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09-09-2010 |
Exames autogerados |
Plenária discute “ganho compartilhado” associado a procedimentos |
O ganho compartilhado decorrente de exames e procedimentos indicados por médicos foi tema de plenária especial do Cremesp, em 27 de agosto. A discussão, proposta pela Câmara de Cooperativismo do Conselho, abordou a diferença entre “exames autogerados” e o “ganho compartilhado”, que ferem os preceitos da boa prática médica. Este chega a ser superior aos honorários médicos, levando muitos profissionais a exercer a medicina às margens da legalidade. Analisou-se a relação desse “ganho” com a inviabilidade econômica de consultórios e o comprometimento de algumas operadoras de saúde como as do Sistema Unimed. Atualmente, a maior parte dos recursos financeiros da saúde são direcionados aos Serviços Auxiliares de Diagnóstico e Tratamento (SADTs), órteses, próteses, medicamentos e materiais especiais, em detrimento dos honorários médicos. Entre as situações que ferem o CEM estão: - a do profissional solicitante que faz parte de grupo, sociedade, consultório, clínica, hospital ou que atua no mesmo endereço em que se executa o procedimento, obtendo ganhos não relativos ao ato médico; “Não vejo problemas com exames e procedimentos autogerados. Age corretamente o cirurgião que solicita e executa o procedimento necessário e o cardiologista que faz um ecocardiograma, recebendo justa remuneração pelo seu ato médico”, destacou Telma. “Mas temos de reverter a situação criada pelo ganho compartilhado ou por participações em contratos não escritos”, alertou. Outros exemplos de ilícitos éticos citados na exposição foram o de ortopedista que prescreve fisioterapia, na condição de proprietário ou sócio de clínica do ramo, e de otorrinolaringologista que assina e recebe por atendimento prestado por fonoaudiólogo. “Fonoaudiologia e Otorrorinolaringologia são profissões regulamentadas. Esse é um ilícito ético pelo nosso Código de Ética e pelo de Fonoaudiologia. O mesmo acontece com a Fisioterapia”, lembrou a médica. Ela citou os artigos 40, 59, 63 e 69 do CEM que, respectivamente, proíbem o médico de: “Aproveitar-se de situações decorrentes da relação médico-paciente para obter vantagem física, emocional, financeira ou de qualquer outra natureza”; A médica defendeu a busca de atitudes gerenciais para enfrentar o problema e apresentou medidas, algumas adotadas pela Unimed de Bauru, para equacionar os recursos, entre elas: - Contratualização – negociação de um conjunto de regras que passariam a reger a relação entre gestor e prestador de serviços; “Estamos em um círculo vicioso: quanto menor a remuneração da consulta ou dos atos médicos, mais aumentam os custos desnecessários, porque as pessoas começam a procurar ‘ganhos compartilhados’. Temos de ter coragem e enfrentar o problema”, manifestou. Após a exposição de Telma, houve um debate entre os presentes – conselheiros do Cremesp, membros da Câmara Técnica de Cooperativismo e dirigentes das Unimeds. A seguir, um resumo do debate: “O exame autogerado deve ser discutido e analisado com cuidado, pois corre-se o risco, por exemplo, de o cardiologista não poder mais fazer um eletrocardiograma etc. Já o ‘ganho compartilhado’ é ato de banditismo. A ideia do serviço próprio demonstra outra vantagem, considerando que vivemos num mundo capitalista, força empresarial para se discutir a renovação de equipamentos e upgrades contínuos com os produtores dos mesmos.” (conselheiro do Cremesp, Isac Jorge Filho) “Nesse assunto temos dois problemas culturais: o de não denunciar o cooperado e o do médico achar que é normal. É preciso colocar o dedo na ferida e este é o local adequado para discussão”. (conselheiro do Cremesp, Pedro Teixeira Neto) “As medidas discutidas atendem, também, aos princípios cooperativistas. Atualmente, o médico não pode exercer a profissão sem aparatos tecnológicos altamente sofisticados e que precisam de upgrades. O profissional que trabalha eticamente não consegue pagá-los ou mantê-los atualizados. Os médicos são reféns da tecnologia. Precisamos democratizar o acesso à tecnologia de qualidade. Seria uma medida altamente justa que as Unimeds passassem a oferecer esses equipamentos, compartilhando tecnologia entre seus cooperados”. (conselheiro do Cremesp, Carlos Alberto Monte Gobbo) “Muitos estão buscando compensar honorário baixo com a ‘propina’; não podemos deixar a classe médica cair nesse fosso”. “A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realizou um estudo sobre órteses e próteses que aponta preços praticados no Brasil superiores ao de outros países, em quatro ou cinco vezes – subentende-se que esse excedente serve para algo.” “Temos de envolver também a Receita Federal, o Ministério Público e a Polícia Federal. Se discurtimos o tema apenas no âmbito de uma resolução do Conselho de Medicina, não vamos resolver o problema na prática.” (conselheiro do CFM e do Cremesp, Desiré Carlos Callegari) “Se tivermos a sensatez de, por meio do CRM, tomarmos medidas em prol do honorário médico, conseguiremos sair dessa situação. Da maneira como é conduzido hoje, o cooperativismo não durará muito. Nós, o Conselho e as Unimeds, temos de conversar e ser práticos.” (presidente da Federação das Unimeds do Estado de São Paulo, Humberto Jorge Isac) “Nas cidades onde não existem hospitais próprios, com rede hospitalar pequena, a Unimed torna-se refém dos valores praticados pelos serviços. Essas medidas reafirmam a importância de manter a tecnologia sob o controle da massa de cooperados e a serviço de todos.” (conselheiro do Cremesp, Renato Françoso) “A contratualização é a melhor maneira de regular e centralizar os serviços. Seria importante que o CRM deixasse claro que administrar dessa forma é uma condição ética, porque, ao regular essa situação, sobrará dinheiro para que possamos remunerar melhor o médico.” (Unimed Bauru, Guilherme Pupo Ferreira Alves) “Temos de encontrar um caminho que, em vez de punição, possibilitasse a conversa. Não queremos que um otorrinolaringologista atenda menos, mas que ele não faça 100 consultas e 110 fibroscopias nasais. Como podemos conversar com um colega cooperado? Não queremos que ele saia da cooperativa, mas que possa voltar à prática normal, sem que seja preciso encaminhá-lo ao CRM.” (presidente da Unimed Assis, Hemerson Carlos Costa) “Os cooperados esquecem que nós somos sócios, que a distribuição deve ser igual. Mas a maior parte da culpa por esse problema é dos diretores, superintendentes ou gestores de cooperativas. ... Há cooperados fraudulentos. Sabemos quem são eles, quem dá trabalho em cada Unimed, mas os gestores estão preocupados com a próxima eleição e nada se resolve”. (conselheira do Cremesp, Denise Barbosa) “Essa não é uma briga médica. É uma briga do sistema médico, da forma como ele está organizado no país. ....Os médicos estão sendo comprados por esse sistema econômico e não têm alternativas, porque o sistema remunera os médicos ou os melhores profissionais por contrato”. (conselheiro do Cremesp, Bráulio Luna Filho) “Desde que a Câmara de Cooperativismo foi criada, esse assunto vem sendo discutido e nos incomoda muito. Só o fato de considerar que serviço próprio não é antiético já seria um avanço, porque, muitas vezes, os associados procuram o Cremesp para denunciar essa prática pelo dirigente. Como ex-dirigente do Sistema Unimed da região de Campinas, sei da angústia que o gestor sofre quando passa por isso. ... O consenso por parte dos participantes desta reunião sobre as medidas tomadas pela Unimed de Bauru já é muito importante e abre portas”. (conselheira, tesoureira e coordenadora da Câmara Técnica de Cooperativismo, Silvia Helena Rondina Mateus) “Toda vez que discutimos questões desse porte, evoca-se a autonomia do médico. Mas à luz do Novo Código de Ética, temos de discuti-la como não ilimitada. Autonomia médica tem limites claros: a ciência, a lei, a vontade do paciente, e por último, a responsabilidade social do profissional. Quando indica um exame ou procedimento, o médico deve saber que, se exagerar ou fizer algo indevido, estará tirando recursos de outra pessoa. Esse exercício de autonomia deve ser feito, cada vez mais, por quem tem a responsabilidade administrativa do serviço”. (vice-presidente do Cremesp, Renato Azevedo) Fotos: Osmar Bustos |