“A formação dos profissionais não exige apenas professor, giz e lousa.
É fundamental laboratórios de anatomia patológica, de histologia,
farmacologia, fisiologia e mais.”
Não existe mais discussão de que o País necessita de mais médicos. Atualmente temos menos médicos por habitante do que o preconizado pela Organização Mundial de Saúde. Essa é uma questão. Outro aspecto é a péssima distribuição dos profissionais médicos no Brasil.
A região Sudeste centraliza mais de 50 % dos médicos no Brasil, enquanto as demais regiões ficam com 50% ou menos. Além disso, existe a concentração de médicos nas capitais. É só comparar o número de médicos em Teresina com o do Piauí. Ou o número de médicos em São Luís com o do Maranhão. Até chegar às absurdas proporções entre Belém e Pará, Manaus e Amazonas e assim por diante.
A concentração de médicos, hospitais e laboratórios é diretamente proporcional à concentração econômica.
São Paulo é diferente? Não. A capital e região Metropolitana tem quatro médicos por mil habitantes. O mesmo número de Portugal, Espanha, Uruguai, Canadá e tantos outros países. Já a média para o Estado de São Paulo é de um médico para cada mil habitantes, média insuficiente.
Vamos formar mais médicos? Claro! E aí, abrem-se escolas a rodo. Mas a formação dos profissionais não exige apenas professor, giz e lousa. É fundamental laboratórios de anatomia patológica, de histologia, farmacologia, fisiologia e mais. Prefeitos, governadores, secretários de saúde, ministros da Saúde e da Educação e presidente da República: os cursos da Saúde precisam de hospitais e equipamentos de saúde. E os docentes necessitam deles para ensinar acadêmicos e formar residentes e especialistas.
Delegar essa formação a grupos empresariais de questionável capacidade técnica e alto investimento em propaganda é uma irresponsabilidade desumana. É como entregar causas jurídicas a advogados que não conhecem os Códigos Civil ou Penal.
Seguimos na Medicina, com anos de atraso, o mesmo leilão feito na advocacia com os cursos de Direito. E como no Direito, só nos resta o exame de suficiência técnica — pós-curso de formação, para corrigir a demagogia dos governantes aliada à sede capitalista dos empresários da saúde e da educação —, como legítima arma de defesa da saúde do nosso povo e da defesa da milenar Medicina.
Antonio Pereira Filho é Coordenador de Comunicação do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo
Tags: educação, escolas, cursos, Medicina, formação.
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