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Exame de Qualificação para recém-formados


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Edição 200 - 04/2004

PLENÁRIA TEMÁTICA

Exame de Qualificação para recém-formados


Cremesp discute possibilidade de exame de qualificação para recém-formados


O Cremesp promoveu, no dia 16 de abril, Plenária Temática para debater proposta de instituição de exame de qualificação dos médicos recém-formados, com a presença de representantes de entidades médicas, diretores de faculdades, diretores de serviços, membros de comissões de ética médica e estudantes de Medicina.

Em que pese a divergência de opiniões, houve consenso de que alguma medida inovadora precisa ser tomada no sentido de melhorar a qualidade dos médicos formados.

O representante da Academia de Medicina de São Paulo, José Roberto Baratella,  disse que sua entidade é favorável ao exame de qualificação para os médicos pois é um mecanismo que irá incentivar a melhoria da formação. Para o presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo, Erivalder Guimarães de Oliveira, "trata-se de uma discussão polêmica e, por isso,   é essencial a exposição  das  posições divergentes; após promover o debate democrático, podemos construir uma proposta alternativa. Todos concordamos que as falhas na formação do médico precisam ser corrigidas." O representante do Conselho Federal de Medicina, Marco Antônio Becker, posicionou-se a favor do exame de qualificação: "a sociedade tem o direito de saber o nível da qualidade daqueles que vão tratar de suas vidas. Tivemos experiências excelentes, como a Cinaem-Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino Médico -mas é hora de darmos um passo à frente".

Ao expor uma avaliação da legislação vigente, o presidente do Cremesp, Clóvis Francisco Constantino, falou do papel e das atribuições dos CRMs, enfatizando que "é imperativo agirmos onde nos for possível, mas é necessário, antes de qualquer deliberação, um amplo debate nacional sobre a pertinência e as implicações do exame. Um novo caminho precisa ser trilhado, que seja capaz de fortalecer a formação médica de qualidade e oferecer à sociedade  profissionais mais capacitados".

Opinião dos palestrantes

Maria do Patrocínio Tenório Nunes, conselheira do Cremesp
"Não podemos perder de vista que existem hoje interesses econômicos e políticos no aumento do número de vagas das Faculdades de Medicina, sem nenhuma preocupação com a qualidade. A avaliação, quando ocorrer, precisa contemplar não só os conhecimentos, mas as habilidades e atitudes do médico. Os Conselhos de Medicina devem se envolver mais diretamente na avaliação dos médicos, além de cumprir suas funções de regulação e fiscalização, sob o risco de serem reduzidos a instâncias burocráticas e cartoriais. A Comissão de Pesquisa e Ensino Médico do Cremesp está empenhada em aprofundar essa discussão".

Valéria Vernaschi Lima, professora da Faculdade de Medicina de Marília
"Caso seja realizado o exame de qualificação, defendo mudanças nos paradigmas da certificação profissional. As referências devem ser coletivas e devem priorizar a avaliação da competência, que reconhece e torna públicos os atributos adquiridos com a aprendizagem. Os processos tradicionais de avaliação focalizam apenas conhecimentos cognitivos e saberes acadêmicos. Já existem experiências bem sucedidas de currículos orientados por competência, a exemplo da Faculdade de Medicina de Marília e da Residência Médica do Hospital Municipal Mário Gatti, de Campinas".

Raquel Doria Ramos, estudante da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e representante da Direção Executiva Nacional de Estudantes de Medicina (Denem)
"A avaliação do recém-formado  não é somente mais uma prova, ela muda todo o processo de formação, que passará a ser voltado para esse exame de qualificação. Um médico não pode ser avaliado apenas no papel, no final do curso; a avaliação tem que ser gradual, durante todo o curso. E a sociedade não pode ser enganada, o exame não pode ser apresentado como única solução. A Denem não tem opinião fechada sobre o tema e queremos ser parceiros nessa discussão."

Marcos Kawasaki, estudante da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e presidente do Departamento Acadêmico da Associação Paulista de Medicina.
"Esse debate não pode estar dissociado da discussão sobre a qualidade do ensino, a abertura de novas escolas e a Residência Médica. Antes de alguém entrar em uma escola, precisa ter informações sobre a real qualidade da Medicina que vai cursar. Quem cursa uma boa escola não tem que temer um exame de qualificação, e não teme prova de acreditação da especialidade. Mas é importante definir o formato da avaliação,  que não pode ser só cognitiva. E fica no ar a pergunta: o que fazer com o médico que não passa no exame?"

Bráulio Luna Filho,  vice-presidente do Cremesp
"Quem entra na escola médica no Brasil sempre consegue sair, mesmo com falhas graves na formação. Precisamos desenvolver e incentivar  a cultura da avaliação permanente. As pessoas precisam estar acostumadas a serem avaliadas, como caminho natural de um processo que teve início na aprendizagem. A Medicina e a Ciência não são especulativas, são um trabalho a fazer, uma busca constante de novos conhecimentos e saberes".

Milton de Arruda Martins, professor da Faculdade de Medicina da USP
"Essa  é uma discussão delicada que pode ser devastadora para o ensino médico, como o vestibular foi para o ensino médio. Quem defende o exame refere-se à experiência internacional, uma vez que poucos países não o realizam; a responsabilidade individual, do aluno, que deve ser maior que da escola; a frustração diante das iniciativas de tentar barrar a abertura de novos cursos com qualidade duvidosa, dentre outros fatores. Já as posições contrárias são baseadas no fato de  que as escolas é que não poderiam dar diplomas para quem não é competente; não deveriam ser abertos cursos sem qualidade; haveria proliferação da indústria de cursinhos, e  surgiriam problemas com os internatos pós-diploma e os bacharéis de Medicina reprovados nos exames. A sociedade, a mídia, os legisladores e osm gestores seriam favoráveis ao exame de qualificação; já os professores e entidades médicas teriam opinião dividida; e, certamente, os estudantes seriam contrários. Concluo que o médico que queremos avaliar tem que ser o mesmo médico que queremos formar" .


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