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27-06-2016 |
Marcos Boulos |
Formação médica para o SUS |
Essa abordagem leva à valorização das alterações da normalidade orgânica com investigação “armada”, baseada em exames subsidiários, em prejuízo da abordagem sistêmica, na qual se busca avaliar a dinâmica biopsicossocial por meio de diálogo, objetivando conhecer o indivíduo que ali está. Quantos de nós não ficamos incomodados quando um paciente responde que não tem nada e só veio para saber se está tudo bem? Com a formação fundamentalmente baseada em procedimentos especializados e de elucidação de doenças realizada em hospitais, o estudante elege seu modelo naquele professor que trabalha nessas instituições, e busca formar sua carreira nesse sentido. Apenas 3% das doenças necessitam de hospitalizações, mostrando o viés formativo. A procura dos programas de Residência Médica retrata esse fato: os mais concorridos são os de especialidade, enquanto os mais gerais, como o de Saúde da Família e Comunidade, Pediatria, têm pouca demanda. A enorme maioria dos pacientes tem suas dúvidas, queixas e doenças resolvidas em programas de atenção primária, que necessita cada vez mais médicos para dar vazão a essa demanda crescente. No entanto, a formação desses profissionais não supre a necessidade do SUS. Não foi por acaso a necessidade do Ministério da Saúde de buscar profissionais com perfil generalista em outros locais. Para atingir sua plenitude e atender cada vez melhor a população brasileira, o SUS precisa ser aprimorado, mais bem financiado e gerido e, certamente, as escolas de Medicina precisam se adequar e formar mais médicos que busquem atender melhor essa sociedade tão carente. Marcos Boulos é Diretor e coordenador do Departamento de Comunicação do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo |