CAPA
EDITORIAL
A análise sem preconceito da qualidade do ensino médico - Isac Jorge Filho
ENTREVISTA
Maria Cristina Cury, secretária municipal de Saúde
GERAL 1
Destaque p/a posse das novas diretorias da AMB e APM
CBHPM
Projeto de Lei 743/2005 é apresentado por deputados estaduais médicos
ATIVIDADES DO CONSELHO
Módulo de dezembro de EMC aborda Infectologia, Psiquiatria e Neurologia
COMUNICAÇÃO
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FORMAÇÃO MÉDICA
Inscritos na primeira etapa do exame do Cremesp superou expectativas
ATUALIZAÇÃO
A prevenção e o diagnóstico do câncer de próstata
ARTIGOS
Opinião do conselheiro - Lavínio Nilton Camarim e Itiro Shirakawa
GERAL 2
Delegado do Cremesp em Ribeirão Preto, Nelson Okano, é homenageado
AGENDA
Destaque para a visita que o Cremesp realizou ao Jornal Folha de S. Paulo
NOTAS
Alerta Ético sobre imperícia
GERAL 3
Médicos do Estado conquistam reajuste salarial
HOMENAGEM
O médico patologista João Paulo Aché de Freitas é o homenageado desta edição
GALERIA DE FOTOS
FORMAÇÃO MÉDICA
Inscritos na primeira etapa do exame do Cremesp superou expectativas
Adesão mostrou o acerto da iniciativa
Com inscrição voluntária, a primeira etapa do exame do Cremesp
superou as expectativas, com 1.003 participantes
Superou as mais otimistas expectativas a primeira etapa da avaliação dos estudantes de sexto ano e recém-formados em Medicina do Estado de São Paulo, promovida pelo Cremesp, no dia 9 de outubro. Compareceram voluntariamente à prova, na capital e em Ribeirão Preto, 1.003 estudantes egressos de todas as escolas médicas do Estado de São Paulo – presença que corresponde a cerca de 88% dos inscritos.
A organização da avaliação esteve a cargo da Fundação Carlos Chagas, entidade com larga experiência em concursos públicos. Levando em conta o caráter voluntário e experimental da prova, realizada em uma manhã de domingo, foi significativa a taxa de adesão ao exame, tanto na inscrição prévia quanto no comparecimento no dia 9 de outubro. Os resultados finais das duas etapas, incluindo a porcentagem de alunos que passaram para a segunda fase, por escola, serão divulgados conjuntamente, após a realização do exame prático.
Na capital, a prova foi realizada nas dependências do Centro Universitário Assunção, na Vila Mariana, e contou com 796 participantes, dentre os 904 inscritos previamente.
Antes do início do exame em São Paulo, cerca de 30 estudantes, principalmente de primeiro e segundo anos de Medicina, representantes de centros acadêmicos, fizeram protesto contra a realização da prova. Na manifestação, argumentaram que a avaliação dos alunos deveria ser promovida durante toda a graduação e que, por isso, não concordavam com um exame em final de curso.
O exame no Interior
Em Ribeirão Preto, onde 232 pessoas haviam feito a inscrição para participar do exame, realizada no prédio das Faculdades Bandeirantes, no centro da cidade, apenas 25 inscritos – pouco mais de 10% – deixaram de comparecer.
Para o presidente do Cremesp, Isac Jorge Filho, que acompanhou a realização do exame em Ribeirão Preto, “apesar de algumas pressões contrárias, injustificadas e incompreensíveis, uma vez que a avaliação teve caráter experimental e opcional, os inscritos compareceram em sua grande maioria, colaborando com o trabalho sério deste Conselho, na busca do aperfeiçoamento da formação do médico no Estado de São Paulo. Vamos analisar não só os resultados das duas provas, mas também as conclusões da avaliação que o Departamento de Fiscalização do Cremesp realizou em todos os hospitais-escola e locais de estágio e internato dos estudantes de Medicina”, afirmou Isac.
O conselheiro e coordenador da Comissão de Avaliação do Ensino Médico do Cremesp, Bráulio Luna Filho, afirmou que os estudantes demonstraram confiança na proposta do Conselho e que só após a segunda fase será possível fazer uma análise mais completa dos resultados. “Vamos também analisar o conteúdo da prova, para que os exames futuros expressem, ainda mais, as necessidades da formação do médico”, afirmou Luna Filho. “Ao detectar falhas em determinadas áreas do conhecimento, nossa intenção é discutir com as instituições para ajudá-las a corrigir os problemas, melhorando a qualidade do ensino oferecido”, concluiu.
A avaliação foi programada para ser realizada em duas fases. A primeira – que aconteceu em 9 de outubro – foi uma avaliação cognitiva, com 120 questões nas seguintes áreas: Pediatria, Ortopedia, Ginecologia e Obstetrícia, Cirurgia Geral, Clínica Médica, Saúde Pública, Saúde Mental, Bioética e Ciências Básicas. A segunda etapa, prevista para acontecer ainda em 2005, consistirá na simulação de problemas práticos das situações clínicas mais comuns. Serão utilizados recursos de multimídia que simulam atendimentos de emergência, procedimentos médicos, realização e leitura de exames diagnósticos, dentre outras situações.
O gabarito da prova escrita está disponível no site do Cremesp ou no site da Fundação Carlos Chagas
Repercussão positiva
Participação voluntária demonstra confiança na proposta do Conselho
A avaliação promovida pelo Cremesp criou expectativas que não se limitaram ao conhecimento dos resultados da primeira prova, mas envolveram os presumíveis desdobramentos da proposta. A participação de mais de mil voluntários pode ser entendida como uma demonstração de que os estudantes e recém-formados também sentem a necessidade de uma avaliação externa de sua preparação.
Para o conselheiro Reinaldo Ayer de Oliveira, membro da Comissão de Avaliação do Ensino do Cremesp, “a avaliação foi um sucesso e o Conselho tem que agradecer aos estudantes que colaboraram e confiaram na nossa iniciativa .”
Para o novo presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), José Luis Gomes do Amaral, embora o exame tenha caráter experimental e opcional, “a participação de mais da metade dos estudantes de Medicina do Estado de São Paulo permite uma abrangente avaliação das instituições de ensino médico no Estado, podendo balizar iniciativas em relação às escolas”.
Já o presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), Jorge Carlos Machado Curi, disse que a grande adesão, além de “ser uma boa resposta dos alunos, demonstra que eles querem ser avaliados”. O presidente do Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo, Cid Carvalhaes, leva em consideração apenas o caráter de pesquisa da avaliação. “Por ser voluntária e espontânea, é válida como iniciativa, quando revestida de caráter de investigação e informação. Quanto à possibilidade de evoluir para algo como o exame de ordem, o sindicato vê a avaliação do Cremesp com muita preocupação. Nesse sentido, a iniciativa deverá ser amplamente discutida com a academia, o governo, as entidades médicas, os estudantes de Medicina e as fontes pagadoras da saúde”.
Na opinião do ex-presidente da Sociedade Brasileira de Bioética e profesor da Universidade de Brasília (UnB), Volney Garrafa, o Cremesp dá “uma lição de critério de qualidade ao Ministério da Educação. Com a abertura indiscriminada de cursos de medicina, a Educação está precisando de critérios de qualidade. Sou professor de Ética e o que vejo é uma qualidade de médicos cada vez mais difícil de ser aceita pela sociedade. O controle tem que ser social ou acadêmico, porque a sociedade não tem como avaliar a qualidade de um bom médico”. conclui, Volney.
Luis Fernando Pinheiro, presidente da Academia de Medicina de São Paulo, afirma que o exame qualifica não só o aluno, mas também a Faculdade, e deveria tornar-se obrigatório. “Seguramente no ano que vem, mais estudantes de sexto ano comparecerão à prova, pois irão verificar que o exame os qualifica para o mercado de trabalho”. Para Pinheiro, o exame dará também um atestado de competência às faculdades.
A opinião de quem participou da avaliação
Os participantes da avaliação do Cremesp elogiaram a prova, que foi considerada bem elaborada. Alguns estudantes levantaram objeções quanto à eventual obrigatoriedade, nos moldes do exame da OAB. Outros não concordam que os alunos sejam responsabilizados exclusivamente pelo insucesso da formação, sem implicação da instituição de ensino. Com relação à abertura indiscriminada de novas faculdades de Medicina as opiniões foram consensuais. A seguir, algumas opiniões colhidas pelo Jornal do Cremesp:
Ricardo Guimarães, Medicina da Santa Casa
A iniciativa do Cremesp é válida, mas antes dela deveriam proibir a abertura de novas escolas médicas e melhorar as que já existem. Quanto à prova, foi bem elaborada, bem dividida entre as especialidades. Gostei da experiência.
Alexandre Grinberg, Unifesp/EPM
Achei que foi uma prova difícil, mas bem feita. Espero que a experiência dê certo. É preciso ver como será a prova prática, mas sou a favor da iniciativa. A tentativa é válida, mas não dá para saber só com a prova teórica, que avalia apenas parte dos conhecimentos, não avalia a habilidade do futuro médico.
Péricles Tey Otami, FMUSP
Esta primeira prova foi adequada, pois trouxe o conteúdo teórico mínimo com o qual tivemos contato durante o curso. Mas é a prova prática que vai avaliar melhor a aptidão. Hoje, no sexto ano, já participei de vários partos normais, por exemplo. Avalio que tive bom ensino prático. Mas sei que nem todas as escolas dão essa oportunidade. Há alunos que se diplomam sem saber colher sangue, aplicar uma injeção. Mas só essa prova do Cremesp não basta. Impedir a abertura de novas escolas e avaliar sempre as que já existem é o melhor caminho.
Lívia Ksyvickis, Medicina do ABC
A prova abrangeu todos os temas que tivemos contato durante os seis anos de curso. Sou favorável a essa avaliação, no sentido de medir se temos a habilitação necessária para exercer a Medicina. Não é porque outras categorias profissionais, como a dos advogados, têm uma prova de habilitação que não está sendo bem utilizada que a categoria médica não deve se organizar para fazer um exame de habilitação correto. Mas uma prova apenas não é suficiente. Passou da hora de haver uma reestruturação global no ensino médico.
Nélson Madeira, Medicina de Sorocaba
Não tenho claro qual é a validade desta prova, mas em relação ao conteúdo foi boa. Esse não é o método correto de se avaliar os estudantes, pode acabar ficando parecido com o exame da OAB, que não aprova ninguém e, mesmo assim, cada vez mais são abertas faculdades de Direito. Deveriam se esforçar mais para evitar a abertura de novas escolas médicas e, não avaliar os alunos no último ano. O problema está no alicerce, na raiz, não no resultado, que é o aluno.
Olívia Capela G. de Oliveira, Medicina de Santo Amaro
A prova foi extensa, tinha muitas questões, mas não foi muito difícil. Estava normal. Acho que não representaria um obstáculo para um estudante que estuda bastante durante a graduação. Estou estudando para a Residência Médica e fiz essa prova também como um simulado, para treinar.
Liliana Ducatti, Medicina do ABC
A prova foi bem feita, foi fácil. Não sei se será capaz de medir bem a diferença entre os alunos. Talvez pudesse ser mais rigorosa. Não sou a favor da prova pontual, não acho que esse seja o meio mais adequado de avaliar as faculdades de Medicina. Mesmo assim, vim fazer e achei que foi boa.
Felipe Lauand, USP de Ribeirão Preto
A prova foi boa e deu para medir o conhecimento dos alunos. Essa questão de realizar o exame após o fim do curso ou no último ano ainda merece ser muito mais debatida pelo Cremesp com as escolas. Mas, sem dúvida, é uma boa iniciativa do Conselho.
João Paulo Graciano, Unaerp
As questões estavam bem claras, tratando de casos clínicos corriqueiros das especialidades, não foi uma prova de “pegadinhas”, mas de conteúdo. Acho que foi uma boa avaliação para o médico generalista.
Ana Carolina C. Redondo, Universidade de Mogi
Se as faculdades de Medicina e o Ministério da Educação fizessem cada um a sua parte, de avaliar toda a evolução do aprendizado desde o primeiro ano, não seria necessária essa prova. Já tivemos a Cinaem. A própria escola fez avaliação no fim do primeiro ano e nunca mais repetiu. Também participamos do Enade, do MEC. Esta prova do CRM foi bem elaborada, com todas as disciplinas da clínica básica. Apóio este exame, mas o vejo como mais um. Espero que contribua para a melhoria do ensino.
Priscila Alves Pinto, Barão de Mauá
Caiu de tudo um pouco na prova. Foi de nível médio, nem difícil, nem fácil. Eu achei muito extensa, muito cansativa, mas com certeza vai ser suficiente para avaliar a qualidade do ensino, pelo menos os conhecimentos gerais das especialidades básicas.
Ahmed Mourad, Universidade Lusíadas
A prova trouxe questões básicas. Foi bem feita e serviu também como treinamento para quem vai prestar Residência Médica. Quem vai trabalhar em um pronto-socorro, por exemplo, tem que saber tudo o que foi perguntado nesta prova. Na condição de teste experimental, essa iniciativa do Cremesp é válida, mas jamais pode ser condicionante para exercer a Medicina. Quem paga caro por uma faculdade durante seis anos, ao final quer receber o diploma. Se o ensino foi ruim a culpa é da escola, das autoridades de Educação e não do aluno.
Andrei Albuquerque, FMUSP
Algumas perguntas achei que não foram muito inteligentes, mas isso acontece em quase toda prova. No geral, o conteúdo estava bom. Quanto ao objetivo, não concordo que uma prova apenas seja uma forma eficiente de avaliar o ensino. Fiz a prova muito mais como treino e muito menos pelo fato de concordar com esse método. Acho que a prova pode até existir, mas o problema maior é a criação de novas vagas e novos cursos, sem nem mesmo haver o controle das já existentes. Isso, sem dúvida, é o fundamental.
Roberto de Oliveira Beck, Universidade São Francisco
Foi uma prova bem elaborada, contemplou todas as cadeiras básicas que tivemos na faculdade. Não concordo com apenas uma prova no final do curso de Medicina, que deve ser avaliado durante os seus seis anos. Mas alguma coisa nova tem que ser feita para melhorar o ensino e impedir a abertura de novas escolas.
Mídia realizou ampla cobertura
A avaliação do Cremesp teve ampla cobertura da imprensa escrita e das emissoras de rádio e TV. Nos dias que antecederam a prova, jornais de grande circulação como a “Folha de S. Paulo”, “O Estado de S. Paulo”, “Jornal da Tarde” e “Diário de São Paulo” noticiaram o exame. No dia da avaliação, as equipes do Jornal do SBT, Rede Globo São Paulo e afiliada de Ribeirão Preto e TV Cultura cobriram a realização do exame. Nos meses que precederam a realização da prova, diversas manifestações já haviam ressaltado a importância da avaliação, a exemplo de editorial do jornal “Folha de S. Paulo”, de 18 junho, que elogiou não só o exame em si, mas também a disposição do Cremesp de visitar as escolas para debater o assunto com alunos e docentes.
O Cremesp irá agora realizar pesquisa de opinião, por meio do instituto Datafolha, para avaliar a aceitação do exame por parte dos estudantes de Medicina, da população, dos formadores de opinião e dos médicos em atividade.