CAPA
EDITORIAL
Editorial: a atuação exemplar do Cremesp junto ao IML de São Paulo
ENTREVISTA
Roberto D'Ávila, corregedor do CFM, é entrevistado pelo Centro de Bioética
ATIVIDADES DO CREMESP 1
Acordos de cooperação c/órgãos públicos ampliam relações c/a sociedade
ATIVIDADES DO CREMESP 2
Profissionais de todo o Estado têm acesso ao nosso Programa de Educação Continuada
SAÚDE PÚBLICA 1
Muita cautela com A Portaria 971 do Ministério da Saúde sobre as PNPICs no SUS
CIDADANIA
Violência em São Paulo: análise de laudos gera Relatório sobre o IML
ESPECIAL
Pesquisa do Instituto Datafolha mostra imagem positiva do Cremesp
SAÚDE PÚBLICA 2
Fracionamento de medicamentos: economia e segurança p/pacientes
SAÚDE PÚBLICA 3
SVS/MS divulga nova relação de Doenças de Notificação Compulsória
ATUALIZAÇÃO
Doenças cardiovasculares: novos (velhos) fatores de risco
AGENDA
Acompanhe a participação do Cremesp em eventos pertinentes à classe médica
TOME NOTA
Alerta Ético: pronto-socorro não é farmácia!
GERAL
Destaque para a posse da nova diretoria do Sindimed
HISTÓRIA
A impressionante trajetória de crescimento da Santa Casa de São Paulo
GALERIA DE FOTOS
HISTÓRIA
A impressionante trajetória de crescimento da Santa Casa de São Paulo
Santa Casa, o primeiro hospital
na cidade de São Paulo
Em quatro séculos a instituição acompanhou a transformação
da vila em grande metrópole
A cidade de São Paulo conta hoje com 41.246 médicos, na proporção de um para cada 263 habitantes – bem acima dos padrões da Organização Mundial da Saúde, que é de um por mil habitantes. Mas, nem sempre foi assim. Até 1840, a pequena cidade contava apenas com o apoio médico da atual Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
A Santa Casa foi instalada por volta de 1560 no Pátio do Colégio, com o nome de Confraria da Misericórdia de São Paulo dos Campos de Piratininga. Posteriormente, na rua da Glória, como Hospital dos Lázaros, sob a direção do médico e professor Caetano de Campos.
Com o crescimento da cidade, por volta de 1870, no auge do ciclo do café, as velhas instalações tornaram-se pequenas para atender à nova demanda de pacientes. José Antônio do Rego Freitas e o Barão de Piracicaba doaram o terreno atual, na Vila Buarque. Coube ao arquiteto italiano Luiz Pucci, o desenho e construção do novo hospital, em estilo gótico, com tijolos aparentes. Uma curiosidade: os alicerces foram construídos com blocos de pedra assentados apenas por gravidade, sem argamassa. Apesar disso, não há sequer uma rachadura no edifício, que começou a funcionar em 31 de agosto de 1884.
Paulatinamente surgiram os pavilhões e as clínicas, que expandiram o hospital. No início, as enfermarias de Medicina e Cirurgia funcionavam com separação de sexos: clínica de homens, clínica de mulheres, por influência da severa moral imposta pelas religiosas que dirigiram o hospital até 1963.
Revoluções e epidemias
A Santa Casa teve papel importante nos conflitos armados que sacudiram o Estado nas primeiras décadas do século XX. Durante a Revolução Paulista de 1924, os feridos eram levados para o hospital num movimento incessante, que obrigava estudantes e médicos a dormirem no salão nobre. Na Revolução Constitucionalista de 1932, os feridos nas frentes de combate eram encaminhados à Santa Casa de São Paulo, que funcionava como hospital de retaguarda. Em crises de epidemias, como a Gripe Espanhola, nos anos 1910, havia uma superlotação no hospital e alguns pacientes ficavam em colchões sob os leitos de outros pacientes.
Instalações
O conjunto hospitalar é formado pelos pavilhões Conde de Lara e Fernandinho Simonsen, onde funciona o ambulatório geral, e Condessa Penteado, dedicado ao atendimento infantil. Além do Hospital Central, a Santa Casa conta com o Hospital Santa Isabel, de atendimento a pacientes particulares e conveniados. Um heliponto próprio permite a rápida chegada de pacientes politraumatizados, por exemplo em acidentes de trânsito. Nas dependências da Santa Casa estão também o Colégio São José, que oferece aulas para pré-escola, primeiro e segundo graus e a Faculdade de Ciências Médicas, que ministra aulas de graduação e pós-graduação.
Fora do complexo da Vila Buarque destacam-se ainda o Hospital Geriátrico e de Convalescentes Dom Pedro II, que atende a pacientes do Sistema Único de Saúde e a cerca de 600 idosos, e o Hospital Geral São Luiz Gonzaga, referência na Zona Norte da cidade.
A Santa Casa administra, por conta do governo do Estado, o Ambulatório de Especialidades Dr. Geraldo Bourroul, que também atende pacientes do SUS ou carentes, em todas as especialidades; o Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (Caisme), que atende portadores de transtornos mentais e dependentes de drogas; o Hospital Geral de Guarulhos e o Hospital Geral Professor Doutor Waldemar de Carvalho Pinto Filho. Também é propriedade da Santa Casa um Instituto de Fonoaudiologia e uma Escola de Enfermagem.
Berço de faculdades
Médicos atuantes na pesquisa e no ensino passaram pela Santa Casa, como Benedicto Augusto de Freitas Montenegro, Alípio Corrêa Neto, Luiz de Rezende Puech, Celestino Bourroul, Rubem David Azula, Sebastião de Almeida Prado Sampaio, João Paulo da Cruz Britto, Ernesto de Souza Campos, Cantídio de Moura Campos, Nicolau de Moraes Barros e José Ayres Netto, entre outros.
Entre 1932 e 1944, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, por não possuir hospital próprio, ministrou aulas práticas de clínica e cirurgia na Santa Casa.
A faculdade cooperou para a evolução científica do hospital, com grande produção de trabalhos. O cirurgião de coloproctologia e diretor clínico da Santa Casa de São Paulo, José Mandia Neto, destacou a importância da Faculdade de Medicina da USP na instituição: “não apenas pelo prestígio, mas pela produção científica, pelo saber e pela contribuição dada à assistência médica, às clínicas privadas e ao nosso hospital”.
O médico Arnaldo Vieira de Carvalho fundou a Faculdade da USP na Santa Casa, da qual também foi diretor clínico, cirurgião e professor. Ele descrevia e desenhava suas cirurgias. Com a inauguração do Hospital das Clínicas, a Faculdade de Medicina da USP se desligou do anexo da Santa Casa de São Paulo. A Escola Paulista de Medicina – hoje Unifesp – esteve na Santa Casa desde sua fundação até 1950.
A Faculdade de Ciências Médicas da Fundação Arnaldo Vieira (nome oficial da Faculdade de Medicina da Santa Casa), foi criada em 1963. Com sua chegada, recuperou-se o ânimo para a pesquisa e a produção científica, que haviam sofrido queda com a saída da Faculdade da USP, lembra o ortopedista e provedor da Santa Casa de São Paulo, Quirino Ferreira Neto. Na mesma época, criaram-se os atendimentos por especialidades para substituir a antiga divisão homens/mulheres.
A Santa Casa hoje
A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo atende, em média, 8.000 pacientes por dia. No Hospital Central, são cerca de 5.000 em todas as especialidades médicas, e 2.000 atendimentos de urgência em seus prontos-socorros, todos pelo SUS. Lá também funcionam o Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, o Centro de Estudos, e a Unidade Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental.
O pioneirismo é uma característica da instituição em várias clínicas e especialidades: Ginecologia, com Nicolau de Moraes Barros; Ortopedia; Cirurgia; Pediatria; Cirurgia Pediátrica; Endoscopia, com Barreto Prado e José Carlos Arruda Botelho; e Hidratação Endovenosa, com Paulo de Barros França. O Centro de Esclerose Múltipla foi o primeiro instalado no país.
Quirino Ferreira Neto, provedor eleito ano passado, falou sobre os desafios enfrentados, em especial, a falta de recursos financeiros. Segundo ele, os equipamentos e aparelhos tornam-se obsoletos rapidamente, pelo avanço da tecnologia. “Há dificuldade de substituição de tudo. Quando surge alguma verba, substituímos o que é prioridade, o que está em piores condições de funcionamento” diz o provedor da Santa Casa, que espera resolver alguns problemas estruturais da entidade até o final de sua gestão.
Roda dos excluídos
Até 1948, mães carentes, geralmente solteiras, que não podiam criar os filhos recém-nascidos, deixavam-nos na Santa Casa, anonimamente. No muro havia um compartimento giratório que recebia essas crianças. Um sino alertava a religiosa de plantão, que retirava a criança e virava novamente a abertura para a rua. As freiras cuidavam da criança, que depois seguia para o asilo Sampaio Viana, no Pacaembu e mais tarde para o Colégio São José. Havia uma ata, em que se registravam as informações deixadas pelas mães. A maioria preferia rasgar um santinho e deixar metade com o filho; quando a mãe buscava de volta sua criança, trazia a metade que faltava, como uma espécie de comprovação da maternidade.