos entre os colegas dependentes tende a aumentar", alerta.
"Na maioria dos casos, a detecção precoce do profissional dependente é extremamente difícil porque raramente os problemas são visíveis e, pior: muitos dos transtornos já acontecem nos anos de formação do médico e nos primeiros anos de sua Residência", informou Hamer Palhares. Para ele, "embora os fatores de risco de dependência do médico sejam semelhantes aos da população em geral, são agravados por fatores como estresse diário, ambiente favorável à automedicação, facilidade na obtenção de substâncias, carga horária de trabalho excessiva, entre outros". E alerta: "como não existem sinais patognomônicos que possam caracterizar a dependência química precocemente, casos suspeitos são de difícil diagnóstico", explicou Palhares.
Foi consenso que os médicos têm dificuldade em admitir que perderam o controle da situação e têm a sensação de que podem cuidar de si mesmos, já que são graduados em Medicina. Por essa razão, geralmente é a família que toma a iniciativa para obter tratamento.
Palhares citou o Manifesto de Barcelona, de 2001, referência no tratamento de médicos dependentes, que além de garantir o acesso à terapia, assegura a confidencialidade e sigilo, preserva a qualidade do atendimento e, principalmente, tem objetivo preventivo. Lembrou que a parceria do Cremesp com a Uniad está completando 10 anos e que esta rede de apoio é fundamental para o atendimento imediato dos médicos dependentes: "se houver um espaço de tempo, mínimo que for, entre o diagnóstico e o início do tratamento, o médico desiste", alertou. Para ele, "é importante manter contato com os familiares para assegurar o andamento e seguimento do tratamento e conseguir identificar rapidamente as recaídas".
Daniel Sócrates, durante sua aula, enfatizou que é preciso melhorar o acesso às orientações tanto para a família dos médicos quanto para o empregador, porque estes são os primeiros a entrar em contato com o problema. "É preciso quebrar o silêncio entre os colegas, pois a pior atitude é não fazer nada a respeito. Também acredito que casos que demandam internação continuam a ser desafiadores, pois uma estrutura própria e específica para isso ainda é restrita", advertiu.
PROESQ
Uma exposição sobre o histórico e a criação do Programa de Esquizofrenia (PROESQ) da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, pautou a apresentação de Ary Gadelha, a última da noite. Ao explicar que o tratamento desses pacientes abrange não apenas a esquizofrenia, mas transtorno bipolar, depressão e o uso de drogas, ressaltou que as perspectivas do Programa incluem a avaliação neuropsicológica do paciente, possibilitando sua reabilitação cognitiva; suporte para o retorno ao trabalho; identificação de sujeitos em fase precoce da doença; e a discussão de programas de prevenção, envolvendo a Uniad, nos cursos de graduação e na Residência Médica.
Ao final, questões foram levantadas pelos presentes aos palestrantes, gerando um importante debate sobre as apresentações, como por exemplo, a ideia para distribuir, junto aos acadêmicos de Medicina, material informativo para prevenção e detecção precoce de casos de dependência entre médicos e estudantes.
Fotos: Osmar Bustos e Gabriela Miranda
Tags: psiquiatria, dependência, alcoolismo, dependência química.
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