José Carlos Batista (HU/Unifesp), Adagmar Andriolo (Coreme) e
Mauro Aranha (Cremesp): curso sobre ética para residentes
Os residentes são a categoria mais vulnerável do atendimento médico em um sistema de saúde fragilizado, que gera conflitos e expectativas por parte dos pacientes, gerando impacto na ética. Esse impasse levou a Unifesp a realizar o Curso de Ética Médica para Residente 2016, coordenado por Maris Salete Demuner, professora afiliada e chefe do plantão do Hospital Universitário da Unifesp.
Em sua palestra sobre o papel do Conselho na Residência Médica, Mauro Aranha, presidente do Cremesp, apresentou a missão, visão e valores do Conselho, falando de suas atribuições regulamentadoras, educacionais, fiscalizadoras, judicantes, cartoriais e políticas. Entre as ações realizadas, ele mencionou a campanha do Cremesp e Coren-SP contra a violência a profissionais de saúde. “Sabemos de vários casos envolvendo agressões físicas e verbais, em vários prontos-socorros da Capital, motivadas, entre outros motivos, pela atenção primária não dar conta das prevenções primária e secundária e pela falta de leitos de internação, quando estes se fazem necessários. Quando a situação se torna crítica e gera acúmulo de atendimentos, tende a acarretar pressões a médicos e enfermeiros”, afirmou Aranha. Dentre os valores de ética, justiça, autonomia, humanismo, transparência e interesse público do Cremesp, Aranha afirmou que os três últimos, especialmente, irão pautar sua gestão.
Mencionando a origem da Residência Médica — em 1889, por William Stewart Halsted, na John Hopkins University School of Medicine —, ele contou que a ideia era que o médico residisse no hospital para ter contato com a prática e aprender, no dia-a-dia, junto a professores experientes. No Brasil, a primeira Residência se concretizou na Ortopedia do Hospital das Clínicas, em 1944. “A Residência é o padrão ouro da Medicina, que deve se ancorar nos tutores e preceptores, pessoas de alto valor humano, que possam estar ao lado dos jovens médicos para instrui-los”, disse o presidente do Cremesp.
O presidente do Cremesp durante sua apresentação sobre missão,
visão e valores do Conselho
Ética na prática
Arnaldo Guilherme, presidente da Comissão de Ética Médica do Hospital São Paulo, lembrou que ética médica não se ensina, se pratica. Mas que, apesar disso, circunstâncias adversas no atendimento à saúde podem levar os profissionais a cometer deslizes éticos. “A relação médico-paciente se perde quando o doente deixa de se sentir acariciado”, ou seja, de contar com a atenção do médico. Para ele, as situações caóticas podem ser minimizadas, desde que o médico fale a verdade; preste atendimento humanizado, marcado por um bom relacionamento pessoal; saiba ouvir o paciente e esclarecer dúvidas e expectativas com registro no prontuário; explique detalhadamente o diagnóstico, tratamento, benefícios, complicações e prognósticos de forma simples e objetiva, respeite a autonomia do paciente e esteja constantemente atualizado. E que são direitos do paciente: não ser abandonado, ter direito a acompanhante em qualquer situação (mesmo em terapia intensiva), alta a pedido (desde que por escrito), anestesia, atendimento digno (inclusive pelo nome social), autonomia (de consentir ou recusar tratamentos); e, no caso de crianças, ter a relação das pessoas que podem acompanhá-lo.
Estresse e crescimento
Em sua palestra, José Carlos Costa Batista Silva, diretor clínico do Hospital Universitário da Unifesp (HU/Unifesp), comentou que a Residência se iniciou no Hospital São Paulo na década de 1950. Ele citou alguns problemas relacionados aos conflitos dos jovens médicos, mencionados no livro Residência Médica – estresse e crescimento, do professor de Medicina Luiz Antonio Nogueira Martins. A obra prevê fases importantes deste profissional, que passa da excitação inicial com a profissão, à insegurança, tédio e depressão, antes de atingir a autoconfiança e competência profissional. Silva detalhou estudo da Unifesp que aponta como principais fontes de estresse do Residente: o medo de cometer erros; fadiga e cansaço; falta de orientação; estar constantemente sobre pressão; plantão noturno; excessivo controle por parte dos supervisores; as exigências internas (entre elas, a de que o médico não pode falhar); e a falta de tempo para o lazer, família, amigos e suas necessidades pessoais.
Temas como ortotanásia e cuidados paliativos foram também abordados pelo diretor clínico do HU/Unifesp, que ressaltou a importância de respeitar o desejo do paciente, salvo em casos de risco de morte. Ele alertou ainda para o correto preenchimento do prontuário médico, em que devem ser relatados todos os dados relevantes sobre a saúde do doente.
Divulgação médica
O evento contou ainda com uma mesa redonda em que foram abordados a relação médico-paciente, sigilo, consentimento livre esclarecido, transfusão em pacientes Testemunhas de Jeová e documentos médicos (atestados, prontuários). O vice-presidente e coordenador da Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos (Codame) do Cremesp, Lavínio Nilton Camarim, fez uma exposição sobre a atividade médica e a publicidade na mídia, alertando os Residentes para as eventuais infrações que podem decorrer da divulgação equivocada de seus serviços.
Fotos: Comunicação Cremesp
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