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O desrespeito à classe médica homeopática


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Edição 202 - 06/2004

CONJUNTURA

O desrespeito à classe médica homeopática


O Fantástico desrespeito à classe médica homeopática
Marcus Zulian Teixeira*

O programa Fantástico, da Rede Globo, apresentou, durante o mês de maio, uma série de quatro matérias em que a homeopatia foi tratada de forma superficial, preconceituosa, parcial e sensacionalista, sendo notória a tentativa de desqualificá-la como especialidade médica, associando sua prática terapêutica à sugestão ou à crendice, de maneira a suscitar dúvidas no grande público quanto à sua eficácia.

Privando-se da missão informativa, educativa e ética do ideal jornalístico, a edição do programa selecionou frases soltas de longas entrevistas de colegas homeopatas – as quais buscaram explicar os pressupostos clínicos e científicos do modelo homeopático, distintos do paradigma convencional –, incutindo nos expectadores uma visão enviesada do conteúdo transmitido.

Essa iniciativa “anti-homeopatia” se utiliza, como propaganda, de um vídeo patrocinado por um grupo de interesses escusos, centrado no desafio milionário de um mágico cético e realizado pela BBC de Londres, que vem percorrendo vários países nos últimos anos. Ao observar a série, ficamos questionando o porquê de semelhante investida contra uma prática médica que se sustenta há mais de duzentos anos sem qualquer respaldo institucional. A homeopatia vem contribuindo com uma abordagem holística e individualizante, no entender e tratar o adoecimento humano, favorecendo a relação médico-paciente, minimizando o sofrimento de milhares de pessoas portadoras de inúmeras doenças crônicas, com baixo custo e um mínimo de efeitos adversos.

Juntamente com a acupuntura, a homeopatia vem assumindo, nas últimas décadas, uma postura pioneira perante as demais práticas não-convencionais de saúde, trabalhando para conquistar seu espaço junto aos sistemas de saúde estrangeiros e brasileiro. Desde 1980 é reconhecida como especialidade médica, sendo incorporada ao SUS desde 1985 e reembolsada pelas empresas de medicina de grupo. Também é oferecida como disciplina eletiva em faculdades de Medicina, desenvolvendo pesquisas nas áreas básica e clínica, apesar das dificuldades que encontra em ser aceita e se fazer entender perante a classe médica, desconhecedora de seus princípios. Segundo a pesquisa “Perfil dos Médicos no Brasil”, de 1996, realizada pelo convênio Fiocruz-CFM, a homeopatia, como principal especialidade de atuação, tinha o 16° maior contingente de profissionais entre as 61 especialidades analisadas na época, contando com mais de 15.000 médicos praticantes.

Pesquisas sociais como as apresentadas no New England Journal of Medicine, em 1993, e Journal of  American Medical Associantion, em 1998,  têm evidenciado o enorme interesse da população mundial por terapêuticas não-usuais, que mobilizam bilhões de dólares anualmente, em busca de uma melhor relação médico-paciente, por meio de tratamentos que englobem a pessoa em sua totalidade e sejam isentos dos efeitos adversos das drogas clássicas. A reação do público ao programa demonstra a aprovação popular ao tratamento homeopático: foram centenas de telefonemas e e-mails indignados endereçados aos diversos Conselhos Regionais de Medicina do país, solicitando uma ação desses órgãos em defesa da homeopatia. Com o aumento da procura da população por “práticas não-convencionais em saúde”, a classe médica está começando a sentir a necessidade de suprir essa demanda, desviada em outros países para os terapeutas práticos não-médicos.

Pesquisas mundiais vêm mostrando o interesse crescente dos médicos pelo aprendizado dessas terapêuticas ortodoxas. No aspecto econômico, os trabalhos recentes vêm despertando insatisfação na indústria farmacêutica, pois  evidencia o baixo custo do medicamento e do tratamento homeopáticos, enfatizando a eficiência e a efetividade do método perante os tratamentos convencionais e contabilizando as perdas financeiras que a mudança de conduta dos usuários pode infringir às mesmas.

Apesar do reduzido número de pesquisas em homeopatia, quando comparado à produção científica convencional, que dispõe de fontes de financiamento vultosas, a quantidade e a qualidade dos trabalhos homeopáticos vêm aumentando, despertando o interesse de pesquisadores isentos de preconceitos, que buscam respostas às evidências da clínica homeopática bi-secular.

Dando preferência às chamadas fantásticas que o “desafio” de um mágico oferecendo um milhão de dólares traria à audiência do programa, o editor deixou de citar as evidências científicas existentes no campo das pesquisas básica e clínica –  às quais ele teve acesso por diversas fontes, mas foram excluídas na edição do programa. 

Infelizmente, esse tipo de matéria jornalística sensacionalista distorce o verdadeiro intuito da homeopatia brasileira, que se esforça por cumprir seu papel junto à sociedade e às demais especialidades médicas, por meio de uma terapêutica que visa ampliar a mais elevada e única missão do médico, que é tornar saudáveis as pessoas doentes, o que se chama curar.

* Pesquisador do Departamento de Clínica Médica do HC-FMUSP e membro da Comissão Científica da Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB).

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Diagnóstico & Tratamento, 2004; 9(3), Teixeira MZ. “Panorama da pesquisa em homeopatia: iniciativas, dificuldades e propostas”. Disponível, futuramente, no site: www.apm.org.br


Foto: Osmar Bustos

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